Situada na Planície de Guanzhong, no centro do país, a cidade de Xi’an, antiga Chang’an, é hoje a capital da Província de Shaanxi.
Na linha de frente das cidades chinesas históricas mais famosas, Xi’an ostenta seis locais que ganharam a condição de Patrimônio da Humanidade da Unesco – o Mausoléu do Primeiro Imperador Qin e os Guerreiros de Terracota, o Pagode do Grande Ganso Selvagem, o Pagode do Pequeno Ganso Selvagem, os Palácios Daming e Weiyang das dinastias Tang e Han respectivamente, e o Pagode do Templo Xingjiao.
Berço da história e da cultura chinesas, Xi’an e seus arredores testemunharam os primórdios da civilização chinesa. Ela foi capital e centro político, econômico e cultural da China por mais de 1.100 anos e, portanto, reflete toda a riqueza da história chinesa em um microcosmo. Uma viagem a Xi’an permite que os visitantes entrem em estreito contato com a longa história da China e sua riqueza cultural.
A história de Xi’an
As ruínas da cidade desencavadas na vila de Yangguanzhai, Condado de Gaoling, em Xi’an, são as mais antigas já descobertas na China, e indicam que Xi’an tem 6 mil anos de história, remontando ao final do período Neolítico.
No século XI a.C., conforme foi crescendo, o Estado de Zhou deu origem a duas pequenas cidades – Fengjing, centro religioso e cultural, e Haojing, a sede do governo –, que juntas ficaram conhecidas como Fenghao. Essas duas cidades ficavam no meio da atual Xi’an, e foram fundamentais na construção inicial da cidade. Depois que Zhou anexou Shang e fundou uma nova dinastia, Feng-hao foi proclamada sua capital, um evento que marcou a fundação de Xi’an como capital de vários regimes ao longo da história. Pelos milênios seguintes, Xi’an foi um centro político, econômico e cultural da China com um status histórico único.
O século III a.C. viu surgir a Dinastia Qin, primeiro estado unificado, multiétnico e centralizado, com sua capital Xianyang, hoje uma cidade em nível de prefeitura, vizinha de Xi’an. A parte principal do Palácio Epang, o complexo palaciano do primeiro imperador da Dinastia Qin, fica na atual cidade de Xi’an. Segundo revelam os achados arqueológicos, o Palácio Epang tinha uma escala grandiosa: cobria uma área de cerca de 15 quilômetros quadrados, superando na comparação a Cidade Proibida de Pequim, que se estende por apenas 720 metros quadrados. Embora se diga que mais de 100 mil pessoas por dia trabalharam na construção do Palácio Epang, ele ainda não havia sido concluído na época em que a Dinastia Qin caiu.
Em 202 a.C., Liu Bang assumiu o poder e fundou a Dinastia Han. Ele instalou sua capital em Chang’an (atual Xi’an), nome que significa “Paz Perpétua” em chinês. Ele reformou os palácios Xingle e Zhangtai da Dinastia Qin e renomeou-os como Palácios Changle e Weiyang, respectivamente. A cidade de Chang’an cobria uma área de cerca de 36 quilômetros quadrados. Durante a Dinastia Han Ocidental (206 a.C.-24), ela foi o centro político, econômico e cultural do país. Foi a primeira cidade da história da China a se caracterizar pelo grande porte e numerosa população. Os palácios construídos durante a Dinastia Han situam-se todos em uma zona protegida na atual Xi’an. Os mausoléus do Imperador Wendi, do Imperador Wudi e do Imperador Jingdi da Dinastia Han ficam na atual cidade de Xianyang. Depois que a Rota da Seda foi estabelecida, as estações finais da estrada eram consideradas Roma no Ocidente e Chang’an no Oriente.
Em 581, Yang Jian fundou a Dinastia Sui (581-618) e instalou a capital em Chang’an. No entanto, Chang’an havia ficado em ruínas devido aos seguidos anos de guerra. Portanto, Yang decidiu construir uma nova capital; esta acabou se tornando Daxing, a sudeste do local onde ficava a Chang’an da Dinastia Han.
Após a fundação da Dinastia Tang (618-907), Daxing foi renomeada como Chang’an e depois expandida. Em 634, o Palácio Daming foi construído a nordeste do muro externo original da cidade. Nos anos seguintes, foram erguidos novos muros, torres de portões e o Palácio Xingqing. Por volta de 654, a cidade de Chang’an havia se expandido para 84,1 quilômetros quadrados e ganhara um formato rigorosamente simétrico. Ela ficou dividida em três partes: a Cidade Palácio, a Cidade Imperial e a Cidade Exterior. A Cidade Palácio cobria exatamente a mesma área da atual cidade de Xi’an. A China viveu grande prosperidade durante a Dinastia Tang. A cidade de Chang’an desse período era a mais magnífica capital da China de todo o período feudal. Ela exerceu uma influência que marcou época na história da arquitetura e da urbanização da China.
No século X o feudalismo começou a definhar na China. O centro do país gradualmente começou a se deslocar do oeste para as regiões central e leste. Em 1369, o nome “Xi’an” foi adotado pela Dinastia Ming, e tem sido usado desde então.
