A Proteção dos Direitos Humanos na China: Uma Experiência Pessoal

Diogo Teixeira

Sinólogo brasileiro, tradutor e revisor de português

Estou entre os poucos brasileiros que são tradutores profissionais de chinês, uma façanha que se deve a 20 anos de estudos intensivos, dos quais dez anos foram na China. Durante a melhor das minhas quatro décadas e meia de vida, morei em Beijing, onde trabalhei como editor de texto da Agência de Notícias Xinhua.

Mesmo não mais morando em Beijing neste momento, sou o brasileiro que há mais tempo trabalha para a Xinhua. Escrevo no presente porque por motivo humanitário me foi dada a possibilidade que manter minhas atividades desde o Rio de Janeiro, onde moram os meus pais, ambos ficaram doentes quando eu estava prestes a tirar meu 11º visto de trabalho. Em vez dele, às pressas pedi e recebi o visto humanitário, pois meu voo de volta ao Brasil foi cancelado e o visto vencia exatamente no dia da viagem.

Vejam que em um breve relato sobre minha vida na China usei a palavra “humanitário” duas vezes. Por isso, quando recebi o convite para traduzir e revisar este livro sobre direitos humanos na China, honestamente tive a certeza de que era a pessoa certa para fazê-lo. Estrangeiro e sozinho, tive meus direitos humanos respeitados do primeiro até o último dia em que morei na China. (Em uma amostra do quão humanos são os chineses, ao chegar em 2013 fui recebido no aeroporto por um colega do trabalho. Uma década depois, sabe quem me levou ao terminal? O dono do apartamento que aluguei durante esses dez anos. Ele virou meu pai chinês.)

A segurança pessoal é um direito humano que a China garante com excelência. O presidente Xi Jinping fez a seguinte declaração em 20 de fevereiro de 2021, durante a Reunião de Mobilização para o Estudo da História do Partido: “Nosso país é reconhecido como um dos países que dão maior senso de segurança no mundo”. O senso de segurança que as pessoas têm ao andar nas ruas de qualquer cidade chinesa é de fato espetacular. A qualquer hora do dia e da noite. Falo do alto de quem já esteve em dezenas de países do mundo, na maioria das vezes sozinho. Como é bom poder caminhas pelas ruas sem medo de qualquer tipo de violência. O senso de segurança que o presidente Xi aborda nesta fala é real e torna a vida na China de fato muito agradável. Como é bom andar na rua sem medo de assaltos!

Como católico praticante que morou dez anos na China, não posso deixar de falar sobre religião, e para isso faço referência a uma declaração que o presidente Xi Jinping fez em encontro com o então presidente dos EUA, Barack Obama, em 2016: “A China atribui grande importância à proteção e promoção dos direitos humanos e garante a liberdade de crença religiosa aos seus cidadãos de acordo com a lei.” Garante não só aos seus cidadãos, como a todos os estrangeiros na China: nos dez anos que morei em Beijing, ia todos os domingos à igreja católica, e quando minha mãe me visitava ela ia todos os dias, pois adorava a sessão em latim, a qual no Brasil, maior país católico do mundo, eu nunca tinha visto. A maioria das pessoas nas missas católicas era de chineses. Até na típica lojinha de produtos religiosos a igreja é igual às do Brasil e outros países católicos que já visitei. Não houve nenhuma adaptação imposta para que ela existisse ali. E, para terminar, um detalhe: a igreja era ao lado do meu trabalho.

A China manteve o espírito da Carta da ONU e da Declaração Universal dos Direitos Humanos.” Ele fez essa declaração em 25 de outubro de 2021, em um discurso pelos 50 anos da restauração do assento legítimo da República Popular da China na ONU. Ao ler essa parte, logo me lembrei de uma notícia ocorrida dois anos depois que engloba China, ONU e direitos humanos, corroborando assim a fala do presidente. Em 10 de outubro de 2023, a China garantiu seu sexto mandato como membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU, tornando-se um dos mais frequentemente eleitos no conselho. Antes, o país tinha ocupado um assento como membro do Conselho de Direitos Humanos em 2006-2012 (reeleita em 2009), 2014-2016, 2017-2019 e 2021-2023.

Nestes tempos de temperaturas cada vez mais escaldantes, o meio ambiente é, com razão, um dos assuntos mais abordados nesta obra. Por isso, vou destacar a seguinte passagem de um discurso que o presidente Xi Jinping fez em 21 de dezembro de 2016: “Quais são as questões que mais preocupam o nosso povo? Ele quer saber se seus alimentos são seguros, se o aquecimento é quente, se a poluição do ar é reduzida, se os lagos e rios são limpos, se a incineração de resíduos não prejudica a sua saúde, se os serviços para idosos são satisfatórios, e se o aluguel e o preço das casas são acessíveis.” Do alto de quem é estrangeiro, chegou a Beijing totalmente sozinho e em dois dias alugou um apartamento sem a ajuda de ninguém, ficando nele por dez anos exatos, afirmo com todas as letras que o aluguel na China é muito acessível, mas muito mesmo, tanto no valor quanto nos trâmites. Primeiramente, em algumas grandes cidades do mundo, um estrangeiro alugar um apartamento é algo impossível. Mesmo para locais, já é um pesadelo. Aluguei um apartamento na zona financeira de Beijing sem a menor burocracia, e com um detalhe: aceitaram o pagamento prévio de apenas dois meses, pois eu não tinha os quatro que costumam exigir. O valor que eu pagava por um apartamento mobiliado e em um dos melhores pontos de Beijing é o que se paga em cubículos desumanos em cidades europeias. Sabem como entrei em contato com o dono? Por e-mail, pois o anúncio estava em um site. Mal havia internet móvel naquela época. Detalhe: dez anos depois, esse homem que respondeu ao meu e-mail me levava para o aeroporto com minhas cinco malas pesadas. E outro tópico desse discurso também me chamou a atenção: a poluição do ar. Sim, ela caiu consideravelmente nos dez anos em que morei em Beijing. É uma outra cidade, e os números de PM 2.5 não me deixam mentir.

