O Brics dá as boas-vindas à sua segunda década

Às vesperas da realização da IX Reunião de Cúpula dos Brics, que será realizada em setembro próximo em Xiamen, na China, a revista China Hoje foi ouvir especialistas dos países-membros do grupo a respeito das perspectivas do bloco para os próximos dez anos

Desde que os ministros do exterior de Brasil, Rússia, Índia e China (Bric) ser reuniram pela primeira vez em setembro de 2006, a cooperação entre as nações do Brics (o “S” acrescentado refere-se à África do Sul, incorporada mais tarde) continuou forte e tem rendido muitos frutos em diversas áreas, como política, economia e mudança cultural, afirmou Wang Xiaolong, enviado especial do Ministro de Relações Exteriores da China para Assuntos do Brics, em discurso feito no Simpósio Think Tank do Brics de 2017, realizado em março último, em Pequim. “A criação e desenvolvimento do mecanismo do Brics atende à necessidade de um sistema de governança global mais justo e equânime, e ao interesse comum da comunidade internacional.”

Wang anunciou também que a Cúpula do Brics de 2017 será realizada em setembro em Xiamen, Província de Fujian. Como país-sede, a China convocará todos os seus parceiros para um trabalho conjunto, no sentido de criar uma “Parceria mais forte para um futuro mais brilhante” – que é o slogan da cúpula para este ano – e dar as boas-vindas a uma segunda década de cooperação, à luz da experiência passada e tendo em vista o desenvolvimento futuro.

Revisão das conquistas do Brics –“Formado pela aliança entre cinco nações emergentes, todas com forte impulso e potencial, o Brics foi visto de início como uma iniciativa de investimento. Dez anos depois, os cinco países têm reagido com sucesso às expectativas da comunidade internacional, obtendo resultados concretos”, declarou Wang Xiaolong. O agregado econômico do bloco do Brics, em termos da porcentagem do total mundial, aumentou de 12 para 23%. Para Wang, isso significa que os cinco países têm dado uma forte contribuição ao desenvolvimento global.

A ideia da aliança do Brics foi apresentada pela primeira vez em 2001 por Jim O’Neill, então economista-chefe do Goldman Sachs. O’Neil identificou quatro mercados emergentes principais – Rússia, China, Brasil e Índia – e se referiu a eles com a sigla “Bric”. Em 2010, a África do Sul se juntou ao clube.

Segundo Wang Xiaolong, as nações do Brics têm desempenhado um papel positivo na realização de reformas da governança econômica global, garantindo um sistema de comércio multilateral, e dando a mercados emergentes e a países em desenvolvimento maior voz nesses aspectos. O Novo Banco de Desenvolvimento e o Contingent Reserve Arrangement (Arranjo Contingente de Reservas), criados e lançados pelo bloco do Brics, também contribuíram para a governança econômica global.

Zhao Jinping é diretor do Departamento de Relações Econômicas Exteriores no Centro de Pesquisa do Desenvolvimento do Conselho de Estado. Ele recentemente visitou várias vezes Rússia, Brasil, África do Sul e Índia. “Estou muito impressionado com suas culturas ricas e diversificadas e com a vitalidade de seu desenvolvimento econômico e social”, declarou Zhao. Ele viajou a Nova Délhi no último mês de novembro e conversou com especialistas do Instituto Nacional para a Transformação da Índia, que reafirmaram sua visão otimista da futura cooperação entre os países do Brics.

As nações do Brics têm feito sempre uma defesa firme da globalização, já que se beneficiaram dessa tendência de desenvolvimento, declarou Zhao. Ele acredita que esses países devem agir coletivamente mais do que independentemente, a fim de levar o processo adiante. “Isso destaca a importância da cooperação entre os países do Brics”, ressalta Zhao, acrescentando que estabelecer zonas de livre comércio (free trade zones, ou FTZs) e acordos de livre comércio de alto nível irá facilitar muito a cooperação econômica entre as nações do Brics.

Cooperação financeira – “A cooperação entre os países do Brics estende-se agora além da esfera econômica”, disse George Zinoviev, ministro-conselheiro da Embaixada da Rússia na China. Ele observou que nos últimos anos, nas Nações Unidas e em outras plataformas internacionais, as nações do Brics têm sido bem-sucedidas em coordenar suas posições e realizado ações em uma ampla gama de questões globais, como terrorismo, tráfico de drogas e corrupção, além de trabalhar para garantir a segurança das informações em âmbito internacional.

“Além disso, sua cooperação na área dos intercâmbios culturais e pessoa-pessoa também cresceu rapidamente”, declarou Zinoviev. Com isso em mente, todas as partes têm defendido uma cooperação cada vez maior, o que deu origem ao “Brics Plus”, um modelo cooperativo assim nomeado pelo ministro do Exterior chinês, Wang Yi.

Zinoviev enfatizou o progresso que a cooperação financeira tem alcançado dentro do mecanismo do Brics. O Novo Banco de Desenvolvimento já confirmou até agora sete projetos de investimento nos cinco países. A cooperação dentro do Arranjo Contingente de Reservas também teve início. Zinoviev acredita que “os dois novos mecanismos são capazes de desempenhar um papel-chave no sistema monetário internacional”.

O Simpósio Think Tank do Brics de 2017 definiu o tema “fortalecer a cooperação financeira e promover o desenvolvimento do Brics”. Luan Jianzhang, secretário-geral do Conselho Chinês para a Cooperação Think Tank do Brics, observou que para os mercados emergentes e os países em desenvolvimento envolvidos no mecanismo do Brics, suas vozes e nível de representação dentro da governança econômica global estão largamente correlacionados aos do sistema financeiro internacional.

