A recém-concluída 14a Cúpula do BRICS, hospedada virtualmente pela China em razão das medidas para controle da disseminação da Covid-19, teve lugar em meio aos desafios impostos por contos globais, políticas de saúde discriminatórias e sanções envolvidas em hipocrisia. Ela convocou as nações em desenvolvimento a fortalecer a confiança política mútua e a cooperação em segurança, a ter uma comunicação e coordenação mais próximas nas grandes questões internacionais e regionais, e a manter a solidariedade e a harmonia.
O BRICS foi criado para conectar as nações do Sul Global a fim de que superassem a marginalização política, financeira e econômica a que essa região estava sendo submetida, e refocalizar a trajetória da globalização para afastá-la do protecionismo, do unilateralismo e de tendências hegemônicas. Na essência da fundação do BRICS estava uma cooperação equitativa, inclusiva, justa e representativa para aparelhar recursos voltados a beneficiar as pessoas por meio de uma cooperação mútua tangível, e construir um mundo sustentável e igualitário.
Na abertura da cúpula dos líderes, que juntou Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o presidente chinês Xi Jinping disse: “A China gostaria de trabalhar com os parceiros do BRICS para operacionalizar a Iniciativa de Segurança Global (ISG) e trazer maior estabilidade e energia positiva ao mundo”.
Xi propôs a ISG em seu discurso por vídeo na abertura do Fórum Boao para a Conferência Anual da Ásia, em 21 de abril deste ano. A iniciativa defende uma visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável, segue a filosofia de que a humanidade é uma comunidade de segurança indivisível, e visa criar um novo caminho para a segurança que coloque o diálogo acima da confrontação, a parceria acima da aliança e resultados ganha-ganha acima de resultados de soma zero. A iniciativa vem tendo ampla acolhida por países em desenvolvimento ao redor do mundo. Xi também anunciou várias iniciativas que irão aprimorar e fortalecer as ações conjuntas do BRICS.
Várias medidas foram tomadas em relação às metas. Este ano, os países do BRICS lançaram a Iniciativa de Aprimoramento da Cooperação nas Cadeias de Suprimento e a Iniciativa sobre Comércio e Investimento para o Desenvolvimento Sustentável, adotaram o Acordo de Cooperação e Mútua Assistência Administrativa em Questões Alfandegárias e a Estratégia sobre Cooperação para Segurança Alimentar, e realizaram uma Reunião de Alto Nível sobre Mudança Climática pela primeira vez. “Precisamos fazer bom uso dessas novas plataformas para incentivar a conectividade das cadeias industrial e de suprimentos e enfrentar conjuntamente desafios para a redução da pobreza, para a agricultura, energia, logística e outros campos”, enfatizou Xi. E acrescentou: “Devemos apoiar maior crescimento do Novo Banco de Desenvolvimento e um processo constante para admitir novos membros, e melhorar o Arranjo de Reserva Contingencial para cimentar a rede de segurança financeira do BRICS e seu firewall. Devemos também expandir a cooperação do BRICS no pagamento transfronteiras e na classificação de crédito para favorecer o comércio, investimento e financiamento entre nossos países”.
O fato de cada vez mais países e regiões estarem emergindo da pobreza e do subdesenvolvimento causa pânico e paranoia entre as chamadas economias desenvolvidas e avançadas. Esses países estão cotados entre os mais ricos do mundo, são sede de algumas das maiores corporações e conglomerados multinacionais, e respondem por vários trilhões em receita. Será que empacaram num pensamento antigo de que sua superioridade nunca pode ser desafiada? Estão presos à sua própria propaganda e retórica? Sentem-se perdidos nesse crucial ponto de inflexão de um mundo em forte mudança?
Ao anunciar o financiamento de projetos em moedas locais, o presidente do Novo Banco de Desenvolvido (NBD), Marcos Troyo, também deu boas-vindas a Egito, Uruguai, Emirados Árabes Unidos e Bangladesh, como novos membros do banco. A dependência do dólar americano tem deixado exposto o inconfiável e injusto sistema monetário hegemônico, muito afetado por manipulação, indevida coerção e padrões duplos injustos, levando a atividades e práticas nefastas e ilegais.
A criação do NBD, proposta pela Índia em Nova Délhi quando ela sediou a cúpula em 2012, tinha como premissas a construção de uma instituição financeira focada nas necessidades das nações emergentes, afastando-se das políticas regressivas e desatualizadas que impedem o crescimento e o desenvolvimento. Real, Rublo, Rúpia, Renminbi e Rand são os cinco Rs que compõem as moedas do BRICS. Elas representam 3,2 bilhões de pessoas, ou mais de 40% da população mundial, cobrindo 26% da massa de terra do planeta ao longo de quatro continentes, bem como 25% do PIB global e 20% do comércio mundial.
O conflito entre Rússia e Ucrânia tem levado vários países a reexaminar suas políticas de relações internacionais e subscrever a conclamação do BRICS para um multilateralismo coeso e colaborativo. Arábia Saudita, Argentina, Egito e Indonésia têm demonstrado interesse na expansão do BRICS. Paz global, estabilidade, interdependência, imparcialidade e objetividade são os elementos de cooperação significativos que permitirão que as nações do Sul Global floresçam e assumam o controle de seu destino, permitindo que contribuam e sejam parte da solução para superar os desafios que elas enfrentam.
“Nos últimos anos, vários países têm pedido para se juntar ao mecanismo de cooperação do BRICS. Trazer sangue novo injetará nova vitalidade à cooperação do BRICS e aumentará sua representatividade e influência. Este ano tivemos, em ocasiões separadas, discussões profundas a respeito de expandir o número de membros. É importante avançar nesse processo para que parceiros de mentalidade similar tornem-se parte da família BRICS o quanto antes”, disse o presidente Xi.
O primeiro-ministro indiano Narendra Modi afirmou: “Os membros do BRICS têm uma abordagem similar a respeito da governança da economia global. Nossa cooperação mútua pode dar uma contribuição útil à recuperação global pós-Covid”. Ele acrescentou estar “confiante de que nossas deliberações hoje produzirão sugestões para maior fortalecimento de nossos laços”. Por sua vez, o presidente russo Vladimir Putin observou: “Temos confiança de que hoje, como nunca antes, o mundo precisa da liderança dos países do BRICS para definir um curso unificador e positivo voltado a formar um sistema de fato multipolar de relações entre Estados, baseadas nas normas universais da lei internacional e nos princípios-chave da Carta da ONU. Nesse contexto, podemos contar com o apoio de vários Estados da Ásia, África e América Latina, que buscam seguir uma política independente”.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse: “A conexão entre nossas comunidades de negócios é uma das nossas prioridades no BRICS. Ao nos conhecermos melhor, nossos empreendedores poderão fechar negócios que resultem em ganhos mútuos, beneficiando também os trabalhadores de nossos países”.
O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, declarou: “A resposta do BRICS à pandemia da Covid-19 demonstrou o que pode ser conseguido quando trabalhamos juntos com espírito de amizade, solidariedade e responsabilidade. O lançamento do Centro para Pesquisa e Desenvolvimento de Vacinas do BRICS em março deste ano irá fortalecer a saúde internacional e a cooperação científica, preparando-nos para enfrentar futuras crises”. A África do Sul irá sediar a 15a Cúpula do BRICS em 2023.
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