Guangzhou, capital da cultura cantonesa

Capital e maior cidade da Província de Guangdong, Guangzhou

Capital e maior cidade da Província de Guangdong, Guangzhou (ou Cantão, na versão romanizada do Ocidente) é, junto com Pequim e Xangai, uma das três metrópoles mais desenvolvidas da China. Ao longo dos seus 2,2 mil anos de história, a cidade se destacou como o centro político, militar, econômico e cultural do sul da China e centro da cultura cantonesa, que se desenvolveu na área abrangida por Guangzhou e pelo Delta do Rio das Pérolas (Zhu Jiang).

O legado cultural da civilização milenar da cidade manifesta-se em todos os aspectos da vida cotidiana, particularmente na cozinha, na arquitetura, no comércio e nos negócios, assim como no dialeto local, nas formas de etiqueta, na arte e nos frequentes festivais. Guangzhou está claramente à altura do seu alto prestígio, que decorre de suas inúmeras riquezas culturais.

Centro da cultura Lingnan

Localizadas ao sul das Montanhas Wuling, as províncias de Guangdong, Guangxi e Hainan são importantes núcleos da cultura Lingnan, que significa literalmente “ao sul das cadeias de montanhas”. Guangzhou é a cidade mais destacada em razão de suas características de forte impacto e de ampla influência. Sua  história remonta à Dinastia Qin (221-206 a.C.), inicialmente como Prefeitura Nanhai, Panyu e Área de Comando Guangzhou. Sempre foi um centro administrativo.

Já em 330 d.C. a cidade era o único porto de comércio estrangeiro da China e, por isso mesmo, um ponto importante da Rota Marítima da Seda. Devido à sua localização geográfica periférica, Guangzhou nunca foi palco dos grandes acontecimentos da história chinesa. No máximo, recebia refugiados das guerras e tumultos que eclodiam nas Planícies Centrais da China  que buscavam abrigo no sul. Esses recém-chegados fizeram ao longo do tempo ricas contribuições para as características peculiares de Guangzhou, um processo de fusão e evolução que tornou a cidade centro da cultura Lingnan.

Após a Primeira Guerra do Ópio (1840-1842), Guangzhou assumiu um papel de protagonista dos intercâmbios da China com diversos países do Ocidente. A cultura singular da cidade, caracterizada por uma visão global e vocação comercial, também é resultado da sua condição de ponto de contato Oriente e Ocidente. Sua consequente abertura, pragmatismo e inclusividade são aspectos que tornam Guangzhou tão peculiar.

Essa maior comunicação e mescla fez com que a cultura Lingnan ocupasse um papel central na moderna política e ideologia chinesa, contribuindo também para o desenvolvimento revolucionário e cultural do país.

Guangzhou é o berço da indústria nacional da China. A moderna indústria militar do país e a construção civil, estabelecidas durante o Movimento de Ocidentalização na metade final do século XIX, espalharam-se por todas as áreas costeiras do sudeste da China. A Guangzhou Machine Bureau foi a primeira empresa ocidentalizada da Província de Guangdong.

A cidade também ofereceu importante contribuição para a moderna política democrática da China. O destacado pensador e reformador político Kang Youwei (1858-1927) fundou uma escola moderna em Guangzhou, chamada Wanmu Caotang. Ali ele difundiu suas ideias sobre reforma constitucional e modernização.

Os revolucionários Sun Yat-sen e Huang Xing promoveram um levante armado em Guangzhou em 1911, com o objetivo de destronar a Dinastia Qing e fundar uma república burguesa. Apesar do fracasso de seu intento, a cultura Lingnan, com Guangzhou como seu núcleo, foi uma força impulsionadora da moderna reforma política da China.

Ao longo das últimas décadas, Guangdong tem estado na dianteira das reformas e da abertura chinesas. Shenzhen, um condado de Guangzhou no delta do Rio das Pérolas, foi a primeira zona econômica especial da China, ainda em 1980, e serviu como  modelo do desenvolvimento econômico chinês.

Arquitetura diversificada

Em Guangzhou, a típica arquitetura Lingnan preserva seu apelo original. Sua evolução começou nas dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1912), e a influência da primeira é evidente em vários salões antigos e acadêmicos. A dinastia Qing, mais recente, deixou sua marca na forma das mansões residenciais de Xiguan e em vários edifícios com arcadas, enquanto o período inicial da República da China (1912-1949) marcou Guangzhou com edifícios em estilo ocidental que ganharam popularidade depois do fim oficial da Dinastia Qing.

Após a fundação da República Popular da China em 1949, edifícios modernos combinando estilos arquitetônicos chineses e ocidentais dominaram a paisagem de Guangzhou. A combinação desses edifícios com jardins em estilo Lingnan demonstram a versatilidade arquitetônica da cidade.

Em 330 d.C, Guangzhou já era um grande porto na Rota Marítima da Seda e o único aberto ao comércio estrangeiro na época.

