Em comparação com outros estilos de bordado, o bordado de miao destaca-se por uma alta expressividade. No início, era usado para registrar grandes eventos em lugar da escrita, e para distinguir tribos por meio tótens diferentes. Suas cores são vivas e o design é mais simples. Há também muitos padrões auspiciosos que se destinam a orar pedindo boa sorte”, declarou Shi Jia, delegada da Assembleia Popular Nacional (APN) e presidente de uma empresa de vestuário miao, a China Hoje.
Shi é uma mulher nativa miao, nascida na década de 1980, proveniente da cidade de Shilan, distrito de Huayuan, Prefeitura Autônoma das Etnias Tujia e Miao de Xiangxi, Província de Hunan. Em 2021, ela ganhou o prêmio nacional para modelos de vestuário femininos. Depois, no início de 2023, criou um projeto de alívio da pobreza apoiado nos bordados de miao, selecionado pelo Ministério da Cultura e Turismo, pelo Ministério de Recursos Humanos e Seguridade Social e pela Administração Nacional de Revitalização Rural como projeto reconhecido de patrimônio cultural imaterial em 2022.
Desde que abriu seu próprio negócio em sua cidade natal em 2017, Shi tem se comprometido em explorar os recursos étnicos locais, de modo a dar mais contribuições para a revitalização rural.
Empreendedorismo para alívio da pobreza – Antes de voltar para a sua cidade natal, Shi dirigiu uma empresa de engenharia em Chengdu, Província de Sichuan. Após uma visita à sua família, decidiu sair de seu emprego bem remunerado na cidade grande e voltar a Shilan para iniciar um negócio. “O que me motivou foi a demografia da minha cidade. Na época, das 19 mil pessoas, mais de 1,2 mil eram crianças que haviam sido deixadas para trás na cidade por pais que partiram para cidades maiores atrás de oportunidades de emprego”, disse Shi.
Para gerar empregos em Shilan e permitir que as mães dessas crianças pudessem retornar, Shi decidiu usar o patrimônio cultural imaterial dos bordados miao para desenvolver setores relacionados. Em 2017, fundou uma empresa de vestuário miao e abriu uma oficina e loja.
“No primeiro dia em que abrimos, mais de 400 pessoas chegaram e rapidamente lotaram o pátio todo. Fiquei muito surpresa, porque não costumo ver tantas pessoas em áreas rurais, exceto em dias de grandes eventos. Essa visão me fez perceber que os aldeões realmente esperavam encontrar trabalho em suas comunidades”, disse Shi a China Hoje.
Ela contratou herdeiros dessa tradicional aptidão artesanal para treinarem mulheres registradas, e pagou a cada uma 5,4 mil yuans durante três meses. Após esse treinamento, as mulheres assinaram um contrato com a empresa de Shi. Elas puderam então escolher entre trabalhar em casa ou na oficina.
Atualmente, o projeto já ofereceu treinamento pago para 1.926 mulheres da zona rural, recrutou 367 pessoas para empregos de baixa renda e ajudou mais de 3 mil pessoas a se engajarem em setores relacionados, das quais 75% são mulheres. Mais de 300 mães de crianças deixadas para trás voltaram à cidade e foram empregadas.
Uma das muitas bordadeiras, Long Yuzhi, deixou uma impressão profunda em Shi. Long é uma mãe deficiente auditiva de três crianças, e seu marido tem deficiências mentais. De início, Long mostrava-se muito introvertida e dificilmente se comunicava com as outras mulheres. Durante o treinamento, foi aos poucos ficando mais desinibida e melhorou sua aptidão no trabalho de bordadeira. Shi entregou a ela um bordado encomendado pelo ex-primeiro-ministro britânico David Cameron. Em razão do comprometimento
da audição de Long, Shi sempre envia a ela um sinal de positivo para indicar que está indo muito bem. “Quero que elas saibam que não são apenas trabalhadoras, e sim artesãs respeitadas e dotadas de um talento único”, afirmou Shi a China Hoje.