A subsistência e o desenvolvimento são direitos humanos muito respeitados na China, e como estrangeiro nascido em outro país em desenvolvimento posso falar sobre o assunto com propriedade. Depois de morar dez anos na China, voltei ao Brasil, mas antes fiquei quase um mês em um país africano, pois o avião fazia uma escala lá e resolvi aproveitar. Na capital, no caminho para o hotel, vi o que tinha esquecido que existia: mendigos, miséria. Todas as vezes que o carro parava no semáforo, uma criança se aproxima e pedia dinheiro, apontando para a própria boca. Era de doer o coração. Eu tinha me desacostumado a ver isso, pois no Brasil existe muito, mas não ia havia cinco anos. Morei em Beijing por dez anos, circulava por ela inteira, e fui a várias outras cidades. Nunca vi um mendigo na China. A minha passagem pela África e minha volta ao Brasil me permitiram ver melhor as maravilhas que o trabalho de eliminação da pobreza na China fez e faz. Naquele país africano fui também para o interior, onde só havia energia elétrica duas horas por dia. Algo interessante é que, mesmo de máscara e óculos escuros, todos me perguntavam na rua se eu era chinês, devido às muitas construções de que estão sendo feitas por empresas chinesas naquele país.

Seguindo esse assunto, vários discursos do presidente Xi Jinping incluídos nesta obra fazem referência à eliminação da pobreza e à divisão dos frutos do desenvolvimento. Todas as palavras do presidente Xi, principalmente as que narram os feitos da China nesse sentido, fazem muito sentido para mim. Naquele país africano, a tristeza das pessoas me chamava muito a atenção. Por isso, destaco aqui uma frase que o presidente Xi disse em um discurso em 25 de fevereiro de 2021: “O combate à pobreza trouxe resultados tanto materiais quanto mentais. As pessoas que deixaram a pobreza retomaram agora o ânimo para continuar a avançar.

Não poderia deixar de falar de uma das maiores heranças que a minha vivência na China me deu: o costume de praticar esportes. Em 2016, o presidente Xi Jinping fez um discurso sobre esportes que parece estar descrevendo a minha vida na China: “Esporte tem um papel extremamente importante em melhorar a saúde e a aptidão física do povo, promover o desenvolvimento integral humano, enriquecer a vida intelectual e cultural e incentivá-lo a superar suas limitações e buscar a excelência.” Quem nunca morou na China não pode imaginar o quanto se faz exercício físico no país. Além das academias tradicionais, que são muitas e estão sempre cheias, a China tem um tipo bem peculiar de academia, que oferece apenas aulas em grupos, pagas só quando o aluno vai. As primeiras unidades abriram em Beijing, quando eu morava lá. Uma rede começou com quatro unidades, e outra, com apenas uma. Ambas liberavam as vendas para a semana seguinte às 22 horas de sexta-feira: todas as aulas lotavam em segundos. E que delícia era a convivência com as pessoas! No fim das aulas, sempre fazíamos uma foto de grupo. Então, de fato, há o desenvolvimento integral humano do qual o presidente fala. Hoje, as duas redes que citei acima têm dezenas de unidades cada. Em uma delas, tive um professor inglês, o Guy. Virou o meu melhor amigo, e nos falamos quase todos os dias. Obrigado, China, por esse e por outros encontros!

Por fim, encerro este trabalho com uma declaração que o presidente Xi fez em 2015 no Dia do Trabalho: “Devemos proteger os direitos e interesses básicos dos empregados de acordo com a lei, melhorar os mecanismos de coordenação  das relações laborais e abordar pronta e adequadamente as contradições e os litígios nestas  relações.” Durante os exatos dez anos em que morei e trabalhei na China, nunca recebi salário com atraso. Nunca. Sempre caía no dia 28 religiosamente. Se trabalhasse a mais, no dia seguinte já compensava. Renovava o visto e o contrato todos os anos, então se eu ficava era porque respeitavam os meus direitos. A China é de fato impecável nos direitos dos trabalhadores, e até restituição no imposto de renda, eu, como estrangeiro, recebia. Até a dedução para a previdência os estrangeiros recebem quando voltam para casa, já que não se aposentarão na China.

 

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