As residências representativas do estilo Lingnan no bairro de Xiguan (hoje conhecido como Distrito Liwan) são estruturas simétricas com um hall principal no centro. Um outro hall encerra um pátio, que tem um vestíbulo separando os dois halls principais.

Geralmente, o escritório, dormitórios e escadas ficam junto ao hall principal, à direita do qual costuma haver um pátio ornamentado com jardins floridos, plantas em vaso e pedras ou tanques de peixes.

Na década de 1920 começaram a ser utilizadas em  Guangzhou as antigas arcadas gregas, destinadas a proteger os pedestres do vento, da chuva e do sol forte, uma solução especialmente bem-vinda diante do intenso calor de Guangzhou e na época de suas chuvas de monções. Elas podem ser vistas em ruas para pedestres como a Beijing Road,  Shangxiajiu, assim como as ruas Dishifu, Zhongshan, Jiefang, South Renmin e Yide.

O imenso influxo de cultura ocidental ocorrido na virada do século XIX para o século XX fez surgir residências que combinaram aspectos da arquitetura chinesa tradicional e da arquitetura ocidental. As casas e jardins em Dongshan e na Meihua Village, que geralmente têm jardins na frente ou atrás, pórticos com pilares e grades e portões de ferro para isolar as mansões do mundo exterior, são representativas desse período.

Ao lado desses edifícios históricos, os visitantes têm também a oportunidade de se deslumbrar com a beleza vibrante e moderna dos recentes edifícios modernos de Guangzhou.

O ultramoderno Centro Internacional Pazhou de Convenções e Exposições combina com perfeição hi-tech, inteligência e conhecimento ecológico. A Guangzhou Opera House é, depois do Centro Nacional de Artes Performáticas de Pequim e do Grande Teatro de Xangai, a terceira casa de ópera estatal, e um dos marcos culturais da província. O Centro Internacional Baiyun de Convenções e Exposições, com seu estilo original e uma concepção ousada que incorpora a paisagem natural ao edifício, ganhou a mais alta premiação para edifícios públicos no Festival Mundial de Arquitetura de Barcelona de 2008.

Cozinha cantonesa

Quem visita Guangzhou sempre se impressiona com a variedade de restaurantes. A cidade tem uma multiplicidade de pratos à sua espera, simples ou suntuosos, refinados ou baratos. A economia desenvolvida de Guangzhou incentivou seu setor de alimentação e os tradicionais petiscos apetitosos da cidade e outras iguarias alcançaram uma alta reputação culinária.

A cozinha cantonesa faz parte dos quatro principais estilos culinários da China. Ela destaca uma ampla gama de ingredientes, múltiplas opções e sabores equilibrados. As diversas sopas são outra característica local, além das sobremesas das suas casas de chá e dos seus chás de ervas.

A casa de chá é o aspecto mais sedutor da cultura culinária cantonesa, não só por oferecer todo tipo de lanches e refeições leves saborosas por preços razoáveis, mas porque tomar chá é na realidade uma maneira de promover o convívio social. Você sempre verá as casas de chá ocupadas por pequenos grupos de pessoas nos dias de semana, ou por famílias inteiras nos fins de semana e feriados.

Saboreando alternadamente os petiscos de diversas travessas e bebericando chá, as pessoas se reúnem para falar da vida e dos temas da atualidade. Isso faz parte do estilo de vida de Guangzhou. Tomar o Morning tea, ou o yum cha, numa casa de chá é um aspecto que faz parte do cotidiano local, e é também um traço cultural de Guangzhou.

Os petiscos cantoneses, também conhecidos como dim sum, têm por base acepipes Lingnan e absorveram as técnicas usadas para a confecção de itens de confeitaria imperiais e de preparo de doces ocidentais. Com mais de duas mil variedades e sabores para todos os gostos, os petiscos cantoneses estão entre os melhores do país.

Os mais famosos são os bolinhos de camarão, os rolinhos de macarrão de arroz no vapor, os bolinhos no vapor recheados com carne de porco grelhada, a carne de frango no vapor recheada com arroz glutinoso, as empadas de rabanete branco frito, o bolo de castanha d’água, e os bolinhos de carne de porco no vapor, com cogumelos e brotos de bambu. Além disso, as tortas da lua cantonesas são muito comuns e têm além disso muito prestígio no exterior.

Para se adaptar melhor às condições geográficas e climáticas locais, as pessoas de Guangzhou se especializaram em sopas – uma inovação inteligente, pois sacia a fome e promove a saúde. As diferentes combinações de ingredientes e ervas desempenham diferentes funções, como manter a juventude e a beleza, nutrir e evitar doenças.

Que os cantoneses adoram sopas é algo bem conhecido em toda a China. Quase toda cozinheira da cidade é talentosa nessa especialidade culinária. E sempre se lamenta quando a refeição de alguém não inclui uma tigela de sopa, pois isso implica que a pessoa não mora num ambiente amoroso.

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