A Dinastia Song (960-1279_ foi sem dúvida uma fase áurea para a cerâmica chinesa, lembrada por uma série de fornos de prestígio, tanto estatais quanto de propriedade privada. O Forno Cizhou, o maior do Norte da China, era um forno particular. Ficava no atual Condado de Cixian (Cizhou, na Dinastia Song), no distrito de Fengfeng da cidade de Handan, província de Hebei. Começou a operar no século V, alcançou seu auge nos séculos X a XIV, e continua operando até hoje. Em sua produção ininterrupta por mais de um milênio, desenvolveu um gênero com aspectos étnicos e regionais característicos.
O Forno Cizhou produz um grande volume de cerâmica vitrificada em vários tons – branco, preto, castanho-escuro e verde –, dos quais o branco é o mais apreciado. A maior parte das peças é para uso diário, com destaque para objetos de mesa, vasos, pias, jarros, limpadores de pincéis e travesseiros. Seus travesseiros de cerâmica são feitos numa impressionante variedade de formatos.
O Forno Cizhou destacou-se por suas técnicas de decoração, que superaram as dos cinco principais fornos da Dinastia Song – Ru, Guan, Jun, Ge e Ding –, e por isso desempenhou papel importante no desenvolvimento da cerâmica chinesa e internacional. Essas técnicas – são mais de três dezenas – inspiram-se na pintura e caligrafia chinesa a traço de tinta, e criaram motivos gravados ou pintados em preto ou sépia sobre uma superfície branca. Os mais valorizados, e também mais raros, são os que mostram padrões em preto sobre um fundo branco.
O pigmento preto usado na cerâmica Cizhou é feito de pedra malhada, que pode ser encontrada no local. Depois de aplicar uma camada de verniz branco, os ceramistas cobriam a peça toda com uma camada de gesso moído bem fino, para proteção e “maquiagem” do vitrificado. Esse gesso cosmético, como é comumente conhecido, torna a superfície mais branca e brilhante. Essa técnica relativamente amadurecida de criar uma base para a vitrificação lançou os alicerces para a criação da porcelana azul e branca e policromática que surgiria mais tarde.
Ao lado dos padrões florais, a cerâmica Cizhou também é adornada com poemas, a maior parte deles de eruditos da época. São um valioso material para estudo daquele período histórico. Pelo fato de não estar submetido às restrições de design que vigoravam nos fornos estatais, o Forno Cizhou sentia-se livre para fazer uma utilização profusa de elementos da natureza em seus padrões decorativos, que incluíam paisagens, nuvens, animais e aves, mitológicos e da vida real – dragões, fênices, tigres, cavalos e cervos entre outros. É o que dá aos seus produtos um toque atraente, folclórico, com forte apelo popular.
Muito apreciada pelo povo, a cerâmica Cizhou viu crescer sua demanda, o que levou outros fornos do Norte da China a imitá-la. Aos poucos, foi criada uma ampla rede de produção com fornos privados – a maior rede as antiga China –, irradiando-se da aldeia de Guantai, na cidade de Handan, para as províncias de Henan, Shandong, Jiangxi, Fujian e Sichuan. Esses fornos produziram peças de cerâmica similares às da cerâmica Cizhou, em grandes volumes.
Embora tenha sido ofuscado pelos cinco fornos oficiais da Dinastia Song, o Forno Cizhou firmou-se no mercado e na história da cerâmica chinesa por seu estilo livre. As pinturas e caligrafias em seus produtos têm uma estética livre e fluente, e ao mesmo tempo, de alta sofisticação artística. São também uma boa referência para o estudo dos costumes e da arte folclórica da Dinastia Song e das dinastias posteriores. Com sua grande vitalidade e popularização, o Forno Cizhou é hoje uma das maiores marcas de cerâmica da China, exportada para vários países.
Travesseiro octogonal Cizhou (Museu do Palácio, Pequim)
O travesseiro de cerâmica branca tem uma moldura em preto, com cantos verticais sobressalentes no formato de bambus. No topo, foi pintada uma peônia em preto, cujas pétalas e folhas são gravadas para mostrar os veios. Este design é atípico do Forno Cizhou da Dinastia Song, e acredita-se que seja de uma linha de produtos de alto nível.
Travesseriro Cizhou com verniz claro e gravado com ramos de peônias (Museu de História de Shaanxi)
Travesseiro de formato oval todo coberto com verniz marfim. O topo é gravado com ramos de peônias e densamente adornado com “pérolas” no espaço restante, tudo com contornos fluidos. A parte de trás é furada.
“Plum vase” Cizhou com desenho floral (Museu Folclórico Fujian)
O plum vase (“vaso ameixa” tinha esse nome por ser considerado a forma perfeita para abrigar um ramo de ameixeira. Tem um gargalo curto, ombros caídos e um corpo esbelto, todo coberto por padrões sobre superfície branca. Os motivos vão mudando, de ondas nos ombros a peônias no corpo bojudo, com ondas de novo na parte inferior, entremeados por padrões de fios (linhas paralelas).
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