Lar de imperadores
Ao longo da história, 13 dinastias instalaram suas capitais em Xi’an, e é esta a razão evidente pela qual a cidade ostenta uma cultura tão rica e tantas relíquias de palácios e mausoléus. As pessoas hoje deleitam-se em repetir as histórias e anedotas sobre os imperadores e famílias imperiais que viviam nessa terra.
Qin Shi Huang (259-210 a.C.), ou Primeiro Imperador Qin, foi o primeiro imperador da China. Ele sucedeu seu pai e se tornou o rei de Qin aos 13 anos de idade, e aos 39 já havia estabelecido o primeiro estado centralizado, unificado e multiétnico da história chinesa. Ele unificou a linguagem escrita, a moeda e os pesos e medidas. Estabeleceu um modo de governar segundo o qual o imperador exercia poder supremo – uma instituição que foi mantida, na China, pelos dois mil anos seguintes. Autodenominado Primeiro Imperador de Qin, estipulou que seus sucessores deveriam continuar a usar o título, como Imperador Qin II, Imperador Qin III e assim sucessivamente.
Durante seu reinado, Qin Shi Huang decretou que as obras de defesa de estados anteriores fossem interconectadas para formar um único muro, consolidando as defesas de fronteira do regime, em um ato que marcou a origem da Grande Muralha da China. A Grande Muralha de Qin começou no Condado de Minxian, Província de Gansu, no oeste, e se estendeu para leste ao longo da atual Região Autônoma da Etnia Hui de Ningxia, Província de Shaanxi, Região Autônoma da Mongólia Interior, Província de Hebei e Província de Liaoning, para terminar no estuário do rio Chongchon a noroeste da atual Pyongyang, na Coreia do Norte. A Grande Muralha é considerada uma das sete maravilhas arquitetônicas do mundo.
Wu Zetian (624-705) foi a única imperatriz da China. Nascida em família nobre, foi escolhida aos 14 anos de idade como concubina do Imperador Taizong da Dinastia Tang. Após a morte de Taizong, ela desposou o sucessor dele – Imperador Gaozong – e se tornou sua imperatriz. Ela se destacou por ajudar Gaozong e depois os dois filhos dele a lidar com os negócios de Estado durante 30 anos, e acabou coroando a si mesma imperatriz aos 67. Assim, governou o país, de modo não oficial e oficial, por quase meio século.
Levando em conta a tradicional sociedade chinesa, onde as mulheres são consideradas inferiores aos homens, Wu Zetian foi alvo tanto de elogios quanto de críticas da posteridade. Sobreviveu pouco material escrito a respeito de seus 12 anos de serviço como concubina de Taizong, e tampouco temos um registro do nome que lhe foi dado. Mas é indiscutível que era excepcionalmente capaz e sabia aproveitar as oportunidades. O Imperador Gaozong deu-lhe muito amor e apoio. Eles partilhavam visões similares sobre política, portanto Gaozong estipulou em seu testamento que sua imperatriz deveria ter a palavra final em assuntos fundamentais do Estado após a morte dele.
Depois que Wu Zetian morreu, ela e Gaozong foram enterrados juntos no Mausoléu Qianling, diante do qual há duas estelas – uma para o marido, com a inscrição feita por Wu Zetian, e outra para a esposa, mas esta desprovida de quaisquer caracteres. Não se sabe até hoje por que a placa não tem nada escrito, embora algumas evidências sugiram que a estela foi deixada em branco a pedido da própria Wu Zetian.
Em 712, sétimo ano da morte de Wu, o Imperador Xuanzong (685-762) da Dinastia Tang subiu ao trono, e inaugurou a Era Kaiyuan, durante a qual a China feudal alcançou seu ponto mais alto de cultura e poder. Nessa época, a cidade-capital de Chang’an tornou-se uma metrópole internacional e entreposto de vários intercâmbios. Seu estilo arquitetônico exerceu grande influência sobre o planejamento e a construção de capitais não apenas na China pelas dinastias seguintes, mas também na Coreia e no Japão. Heijo-ky e Heian-ky no Japão seguiram o modelo de Chang’an.
Uma retrospectiva da história do Imperador Xuanzong não pode deixar de lado sua amada consorte Yang Yuhuan (719-756). Gerações de poetas e homens de letras criaram várias obras clássicas baseadas na sua história de amor. Por exemplo, Bai Juyi, um famoso poeta Tang, conta a história deste amor em sua Canção da Tristeza Sem Fim.
No entanto, a eclosão da rebelião An Lushan levou Xuanzong e Yang a fugirem para Maweipo, cerca de 50 quilômetros ao norte da atual Xi’an. Forçado por soldados ultrajados, Li (nome de nascença de Xuanzong) não teve escolha a não ser ordenar a execução de Yang, levando sua história de amor a um final trágico. Ela foi uma precursora de Maria Antonieta: Li dedicava tanto tempo a Yang em um desfrute infindável que negligenciou os negócios de Estado, e a Dinastia Tang entrou em declínio. No entanto, seu amor verdadeiro e sincero comoveu muitas pessoas, e continuou como um tópico sempre atual de conversação entre as gerações que se seguiram.
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