Qingdao – Onde o Oriente e o Ocidente se encontram

Capital chinesa da cerveja, a cidade guarda a memória do período de ocupação alemã

Quem cruza o Mar Amarelo a partir da Península Coreana em direção ao litoral sul da Península de Shandong logo avista Qingdao, uma cidade de belos cenários e clima muito agradável.

Com seus portos e um aeroporto ligando-a ao mundo, Qingdao é um dos mais importantes centros econômicos e logísticos da China. Além disso, transformou-se em resort turístico, com maravilhosas paisagens de montanha e de mar. Qingdao já venceu o Prêmio Hábitat China, e atrai muitos turistas todo ano, particularmente durante suas festas internacionais da cerveja e de frutos do mar, celebradas em agosto.

Beleza exótica

Já na Era Neolítica, Qingdao era um grande centro de vida e civilização humana, abrigando as ricas e diversificadas culturas Dawenkou, Longshan e Yueshi.

Qin Shihuang (259-210 a.C.), primeiro imperador a unificar a China, visitou Qingdao três vezes durante suas cinco grandes viagens pelo país. Mas o imperador Wudi (156-87 a.C.) da Dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.), um antigo príncipe do leste de Shandong, foi o monarca que visitou a região de Qingdao com maior frequência.

Com sua localização estratégica, que permite fácil conexão com o sul do país por mar, Qingdao constitui um dos principais núcleos e portos comerciais de transporte do norte da China desde o século VII.

Ao mesmo tempo, Qingdao sempre desempenhou papel-chave na defesa das costas chinesas. Em 1891, o governo central da Dinastia Qing (1644-1911) montou uma guarnição na área e Qingdao desde então passou a desfrutar do status de cidade.

Em 1897, a Alemanha ocupou e colonizou Qingdao a pretexto de arrendar terras da China. Os alemães construíram portos e ferrovias na cidade, estimulando o desenvolvimento. Nas partes norte e sul da cidade, um bom número de exemplos da velha arquitetura alemã ainda pode ser encontrado hoje.

Depois que Qingdao foi ocupada pelas forças alemãs, começaram a surgir edifícios de estilo ocidental em áreas como Badaguan e Kaiser-Wilhelm-Ufer (hoje conhecida como Estrada de Taiping). A maior parte são construções de tijolo e madeira, no típico estilo enxamel.

Os alemães usaram granito da montanha Laoshan no sudeste de Qingdao e trouxeram o aço da Alemanha. Os grandes edifícios com frequência eram revestidos com granito ou chapas.

Os telhados variavam no estilo, e as cumeeiras lembram a elegância medieval pastoral. Portas e janelas muitas vezes ganhavam ornamentações refinadas. Essas casas em estilo ocidental, rodeadas de árvores e flores, tendo ao fundo o cenário de montanhas verdes e águas azuis, tornam a cidade mais bonita e dinâmica.

As telhas vermelhas das casas e as árvores exuberantes são um dos aspectos especiais de Qingdao, e Badaguan, na parte leste da Baía de Huiquan, é um bom exemplo disso. Mais de 200 casas isoladas se alinham nas tranquilas ruas desse bairro, cada uma ostentando um design e uma estrutura únicos, sempre com um belo jardim e vista do mar. As construções, em estilo russo, britânico, francês, alemão, americano, dinamarquês, grego, espanhol, suíço, japonês, apenas para citar alguns, fazem dessa área uma verdadeira vitrine da arquitetura mundial.

A Guantao Road no norte da cidade foi construída em 1899. Conhecida como Kaiser Straße durante a ocupação alemã, ficava junto à estação de trem, ao porto e à alfândega, constituindo uma localização perfeita para negócios e comércio.

Naquela época, essa rua concentrava as companhias estrangeiras. Era sempre a primeira parada para negócios dos diferentes países que tinham escritórios e filiais estabelecidos em Qingdao. O próspero comércio de importação e exportação no início do século 20 atraiu bancos estrangeiros, e isso permitiu à Guantao Road crescer e virar um centro financeiro e econômico, que exerceu forte influência na economia do leste da China e no comércio de exportação e reexportação das regiões costeiras do país. Hoje, está restaurada como uma rua de estilo alemão, com 25 edifícios da era colonial bem preservados em seu quilômetro de extensão.