A criação do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente de Reservas marcaram o início da cooperação do Brics. A cooperação financeira tornou-se, a partir de agora, um aspecto-chave da cooperação integral das nações do Brics, e tem sido muito frutífera. Desde 2011, é realizada uma reunião anual dos ministros financeiros do Brics e dos diretores de bancos centrais. Segundo Wang Xiaolong, o Novo Banco de Desenvolvimento aprovou o primeiro lote e emitiu Bônus Verdes na China no valor de 3 bilhões de yuans. Os países do Brics têm ainda atuado conjuntamente dentro de estruturas internacionais como o G20, e buscado coordenação em uma gama de questões, entre elas a reforma do sistema financeiro e monetário internacional.

Carlos Henrique Angrisani Santana, representante especial do embaixador brasileiro na China, acredita que o Novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas irão em alguma medida estimular a reforma do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, levando-os na direção de representarem melhor os países em desenvolvimento.

Missões – Nos últimos anos, a mídia ocidental tem reagido sem muito entusiasmo à iniciativa do Brics. Qual é o futuro desse mecanismo?

A globalização econômica está num ponto de virada. Em 2016, o comércio mundial cresceu 1,7%, e o PIB 3,1% – o índice mais baixo desde a irrupção da crise financeira em 2008. Em contraste com isso, as economias do Brics exibiram uma tendência de crescimento – em 2016, a Índia manteve seu índice de crescimento de 7%, a China cresceu 6,7%; e nos outros três países, a tendência de queda diminuiu e suas economias mostraram sinais de recuperação, embora a tendência de crescimento zero ou negativo não tenha sido afastada. Tudo isso é fruto de um melhor ambiente econômico mundial, mas também da cooperação entre os países do Brics.

Zhao Jinping comentou que o crescimento nas demandas de importação da China também injetou um impulso na recuperação econômica dos países do Brics e do mundo como um todo. Examinando as importações de janeiro a fevereiro de 2017, a taxa de crescimento das importações da Índia, Brasil, África do Sul e Rússia manteve um nível mais alto do que o de outros países – a Índia chegou a 52%, África do Sul e Rússia ficaram entre 41 e 43%, e o Brasil com 39,4 %.

A embaixatriz da África do Sul na China, Dolana Msimang, vê com muito bons olhos a cooperação entre os países do Brics. Ela declarou que a África do Sul é um participante ativo na agenda do Brics, e que os países do Brics e os mercados emergentes terão um papel mais decisivo na reconstrução dos sistemas globais de supervisão financeira e econômica.

Quanto à economia do Brics, Luan Jianzhang enfatizou que os cinco países devem ter confiança em si mesmos, o que definiu como uma alta prioridade. Além disso, precisam fomentar maior abertura, inovação e cooperação sob o mecanismo do Brics, e ao mesmo tempo combater o protecionismo.

Em fevereiro de 2017, foi realizado em Nanquim, Província de Jiangsu, o Primeiro Encontro Sherpa do Brics. Em discurso na cerimônia de abertura, o Conselheiro de Estado chinês Yang Jiechi definiu as tarefas e os pontos-chave do trabalho preparatório para a Cúpula do Brics em Xiamen.

A comunicação e a cooperação progridem em diferentes áreas dos países do Brics. Nos dias 27 a 29 de março, foi realizado em Xangai o Oitavo Encontro de Chefes de Órgãos Estatísticos Nacionais dos Países do Brics. Em 31 de março, teve lugar o Encontro Trimestral do Conselho de Negócios do Brics em Nova Délhi, no qual a China assumiu a presidência do Conselho de Negócios do Brics. Em 6 de abril, foi a vez da Oitava Reunião dos Chefes de Escritórios de Propriedade Intelectual do Brics, realizada em Nova Délhi. Essas reuniões irão favorecer a comunicação entre os países do Brics e melhorar sua cooperação em todas as áreas.


O ministro chinês das Finanças Xiao Jie anunciou as áreas-chave de cooperação que a China irá promover como nação anfitriã da Cúpula do Brics de 2017, durante o encontro de ministros das Finanças e diretores de bancos centrais dos países do Brics, realizada na cidade de Baden-Baden, sul da Alemanha, em 17 de março de 2017.

  • Aprimorar a coordenação de políticas macroeconômicas para o crescimento econômico mútuo
    • As nações do Brics tomarão medidas para estimular o crescimento econômico e apelar para que os países desenvolvidos adotem políticas macroeconômicas mais responsáveis num esforço para reduzir as consequências globais.
    • Defender o antiprotecionismo.
  • Aprimorar a cooperação sob a estrutura do G20 para dar maior voz ao Brics
    • As nações do Brics irão avançar na implementação de resoluções-chave da Cúpula do G20 de Hangzhou em 2016, particularmente nas áreas de reformas estruturais, investimento em infraestrutura e cooperação fiscal internacional, a fim de reforçar a continuidade e eficácia do mecanismo do G20.
    • Apoiar a Alemanha, anfitriã da Cúpula do G20 de 2017 em Hamburgo, e promover seu sucesso.
  • Expandir o âmbito da cooperação e elevar seu nível
    • A China espera promover os mecanismos de cooperação existentes, como o Novo Banco de Desenvolvimento, mas também explorar novas áreas de cooperação financeira, incluindo as governamentais e de capital social, a convergência de padrões contábeis internacionais e a auditoria fiscal e a supervisão.

Por Lu Rucai.

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