Com o time de bordadeiras crescendo, Shi também investiu em uma equipe de designers. A partir de visitas a museus, consultas a livros antigos e coleta de trabalhos criados por mulheres locais, foram reunidos numerosos padrões de bordado tradicionais da cultura miao, para a criação de um banco de dados. Esses padrões são aplicados ao design de roupas, acessórios, pequenos objetos domésticos, malas, leques e outros produtos. Desse modo, mais de 300 tipos de produtos culturais e criativos com características locais tiveram boas vendas na cidade e fora dela, aumentando a receita da oficina e a popularidade dos bordados miao.
Atualmente, o artesanato tradicional dos bordados miao virou um setor da economia local, graças aos ágeis dedos da mulheres. Shi também abriu cinco lojas-conceito para vender os produtos dos bordados em Pequim, e nas províncias de Shandong e Hunan, obtendo uma receita anual de vendas de cerca de 10 milhões de yuans. Além disso, a oficina também abriu lojas na internet, e orientou as mulheres sobre como vender produtos por meio de streaming ao vivo para promover os bordados miao.
Além do mercado doméstico, Shi também promoveu o bordado de miao no cenário internacional. Por meio de atividades de intercâmbio, os produtos de bordados não só apareceram nas exposições sobre herança mundial intangível, como foram comprados por muitos dignitários e celebridades estrangeiros. Em junho de 2018, designers da grife de luxo Hermes projetaram 12 conjuntos de vestidos da moda com elementos de bordados miao, que foram então feitos à mão pelas bordadeiras locais e foram exibidos nas campanhas de um evento de moda realizado em Bordeaux, na França.
Desenvolvendo setores locais – A fim de expandir as vendas e aumentar a renda das mulheres locais, Shi, além de cuidar dos produtos de bordados miao, entrou no setor de chá em 2019. Fazendo a adequa

ção às condições locais, convocou os aldeãos e fundaram uma cooperativa de plantio de chá, e agora Shi combina bordados miao com o chá e vem lançando produtos únicos. Hoje, a plantação de chá cobre uma área de 120,4 ha. Mais de mil mulheres locais estão engajadas em plantar e colher nas estações agrícolas, ao mesmo tempo que bordam e cuidam das crianças em seu tempo disponível. Sua renda mensal, composta por salários dos bordados miao, hortas de chá, taxas por cessão de terras e dividendos coletivos da aldeia, é em média de 4 mil yuans.
Shi espera que por meio dos esforços dela e de sua equipe as aptidões tradicionais de bordado miao voltem a ocupar lugar na vida das pessoas e promovam o desenvolvimento de outros setores característicos, adequados às condições locais. Isso não só permite que os aldeões tenham uma vida melhor, como atraem mais turistas e abrem um mercado maior.
Em seu próximo plano quinquenal, Shi lançará um serviço de turismo cultural. Seu plano é oferecer estadias e construir outras infraestruturas para criar uma cadeia setorial completa que combine agricultura, cultura e turismo em sua cidade. “O patrimônio cultural imaterial é uma alavanca que pode impulsionar o desenvolvimento de mais setores por meio da atração cultural, desempenhando assim maior papel na promoção da revitalização rural”, afirmou ela.
Ao mesmo tempo, movida pela necessidade de lançar setores nas áreas rurais, ela propôs na sessão anual da APN deste ano o desenvolvimento de recursos de medicina étnica, uma área pela qual tem grande interesse. A área da montanha Wuling cobre 71 distritos e cidades na região sul, que abrange Hubei, Hunan, Guizhou e Chongqing. Shi avalia que a área tem abundância de recursos usados na medicina étnica de tujia e miao, com imenso potencial de desenvolvimento industrial. Para enfrentar problemas como um sistema incompleto e uma inovação insuficiente, ela sugere que departamentos relevantes propiciem políticas e apoio financeiro para construir centros regionais de distribuição e comercialização, centros regionais de medicina étnica, centros de P&D e incubadoras, e bases de saúde de alto nível, de modo que os recursos de medicina étnica possam beneficiar mais pessoas da população local e ajudem o desenvolvimento de alta qualidade do setor de medicina étnica na área.

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