Por Tao Xing
O Lago Yundang, de 1,6 km², localizado no coração da cidade de Xiamen na Província de Fujian, sudeste da China, é um lago de água salgada que como um espelho reflete o cenário urbano do seu entorno. Mas este belo lago, considerado uma assinatura ecológica de Xiamen, não foi construído em um dia.
Antes um porto aberto, o lago é o resultado de uma série de projetos que foram conquistando os terrenos em volta. No entanto, a construção de aterros bloqueou o fluxo da água, e a construção de fábricas em torno do lago causou acentuado declínio da sua qualidade. O mau cheiro da área podia ser sentido a grande distância.
Desde meados da década de 1980, porém, o governo local conseguiu transformá-lo num destino turístico de alto nível e local de lazer popular para os residentes da cidade. As ilhotas da lagoa, pequenas e com um verde exuberante, são agora o lar da garça, ave típica de Xiamen.
Apoio de várias fontes – A gestão do Lago Yun-dang exige esforço contínuo. Nos últimos 40 anos, os sucessivos governos municipais de Xiamen têm sido diligentes em implantar medidas intensivas.
Anteriormente, 45% das águas residuais das indústrias da cidade e 50% do esgoto doméstico eram despejados diretamente no Lago Yundang, portanto o controle das fontes de poluição era alta prioridade, segundo relatório de 2021 do jornal local Diário de Xiamen. Limpar a água foi o primeiro passo.
As fábricas poluidoras foram fechadas ou realocadas. Em seguida, o lodo acumulado durante décadas no fundo do lago foi dragado. É habitual efetuar uma dragagem do lago a cada 10 anos aproximadamente. Ao longo dos últimos 30 anos, 4,7 milhões de m³ de lodo foram dragados, e foram construídos 14 km de novos aterros, reduzindo de forma significativa a erosão do solo na área em torno do lago. A cidade também construiu instalações para tratamento da água poluída.
Para recuperar a ecologia aquática, iniciou-se em 1999 o plantio de mangues nas praias do lago. Com a expansão da área plantada, o ecossistema marinho recuperou vitalidade, e as aves marinhas voltaram. As florestas costeiras de mangue são resilientes e suportam a salinidade, ondas fortes e até a elevação dos níveis do mar. As árvores retorcidas também dão abrigo a abundantes fontes de alimento para diversas espécies de aves. Essas medidas não podiam ser implementadas sem um adequado apoio legal e financeiro. Desde 1988, Xiamen tem sido bem-sucedida em revisar e introduzir uma série de regulamentações pertinentes.
Por exemplo, uma regulamentação revista sobre a proteção da área do Lago Yundang passou a vigorar oficialmente em 10 de maio de 2020, estabelecendo um sistema legal amplo. Ao mesmo tempo, foi criado o Centro de Proteção do Lago Yundang para supervisionar os esforços de sustentabilidade.
Para lidar com a desafiadora questão do financiamento para a gestão do lago, o Governo Municipal de Xiamen convocou uma reunião especial em 30 de março de 1998, e decidiu que o orçamento municipal reservaria anualmente 10 milhões de yuans (US$ 1,4 milhão) para os dois anos seguintes. Esses 10 milhões de yuans eram uma quantia significativa, representando um décimo do investimento anual da cidade em infraestrutura, segundo o relatório.
De 1984 a 2016, quatro rodadas de restauração abrangente foram realizadas, com um investimento total de cerca de 11,3 bilhões de yuans (US$ 1,58 bilhão). Nos últimos anos, Xiamen iniciou a quinta rodada de restauração abrangente. Nessa última rodada, o foco tem sido em reduzir os riscos à saúde humana e ao ambiente representado por sedimentos contaminados e pela água associada que vaza pelos poros, e enfatizar os valores ecológicos e culturais da área. A expectativa é que o investimento total chegue a 8,6 bilhões de yuans (US$ 1,2 bilhão).
Hoje o Lago Yundang ostenta um belo ambiente ecológico e é considerado a “sala de recepção ecológica da cidade”, exemplificando a prática chinesa de harmonizar a coexistência entre humanidade e Natureza.

Participação ampla da sociedade – Mas esse destacado marco ecológico no centro da paisagem urbana da cidade não poderia ter sido criado sem o apoio da comunidade residente.
Por exemplo, a cidade adotou um sistema de Chefes Residentes Voluntários do Parque (ou Lago). Entre as obrigações desses chefes está coletar opiniões dos visitantes e levá-las às autoridades, auxiliando na gestão do parque (ou lago), na organização de atividades culturais e na difusão de protocolos para os passeios.
O método de captação de voluntários criou raízes em várias cidades da China, como Xangai e Nanchang na Província de Jiangxi, com um número cada vez maior de residentes participando do seu desenvolvimento verde.
Por toda a nação, as pessoas de todos os segmentos da sociedade estão juntando esforços na prática do “verde é ouro” – uma ideia concebida pelo presidente Xi Jinping durante seu mandato como secretário do Comitê Provincial de Zhejiang do Partido Comunista da China (PCCh) em 2005.
Por exemplo, os residentes da Vila de Yucun em Zhejiang, onde Xi apresentou o conceito, já em 2003 decidiram fechar as minas de calcário e as fábricas de cimento quando compreenderam que o setor havia causado sérios danos ao meio ambiente local.
Desde então a vila tem sido bem-sucedida em se voltar para empreendimentos verdes a fim de gerar receita, como excursões de mochileiros, montanhismo e pesca, coleta de frutos e hortifrutos, e muitas outras atividades de agroturismo.
