Antigo grupo étnico do sudoeste da China, os gin são parentes dos kinh, predominantes no Vietnã. Seus membros acreditam ser descendentes do povo Nanyue, que constituiu um reino de 204 a 112 a.C. no sul da China e norte do Vietnã.
Por volta do século XVI, alguns migraram de Do Son, perto da cidade vietnamita de Haiphong, para as Três Ilhas – Wutou, Shanxin e Wanwei – no Guangxi, na China. Ali se juntaram a vários outros grupos, como os nan e os zhuang, para explorar e desenvolver as ilhas. Em 1958, o governo central reconheceu oficialmente os gin como uma minoria étnica, levando em conta suas características distintas de história, língua, cultura e costumes, e depois de ouvir as opiniões das pessoas que compõem a etnia.
O Festival Ha (palavra que significa “canto” na língua gin) é um dos eventos mais celebrados deste povo, que subsiste tradicionalmente da pesca. O festival celebra o nascimento do Deus do Mar e foi declarado patrimônio nacional intangível em 2006.
Um povo do mar
A pesca marítima e a agricultura são os principais suportes da renda dos gin, e o mar define todos os aspectos da vida desses ilhéus. Sua fé é politeísta, incorporando a religião natural ao taoismo e ao budismo. A partir do espanto e perplexidade com as condições imprevisíveis e formidáveis do mar, os primeiros gin criaram uma série de divindades relacionadas ao azul profundo, como o Senhor Pacificador do Mar, o Rei Dragão, o Deus do Mar e a Deusa do Mar, protetores dos pescadores com suas bênçãos para que voltem a salvo para casa e com bons peixes.
Os gin adoram cantar. Suas canções populares são expressas por mais de trinta tipos de baladas, a maioria delas tendo o mar como tema. A etnia tem um instrumento musical característico, feito com uma estrutura de bambu e uma única corda, que dizem ter sido roubada do palácio do Rei Dragão.
Seus mitos ancestrais – deuses marinhos, criaturas e plantas em formas humanas – estão invariavelmente ligados ao ambiente marinho e demonstram o vínculo entre o grupo e o mar, seu amor por ele e sua luta para ganhar a vida com suas riquezas. Os esportes dos gin também são baseados nas profundezas salgadas. O mar é o elemento onipresente na vida e na cultura gin.
Sacrifícios ao mar
O Festival Ha é promovido principalmente pelos gin da Região Autônoma da Etnia Zhuang de Guangxi. A data de início das festividades varia nas diferentes regiões – o 10o dia do sexto mês lunar nas ilhas Wanwei e Wutou, o 10o dia do oitavo mês lunar na ilha Shanxin, e o 25o dia do primeiro mês lunar para certas aldeias ao longo da costa; mas o formato e conteúdo são similares, e o tema é a oferta de um sacrifício ao Deus do Mar e a realização de orações para uma boa colheita e segurança.
Antes dos três dias do festival, os gin limpam suas casas e quintais. Quando chega o dia, vestem suas melhores roupas e se reúnem no Pavilhão Ha para uma série de atividades festivas que prosseguem noite adentro. O ritual começa com saudações aos deuses. Todos os residentes da comunidade vêm à praia carregando o santuário, estandartes e um guarda-chuva gigante, convidando os deuses ao Pavilhão Ha. Por volta das três da tarde, um sacerdote, na presença de toda a comunidade, saúda os deuses do mar e do céu, assim como o espírito dos ancestrais gin, e então lê uma ode e oferece-lhes vinho e outros presentes. Isso é seguido por performances que têm o intuito de entreter mortos e imortais e consistem em cantos, danças e contação de histórias.
Na conclusão do ritual, alguns dos participantes se sentam para um banquete e para assistir ao “Ha”. É um privilégio dos homens ajudar a preparar os objetos sacrificiais e servir a comida e as bebidas. Mulheres e crianças podem também ajudar no trabalho preparatório, mas depois irão apenas ouvir o “Ha” do lado de fora do pavilhão.
Duas mulheres jovens se revezam para cantar o Ha, enquanto um homem toca um instrumento de três cordas. Uma mulher canta, e ao mesmo tempo brande e bate duas varas de bambu, e dita o ritmo com as suas batidas, enquanto os outros acompanham. Depois que a cantora termina um verso, o homem dedilha seu instrumento e faz uma parte instrumental da música. Esse ciclo prossegue até que uma cantora se cansa, e então a outra assume seu lugar. O canto Ha prossegue durante três dias, e as canções abrangem desde temas folclóricos e de filosofia de vida até o amor.
O último passo do ritual é despedir-se dos deuses, o que é feito em meio a um coro onde todos os participantes cantam. Além do canto, que fica a cargo principalmente das mulheres, os esportes dos homens também são um aspecto importante do Festival Ha, e incluem uma tourada, disputas de artes marciais e outros tipos de luta.
A origem
Há vários mitos sobre a origem do festival. Segundo o mais conhecido deles, um gigante de cem pés no Golfo de Beibu exigia comer um homem a cada navio que passasse, e ameaçava produzir uma tempestade para afundá-lo caso não fosse atendido. Um deus então matou o monstro e cortou-o em três pedaços, que se tornaram as três ilhas de Wutou, Shanxin e Wanwei. Esse deus foi a partir de então adorado pelos gin como o Senhor Pacificador do Mar, e todo ano são oferecidos a ele sacrifícios no Pavilhão Ha.
O Pavilhão, principal local das celebrações do Festival Ha e de outros grandes eventos dos gin, é um espaço público dedicado à memória dos ancestrais e dos deuses, assim como para atividades de recreação da comunidade. Fica nos arredores da vila, e é construído com as melhores madeiras disponíveis na região. O estilo alterna-se entre primitivo e ornamentado, e incorpora evidentemente elementos da cultura Han, como a escultura do par de dragões, um motivo han tradicional, colocados no beiral do telhado.
O pavilhão é formado pelos salões central, esquerdo e direito. O saguão central abriga o santuário, onde ficam as tabuletas memoriais dos ancestrais e deuses. As colunas na sala são esculpidas com quadras ou poemas. Nos pavilhões Ha maiores, a plataforma onde o ritual é encenado é flanqueada por seções escalonadas, com assentos reservados aos mais velhos da comunidade e àqueles que fizeram doações para a construção do pavilhão ou para a organização do Festival Ha. Seus assentos ficam dispostos segundo seu status e suas contribuições.
Crenças e costumes dos gin
Os gin sempre reverenciam seus muitos deuses. Os pescadores realizam rituais a cada pesca concluída e antes de uma nova jornada no mar, pedindo bênçãos aos deuses. Uma pescaria que rende menos peixes do que o normal também requer um ritual de sacrifício, realizado na praia. E os seguintes atos são considerados tabus e devem ser sempre evitados:
• Pisar numa rede de pesca na praia.
• Sentar sobre uma nova balsa de bambu antes de sua viagem inaugural.
• Pedir dinheiro emprestado depois que escurece.
• Uma mulher grávida mudar sua cama de lugar ou entrar no Pavilhão Ha.
• Colocar tigelas e pratos em pé a bordo do navio.
• Sentar-se com as pernas balançando para fora da amurada, ou próximo à proa quando se estiver queimando incenso.
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