Além das fronteiras

Uma revolução no turismo chinês para o exterior

Por Yuan Yuan

A expectativa de Liu Lixia em relação ao feriado do Festival da Primavera, de 10 a 17 de fevereiro deste ano, teve uma empolgante mudança em 25 de janeiro, quando Singapura anunciou a introdução de uma política de isenção de visto para turistas chineses, com início marcado para 9 de fevereiro, coincidindo com a Véspera do Ano Novo chinês.

Essa dona de casa de 49 anos de idade planejara inicialmente uma viagem familiar à cidade de Sanya, na Província de Hainan, extremo sul da China, com o marido e duas filhas. “No entanto, o preço da tarifa aérea de Pequim a Sanya era muito caro na estação de férias, por sua popularidade como destino de inverno”, contou à Beijing Review. “Singapura surgiu como uma alternativa atraente, graças à política de isenção de visto e às tradições compartilhadas do Festival da Primavera.”

O anúncio da política de isenção de visto aumentou significativamente o interesse pelas ofertas de viagem a Singapura. Segundo dados da agência de viagens online Fliggy, buscas por voos para Singapura aumentaram 15 vezes e as de hotéis, mais de seis vezes, isso apenas uma hora após a divulgação dessa política. Por volta de 16 horas de 25 de janeiro, as reservas para o feriado do Festival da Primavera em Singapura haviam aumentado mais de 30 vezes em relação ao ano passado, revelando um interesse robusto e sustentado.

Esse entusiasmo não se limitou a Singapura. Malásia e Tailândia também viram crescer fortemente o interesse de turistas chineses depois que a política de isenção de visto para turistas chineses da Malásia entrou em vigor em 1º de dezembro de 2023, e após a introdução pela Tailândia de uma política temporária de isenção de visto, de 25 de setembro de 2023 até 29 de fevereiro de 2024. A partir de 1º de março, Tailândia e China implementarão uma política mútua e permanente de isenção de visto.

Números recentes da importante plataforma chinesa de viagens Trip.com confirmam essa tendência, mostrando que as reservas de turistas chineses para Singapura, Malásia e Tailândia para o período do Festival da Primavera aumentaram mais de 15 vezes em comparação com o ano passado, indicando um significativo aumento no interesse por viagens a esses destinos.

Preferências evoluem – Liu ressaltou como as políticas de isenção de visto aliviam para os turistas o fardo dos complexos processos de solicitação de visto. “Antes da pandemia, nossa família costumava viajar ao exterior para o Festival da Primavera”, disse ela. “A necessidade de solicitar visto muitas vezes nos levava a optar por destinos mais distantes, como Europa. Agora, países que oferecem isenção de visto ficaram mais atraentes para nós.”

Na Tailândia, que há cerca de uma década já oferecia vistos de chegada a turistas chineses, as longas filas de visitantes ao entrarem no país costumavam tornar o processo cansativo. Assim, para contornar esse inconveniente, alguns viajantes preferem assegurar seu visto antes da partida.

Antes da pandemia, a família de Liu reservava em torno de 50 mil yuans (US$7 mil) para a sua viagem do Festival da Primavera, visitando destinos mais distantes, como Europa e Austrália. “Agora, acho que isso não vale mais a pena (viajar para tão longe) quando se trata de apenas uma semana de férias, especialmente porque os primeiros dias são gastos ajustando-se ao fuso horário, o que deixa poucos dias para curtir a viagem de verdade. Destinos mais próximos da China se tornaram mais atraentes para mim para o feriado do Festival da Primavera.”

Segundo uma enquete online do jornal Global Times da China, que coletou cerca de 25 mil respostas, este ano os três principais destinos foram República das Maldivas, Singapura e Tailândia, todos oferecendo essa política amistosa de isenção de visto aos turistas chineses.

O Ministério do Exterior revelou em 31 de janeiro que a China assinou acordos mútuos de isenção de visto, cobrindo vários tipos de passaportes, com 157 países, e que estabeleceu acordos ou arranjos sobre procedimentos simplificados de visto com 44 países, além das isenções abrangentes mútuas de visto com 23 países, entre eles Tailândia, Singapura, República das Maldivas e Emirados Árabes Unidos. A China irá expandir a política de isenção de visto para cobrir cidadãos de mais países e procurar aumentar o número de seus acordos de isenção mútua de visto.