Cidade da cerveja

Na China, Qingdao é com frequência sinônimo de cerveja. Orgulho da cidade, a Tsingtao Brewery Co. foi fundada em 1903 por alemães e britânicos radicados na cidade. A cerveja Tsingtao, feita com cevada, lúpulo e água pura das fontes da montanha Laoshan, vem sendo reconhecida como a melhor cerveja da China desde 1906, quando ganhou a medalha de ouro na Exposição de Munique.

A Tsingtao foi a primeira empresa do continente chinês a ser listada no exterior, e sua cerveja foi uma das primeiras marcas chinesas a entrar no mercado internacional. A cerveja Tsingtao já esteve presente até hoje em mais de 80 países e regiões, entre elas Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá, Brasil e México. Segundo relatório do Barth-Haas Group, a Tsingtao é a sexta maior cervejaria do mundo em volume de produção.

Os habitantes de Qingdao costumam beber sua cerveja vertida diretamente de barris para sacos plásticos, para melhor preservar seu paladar.

Se estiver na ruas de Qingdao, você poderá notar os habitantes locais levando cerveja na mão, em saquinhos de plástico. Pode parecer estranho, mas é assim que o povo de Qingdao prefere beber cerveja, pois acreditam que o gosto dela ao sair da garrafa nunca se equipara ao seu gosto quando vertida diretamente do barril.

Ao chegar em casa, as pessoas costumam pendurar o saquinho em alguma porta e fazem um buraco nele para ir bebendo. Nada é mais refrescante nos dias quentes do verão, e é assim desde sempre que os locais preferem consumir cerveja. Mantê-la em sacos plásticos é um costume único de Qingdao, que surpreende quem visita a cidade, e a cerveja na realidade é indispensável em Qingdao, fazendo de certo modo com que as pessoas se aproximem mais.

Agosto é a melhor época para visitar Qingdao – o Festival Internacional da Cerveja, com duração de dezesseis dias, começa sempre na segunda semana do mês. Desde 1991, o evento tem sido uma das maiores festas com o tema da bebida na Ásia, atraindo numerosas cervejarias da China e de vários outros países. Nessa época do ano, um aroma de malte se espalha pela cidade. Tomar cerveja, comer frutos do mar e nadar na praia são consideradas atividades obrigatórias em Qingdao.

Terra natal do Taoismo

 Laoshan, a leste de Qingdao, é uma das principais montanhas da Península de Shandong. Com uma altitude de 1.132 metros acima do nível do mar, é o ponto mais alto do litoral chinês. Além disso, Laoshan é a terra natal do taoismo chinês.

A cultura taoista mais antiga dessa montanha remonta ao século VIII a.C., quando um grupo de pessoas se reuniu aqui para buscar a imortalidade por meio da prática da alquimia. Por volta do século III a.C., Laoshan floresceu como uma montanha sagrada muito famosa.

Segundo o taoismo – religião de origem chinesa que desempenhou um papel muito importante na cultura tradicional chinesa –, o Tao dá origem a todo ser. Adorando vários tipos de divindades, os taoistas buscam a imortalidade e uma existência celestial, ao mesmo tempo que procuram os benefícios para a humanidade.

A religião floresceu em Laoshan do século XIII ao século XVII. Nada menos do que nove palácios, oito templos e 72 conventos espalharam-se pelos vales e picos de Laoshan, onde grande número de fiéis oferecia incenso e orações. Fato interessante é que algumas das edificações taoistas na montanha foram compartilhadas por monges taoistas e budistas.

