Por Daniela Matta
Na fachada de um palacete centenário no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, ideogramas sinalizam que aquele é um local de encontro. O encontro de culturas que formam a base da Escola Chinesa Internacional (ECI), primeiro colégio do país oriental no exterior. Recém-inaugurada, a unidade, que conta com a permissão e o apoio do Consulado Geral da China no estado, deve iniciar o ano com mais de 50 alunos e tem a meta de alcançar quase 500 matrículas.
O objetivo da instituição é proporcionar um ensino de referência internacional no Brasil, seguindo o modelo de educação básica da China. Uma educação de alta qualidade reconhecida em todo o mundo – afirma Yuan Aiping, diretora e fundadora da escola.
A unidade integra os currículos educacionais da China e do Brasil com disciplinas em três idiomas: mandarim, português e inglês. A maior parte do seu corpo docente é composta por educadores estrangeiros que ministram as aulas para crianças do berçário até o 6º ano do Ensino Fundamental e os livros didáticos são os mesmos usados pelas instituições de ensino da China. Para os próximos anos, os planos são de expansão para outras séries. Um presente de sucesso e um futuro de conquistas para uma proposta que começou há poucos anos como uma pequena cápsula em uma escola brasileira localizada na Barra da Tijuca. O desejo por uma instituição própria, no entanto, ganhou corpo nos últimos tempos.
O objetivo principal da direção da ECI é criar cidadãos do mundo e as ferramentas utilizadas são infinitas. De pequenos e coloridos blocos de madeira até os mais modernos equipamentos, presentes em todos os ambientes. Na porta de entrada dos 150 m2 que compõem o espaço dedicado à Educação Infantil, por exemplo, um pequeno robô chamado Avatar recepciona os alunos com idades entre 3 e 6 anos, reconhecendo-os pela voz e se dirigindo a cada um pelo nome.
Nesta etapa do currículo, com alicerces no Sistema Montessori, as crianças têm liberdade para escolher a disciplina a qual desejam se dedicar a cada dia. Existe o cantinho de matemática, o que traz informações sobre animais, o espaço que estimula diversos sentidos. Todos com materiais lúdicos que provocam a aprendizado de maneira natural e prazerosa. A sala pode ter, no máximo, 20 alunos que contam com a presença e o suporte de oito professores chineses, brasileiros e americanos.
Já os ambientes dedicados ao Ensino Fundamental são equipados com painéis de alta tecnologia com 86 pol da marca Huawei que “conversam” com os tablets que estão nas mãos de todos os alunos. Tamanha modernidade, no entanto, mantém convivência harmônica com as premissas seculares orientais.
Cada sala de aula traz, por exemplo, em suas paredes aspectos que remontam à tradicional cultura chinesa como um delicado painel feito de papel de arroz onde se lê em ideogramas: “Preparando você para o mundo”. Ensinamentos de Confúcio – filósofo e pensador chinês que viveu há mais de 2,5 mil anos – estão presentes em figuras de porcelana expostas na recepção, em pinturas na área de recreação dos alunos e em diversos outros espaços do edifício que foi totalmente recuperado.
A harmonia também está presente no currículo. Ao mesmo tempo que valoriza a aprendizagem de disciplinas tradicionais como matemática e ciências, destaques no sistema educacional chinês, o colégio oferece aulas eletivas de temas como ábaco, aritmética mental, treinamento para olimpíada de matemática, kung fu, caligrafia, sinologia e xadrez ocidental.
Os ensinamentos, no entanto, vão além. Uma das principais metas da instituição é cultivar em seus alunos características como a benevolência, a retidão, a cortesia, a sabedoria e a confiança. A proposta é que a educação da criança seja vista como um todo e que se formem ali, naquele espaço, bons seres humanos. Para que esse objetivo seja alcançado, seis habilidades são consideradas fundamentais: a autonomia; a força de vontade; a habilidade de pensar; a criatividade; a liderança e o respeito e boas maneiras.
A inauguração da escola é comemorada por chineses que vivem no Rio. A executiva Zhang Ran foi transferida para o Brasil em 2016 e buscava um local onde sua filha, hoje com 9 anos, pudesse cursar as disciplinas chinesas ao mesmo tempo que segue o currículo nacional.
– A proposta pedagógica, o campus internacional, os equipamentos tecnológicos utilizados e a equipe composta de professores nativos beneficiarão muito a minha filha. Percebo que a escola respeita a cultura chinesa e também colabora para o desenvolvimento do ensino brasileiro – afirma Zhang Ran.
O colégio recebe também a aprovação de pais brasileiros e de outras nacionalidades que celebram a oportunidade de oferecer um aprendizado internacional aos filhos. A administradora Danielle Gierling se apaixonou pela China em 2017 quando viajou a trabalho para o país. Assim que soube da abertura da escola, marcou na mesma hora uma visita e matriculou seu filho de 5 anos.
O grande diferencial para mim foi o ensino trilíngue, além da educação básica da China, uma das melhores do mundo, e o horário integral. Tenho plena certeza que encontrei a escola certa para o meu filho ser feliz e alcançar o sucesso – comemora.
Sucesso já conquistado pela própria China. No último Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), principal avaliação de qualidade da educação básica do mundo, estudantes chineses obtiveram a melhor classificação de desempenho. Eles lideram o ranking nas três áreas do conhecimento testadas: leitura, matemática e ciências. A prova é aplicada a cada triênio pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o último levantamento foi realizado em 2018, com estudantes de 15 anos de 79 países.
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