Atualmente, é cada vez mais comum ouvir residentes chineses expressando neologismos como “meta dual de carbono”, isto é, a meta nacional da China de alcançar o pico de suas emissões de carbono antes de 2030 e chegar à neutralidade de carbono antes de 2060, ou “vila de carbono zero”, segundo consta de um relatório de 2022 do jornal China Daily.
Plantar árvores também se tornou prática comum no país. Piao Shilong, professor do Departamento de Ecologia da Universidade de Pequim, mencionou em palestra de 25 de junho de 2022 que “a China criou a maior área mundial de floresta plantada, e sua taxa de cobertura florestal mais que duplicou, de 12% no início da década de 1980 para mais de 24% em 2022. Pelo menos 25% da expansão da cobertura global de florestas desde o início de 2000 teve lugar na China”.
Em termos de biodiversidade, a China em 2021 impôs uma proibição de pesca por um período de 10 anos em águas-chave da bacia do rio Yangtzé, uma área de 1,8 milhão de km² que responde por 40% dos recursos de água doce da China, o que exigiu que 228 mil pescadores em 110 mil barcos abrissem mão de suas atividades.
A proibição permitiu fazer um sólido progresso na preservação ecológica. Por exemplo, no trecho de Jianli do rio Yangtzé, Província de Hubei, o número de ovas produzidas pelas quatro principais espécies de carpas chinesas – carpa preta, carpa-grama, carpa-prateada e carpa-de-cabeça-grande –, na temporada de reprodução teve notável aumento, de menos de 100 milhões para 7,87 bilhões, segun- do relato do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais, em 2 de fevereiro de 2023.

Uma resposta chinesa – Há apenas poucas dé cadas, o problema da poluição do Lago Yundang impunha um verdadeiro dilema para a cidade de Xiamen: sacrificar o ambiente ecológico em favor do crescimento econômico, e como equilibrar o desenvolvimento social e a proteção ambiental.
Ao longo dos anos, porém, a cidade conseguiu equacionar as respostas. Hoje, as águas claras do lago refletem a transformação da filosofia e dos
métodos de desenvolvimento de Xiamen, e são testemunho da prática vibrante de progresso ecológico realizada pela cidade.
Até o presente momento, Xiamen já recebeu uma série de prêmios e homenagens por seu desenvolvimento verde, como: o Prêmio Pergaminho de Honra do Habitat da ONU, Cidade-Jardim Internacional, Cidade-Jardim Nacional, Cidade Modelo Nacional para Proteção Ambiental, Cidade Ecológica Nacional, Cidade Nacional de Transporte Verde, além de figurar entre as 10 principais cidades de baixo carbono da China.
Ao lado de sua ecologia resgatada, as realizações de desenvolvimento econômico de Xiamen também têm sido notáveis. Dados oficiais mostram que, nos últimos anos, apesar de cobrir apenas 1,4% da área de terras de Fujian, a cidade contribuiu com 14,5% do PIB da província e respondeu por cerca de 50% do volume total de seu comércio exterior. O PIB per capita da cidade chegou a US$ 20 mil em 2020.
Abdilahi Ismail Abdilahi, sinólogo da Somália que leciona diplomacia na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, contou à Beijing Review que “a transformação do Lago Yundang reflete o compromisso da China com a proteção de sua ecologia”, ao comparecer a uma viagem de campo ao lago no último mês de fevereiro.
Misbahul Ferdous, de Bangladesh, diretor de Pesquisa Clínica na Lepu Medical de Pequim, corroborou a visão de Abdilahi durante a mesma viagem, e acrescentou: “a China alcançou muito em desenvolvimento econômico nas últimas décadas, o que propiciou que outros países em desenvolvimento tivessem experiências em equilibrar os dois (isto é, economia e ambiente)”.
A prática de Xiamen não é um caso isolado na China, mas uma miniatura do que ocorre em todo o país. A resposta de Xiamen é uma resposta chinesa. “Este ano, a China respondeu por mais de 30% do crescimento econômico global firmando-se como o maior impulsionador desse crescimento.
Suas exportações alcançaram mais de 14% da fatia do mercado mundial”, afirmou Han Wenxiu, alto funcionário do Gabinete da Comissão de Assuntos Financeiros e Econômicos do Comitê Central do PCCh em seminário em Pequim, em 13 de dezembro de 2023. O compromisso da China com o desenvolvimento verde é baseado em baixo carbono, eficiência em energia e padrões de proteção ambiental, disse Han, acrescentando que esta abordagem acelera a transformação verde da produção e do consumo, oferecendo maiores benefícios e um palco mais amplo para o desenvolvimento econômico da China.
Mais recentemente, o Comitê Central do PCCh e o Conselho de Estado expediram linhas gerais para promover de forma abrangente o desenvolvimento de uma Bela China. Essas orientações observam que por volta de 2027 a proporção de veículos de novas energias entre os novos automóveis chegará a 45%. O uso das velhas locomotivas a diesel será desativado, e o volume de transporte somado de contêineres dos portos por ferrovias e hidrovias continuará em rápido crescimento. Para fomentar a diversidade, estabilidade e sustentabilidade do ecossistema do país, as linhas gerais visam aumentar a cobertura florestal nacional para 26% e a taxa de conservação do solo e da água para 75% por volta de 2035.
Na metade do século, a civilização ecológica da China terá sido melhorada de modo abrangente, seu desenvolvimento e estilo de vida verde terão tomado plena forma, e a profunda descarbonização de suas áreas-chave terá sido realizada, afirmam as orientações.
Este texto foi publicado originalmente na revista China Hoje. Clique aqui, inscreva-se na nossa comunidade, receba gratuitamente uma assinatura digital e tenha acesso ao conteúdo completo.
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