Hoje, 13 antigos palácios e templos ainda permanecem, entre eles os palácios Taiqing, Shangqing e Taiping, e o Templo Memorial para Guan Yu. Yuqing (Pureza do Jade), Shangqing (Elevada Pureza) e Taiqing (Virtuosa Pureza) são as três supremas divindades do taoismo, e corporificam sua filosofia central, segundo a qual “O Tao produz o um, o um produz o dois, o dois produz o três… e o três produz tudo”. Os taoistas acreditam que as três supremas divindades residem em um reino celestial muito distante e misterioso, controlando outras divindades e o universo, ao mesmo tempo que protegem a sociedade humana.

Na língua chinesa, a expressão “sacerdote taoista de Laoshan” se refere a mistério e magia. Ela se origina de uma história na obra chinesa clássica Estranhos contos de uma Oficina Chinesa, escrita por Pu Songling durante a Dinastia Qing.

Ela conta a história de um jovem que deixou a família e foi para Laoshan ao descobrir que os sacerdotes do lugar eram adeptos da magia taoista. No entanto, o jovem era mimado demais para suportar as dificuldades que os sacerdotres enfrentavam e no final não conseguiu realizar nada. Na história, Pu Songling retrata vários mitos e lendas sobre os sacerdotes taoistas. Por exemplo, a de que eles tinham a capacidade de atravessar paredes, transformar um pedaço de papel redondo na Lua, fazer um pauzinho de comer virar a deusa da Lua, e conseguir que uma garrafa de vinho jorrasse infindavelmente, entre muitas outras habilidades. Por isso, os sacerdotes taoistas com frequência são vistos envolvidos numa aura de mistério.

Para conhecer melhor Qingdao e arredores

Ponte Zhanqiao

Também conhecida como Damatou (Grande Píer), a Ponte Zhanqiao no norte da baía de Qingdao é um marco da cidade, com mais de cem anos de história. Primeiro cais feito pelo homem na cidade e destinado a uso militar, foi transformada em atracadouro de carga após a tomada da cidade pelos alemães.

Um tradicional pavilhão octogonal em estilo chinês ergue-se na ponta sul, revestido por cerâmica vitrificada amarela e apoiado por 24 colunas. Com uma área total de 340 metros quadrados, o pavilhão de dois andares constitui ótima plataforma para apreciar a vista do mar. Se você subir os 34 degraus em espiral até o topo, terá uma vista belíssima, uma das dez melhores que a cidade oferece.

Como chegar: A Ponte Zhanqiao fica próxima da Estação de Trem de Qingdao. Dá para ir a pé.

 

Antigo escritório do governador alemão

Situado na encosta sul da montanha Guanhai, esse complexo foi construído durante a ocupação alemã e abriga hoje uma pousada.

Projetado pelo arquiteto alemão Werner Lazarowicz, sua construção levou três anos – foi concluída em 1908. A edificação de quatro andares, que conta ainda com um anexo, combina os estilos do período Guilhermino alemão e o Jugendstil. A magnífica decoração interior lembra os palácios europeus. Tesouros recolhidos ao redor do mundo estão agora em exposição no interior do edifício.

Como chegar: Pegue o ônibus nº 220 para Longkou Road

 

Palácio Taiqing

De frente para o mar, com montanhas ao fundo, o Palácio Taiqing é um dos pontos altos de Laoshan. Construído durante a Dinastia Song do Norte (960-1127), o palácio tem um estilo arquitetônico simples e três majestosos edifícios centrais – Sanguan, Sanhuang e Sanqing. Vale a pena visitar também os pequenos locais de lindas vistas e os entalhes em pedra que ficam na vizinhança imediata do palácio.

 

Museu da Cerveja de Tsingtao

Numa área de mais de 6 mil metros quadrados, o Museu da Cerveja de Tsingtao é o único museu da China dedicado à bebida. Localizado no local da Cervejaria Tsingtao original, o museu narra a história do desenvolvimento da cerveja Tsingtao e do setor cervejeiro da China. Material de arquivo e fotos dão aos visitantes um vislumbre da história da cerveja e de suas técnicas, e os artefatos doados pelos descendentes de alguns alemães e japoneses que trabalharam na velha Tsingtao Brewery tornam a exposição ainda mais interessante.

Como chegar: Pegue os ônibus nº 205, 217 ou 604.

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