Inovação e recuperação – Huang Qiuyue, uma gerente de agência de viagens de Hangzhou, Província de Zhejiang, detectou outros destinos emergentes para o feriado do Festival da Primavera a partir dessa popularidade alcançada pelo Sudeste Asiático. “O Norte da Europa e a Nova Zelândia estão ganhando força nos feriados mais prolongados”, disse ela ao Hangzhou Daily.

Finlândia e Islândia começaram a conquistar para experiências de turismo em profundidade no Norte da Europa, com a média de gasto por turista variando de 30 mil (US$ 4 mil) a 60 mil yuans (US$ 8 mil). Uma residente de Hangzhou de sobrenome Chen falou de sua empolgação por uma próxima viagem de 11 dias para a Finlândia e a Islândia, por causa do sonho de ver a aurora boreal, que lhe foi postergado pela pandemia e agora será realidade.

Pacotes de viagem para a Nova Zelândia especialmente projetados para turistas chineses tiveram reservas esgotadas no último mês de dezembro, com preços por pessoa entre 30 mil e 40 mil yuans (U$5.500). “Antes da pandemia, esses pacotes atraíam basicamente idosos”, disse Huang. “Agora estamos diante de um surto de viajantes mais jovens, incluindo recém-casados em lua de mel.”

You Lijun, um gerente de agência de viagens da Província de Shandong, revelou que essas mudanças indicam uma alteração mais ampla nos hábitos de viagem de turistas chineses – deixando de ir em bando para destinos quentes, populares e familiares para explorar destinos mais específicos ou nichos.

À medida que o setor de turismo avança em seu processo de recuperação, comparações com o ano pré-pandemia de 2019 são inevitáveis. “Mas tal comparação direta falha em levar na devida conta o contexto”, contou You ao Shandong Daily, destacando que o número de voos operacionais em 2023 ainda ficou atrás dos níveis de 2019.

Um raio de esperança para o setor de viagens ao exterior em 2024 é o rápido ressurgimento dos voos internacionais. Dados da Administração da Aviação Civil da China ilustram a notável recuperação: de menos de 500 voos internacionais semanais no início de 2023 para mais de 4.600 por volta do final do ano. Essa recuperação no número de serviços a passageiros entre a China e a Europa alcançou mais de 60% de sua capacidade pré-pandemia. Espera-se que esse ímpeto continue ao longo de 2024, com previsões de uma disponibilidade de cerca de 6 mil voos semanais, cerca de 80% do volume de serviço pré-pandemia.

Em 2023, os turistas chineses foram classificados em sexto lugar em termos de número de visitantes para o Reino Unido, segundo informações do Visit Britain, o site oficial de turismo do Reino Unido. Essa foi uma queda notável em relação ao seu status pré-pandemia, quando foi a segunda maior demografia no mercado de turismo de entrada no Reino Unido.

Mas é importante notar que a China só incluiu o Reino Unido no terceiro lote de destinos para a retomada das viagens em grupo ao exterior em meados de agosto de 2023. Essa decisão deixou o Reino Unido com apenas quatro meses para receber grupos de turistas da China no ano passado, embora o gasto anual por turistas chineses no Reino Unido ainda alcance em torno da metade de seus níveis pré-pandemia – prova da sua resiliência e potencial de recuperação dentro do setor de turismo.

Comparado com o crescimento explosivo do turismo doméstico na China, a recuperação das viagens ao exterior ainda é fraca. Em um fórum de turismo em 15 de dezembro de 2023, Chen Gang, um profissional de turismo com mais de uma década de experiência no setor, falou do cenário em evolução das demandas do viajante. “As necessidades diversas dos viajantes precisam de um amplo espectro de produtos de viagem, tanto para o mercado doméstico quanto para o internacional. Essa diversidade definirá a tendência do mercado de turismo para a próxima década”, disse ele.

Ele ainda enfatizou a necessidade crucial de adaptabilidade das operadoras de viagens. “Para continuarem relevantes, operadoras de viagem devem agir de acordo com essas preferências mutáveis do consumidor”, disse ele. “O caminho para avançar é acolhendo e atendendo os desejos sempre mutantes dos viajantes, por meio de inovação.”

 

Este artigo foi publicado originalmente na 47ª edição da revista China Hoje. Entre para a Comunidade China Hoje gratuitamente e tenha acesso ao conteúdo completo. 

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