No final de outubro deste ano realizou-se o I Encontro da Rede Brasileira de Estudos da China (RBChina), na PUC Minas, em Belo Horizonte. Profissionais das mais diversas áreas compareceram ao evento para discutir temas relacionados à China e à relação sino-brasileira. Esta iniciativa inaugura um novo momento da sinologia no Brasil e resulta o crescente aumento de brasileiros que estão indo estudas e/ou trabalhar na China motivados pelas excelentes relações comerciais no plano bilateral, pelas oportunidades oferecidas pela economia chinesa e pela política de concessão de bolsas de estudos e de pesquisa do governo chinês. A RBChina conta com amis de 170 integrantes dentre acadêmicos, diplomatas, advogados, jornalistas, artistas, empresários, estudantes, etc. É uma rede em processo de ampliação que tende a ser um importante fórum nacional dedicado à China.
A Declaração emitida pelos membros da RBChina afirma que “o desenvolvimento da relação sino-brasileira é uma política de Estado”. Em outras palavras, ela está (ou deveria estar) acima das vicissitudes da política doméstica e das preferências ideológicas de um ou outro governo brasileiro dada a importância da relação bilateral para o desenvolvimento do país.
Vale lembrar que o estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a República Popular da China ocorrer em 15 de agosto de 1974, durante o governo Geisel, em plena ditadura militar. A primeira visita de um Chefe de Estado brasileiro à China foi feita pelo presidente João Figueiredo, último presidente antes da redemocratização. Na época, a despeito das turbulências no plano doméstico brasileiro sob o signo da guerra fria, o pragmatismo e o interesse nacional orientavam a política externa dos militares.
De lá para cá, as relações sino-brasileiras evoluíram muito. São exemplos a exitosa cooperação na construção de satélites (“China-Brazil Earth Resources Satellite” – CBERS), iniciada no governo Sarney; a Parceria Estratégica Brasil-China firmada no governo Itamar Franco; os investimentos brasileiros na China no período de Fernando Henrique Cardoso; a criação da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN) no governo Lula; a elevação do relacionamento bilateral para o nível de “Parceria Estratégica Global”, durante o governo Dilma Rousseff e, por fim, a criação do Fundo Brasil-China de Cooperação para Expansão da Capacidade Produtiva, pelo governo Temer. Todos os presidentes têm assumido uma postura construtiva na relação com a China. E o resultado disto é que, desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e é, atualmente, seu maior investidor. No ano passado, o superávit comercial brasileiro foi de US$ 22 bilhões. Soma-se a isto o estoque de mais de US$ 54 bilhões em investimentos chineses em diversos setores.
Tendo em vista este percurso histórico de cooperação contínua com a China, os especialistas brasileiros em China chamam “a atenção da sociedade brasileira e de seus representantes eleitos para a necessidade de cultivar e aprofundar a parceria de amplo escopo existente entre o Brasil e a China, que se estende pelos campos político, econômico, cultural, científico e tecnológico. Um relacionamento nesses moldes com um dos principais atores da cena internacional é consentâneo com a melhor tradição da política externa brasileira, caracterizada pelo universalismo, pelo equilíbrio e pela independência, e contribui de forma inequívoca para a promoção do interesse nacional”. Esta perspectiva está totalmente em linha com os princípios da política externa chinesa. Desde meados dos anos 60 a China desenvolve uma política externa pragmática, afastada de considerações ideológicas e baseada no respeito à soberania, ao princípio da não intervenção e não ingerência nos assuntos internos de outros países e no reconhecimento da igualdade de todas as nações. A estes princípios deve-se agregar um outro que é central para a diplomacia chinesa: o princípio de “uma só China” segundo o qual há apenas um país, abrangendo o território de Taiwan.
Há mais obstáculos na relação com a China ancorados em convenções sociais mais ou menos estabelecidas no imaginário da política brasileira do que na realidade mesma a respeito deste gigante país. Com a rede de sinólogos, o Brasil ganha um espaço de diálogo que pode ampliar nossa visão sobre a China e colaborar no desenvolvimento da relação bilateral, ajudando o governo e a sociedade brasileira a construir uma relação sino-brasileira com os olhos voltados para as possibilidades de futuro que estão ao nosso alcance.
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