A crise econômica brasileira e a necessidade de investimentos externos encontraram na disposição chinesa para comprar produtos e investir no Brasil a ocasião para aprofundar ainda mais a relação entre os dois países.
O Brasil enfrenta desafios que são comuns à China, tais como o fato de ter um extenso território para exercer soberania, governar uma população numerosa (o Brasil é o quinto maior país do mundo em termos populacionais), problemas demográficos decorrentes do envelhecimento da população, desafios relacionados à pobreza e também à qualidade de vida nas grandes cidades, além das questões ambientais. Desde esta perspectiva, faz mais sentido estudar o que a China está fazendo para resolver os problemas nestes domínios do que estudar países desenvolvidos que enfrentam desafios de outra ordem.
Mas se há vários pontos em contato entre as realidades sino-brasileiras, há também, uma diferença na trajetória dos dois países que salta aos olhos. Há algumas décadas eram os chineses que olhavam para a economia brasileira com certa admiração. Afinal, enquanto o Brasil construía uma cidade inteira para ser a sua capital, e a sua economia crescia mais do que a de muitos países do mundo, a China estava empobrecida e dando os seus primeiros passos na direção de uma política de reforma e abertura econômica. Agora os sinais estão trocados. Neste ano de 2018, a China celebra os 40 anos daquela exitosa política e já na condição de segunda maior economia do mundo, e o Brasil vive uma crise econômica agravada por um governo político que paralisa o país para o futuro.
Mesmo diante desse cenário, há os que sustentam que o Brasil é mais avançado que a China. Não é o que diz o relatório Doing Business do Banco Mundial. Na classificação relativa à facilidade para se fazer negócios, o Brasil está na 125ª posição, enquanto a China está na 78ª posição. Logo, o ambiente regulatório chinês é mais propício para a criação e operação de uma empresa local do que o Brasil. No comércio internacional, a China ocupa a 97ª posição e o Brasil é o 139º colocado. Os custos para importar e exportar são mais caros em terras brasileiras, portanto. Ambos os países têm muito o que melhorar, mas no mundo dos negócios a China está melhor posicionada.
E no mundo do conhecimento?
Em maio deste ano a revista Times Higher Education (THE) divulgou o ranking de Universidades de Economias Emergentes. Foram avaliadas 350 instituições de 42 países. As universidades da parte continental da China ocuparam sete as dez primeiras posições no ranking: Universidade de Pequim (1º); Universidade de Tsinghua (2º); Universidade Fudan (4º); Universidade de Ciênca e Tecnologia da China (5º); Universidade de Zhejiang (6º); Universidade de Xangai Jiao Tong (7º); Universidade de Nanquim (8º). O Brasil emplacou cinco universidades entre as 100 melhores. A USP, a melhor posicionada dentre as brasileiras, ficou em 14º lugar.
Comércio e conhecimento andam juntos e são os meios através dos quais a China se desenvolve e empreende seu esforço de abertura para entender mais o mundo e, também, ser por ele compreendida. Isto explica o investimento chinês no aprendizado do idioma português. Atualmente, 37 universidades chinesas ensinam o português. Pretende-se chegar ao número de cinquenta em menos de dez anos. Já no Brasil as universidades não acompanham o crescente (porém ainda incipiente) interesse pelo idioma chinês. E a maioria das universidades brasileiras que oferecem cursos de mandarim contam com o apoio do próprio governo chinês que nelas instalam os Institutos Confúcio. Ou seja, é a China que está financiando o aprendizado do português na China e do chinês no Brasil. O mesmo podemos dizer em relação aos pesquisadores brasileiros que estão estudando a China. Dos poucos e sérios pesquisadores que há, a maioria estuda ou estudou na China com financiamento do governo chinês.
A falta de compreensão mais acurada sobre a China não se dá pode falta de interesse do lado chinês, mas do lado brasileiro que ainda se fia nos “especialistas de ocasião” e se deixa assustar pelo questionável discurso da “ameaça chinesa”. A postura de rejeição à China é contrária aos interesses brasileiros e está em dissonância com o esforço chinês de construir laços de amizade com o Brasil. Não é resistindo à China que o Brasil irá retomar o seu caminho de desenvolvimento. Muito pelo contrário. É preciso ter a humildade que os chineses tiveram outrora e buscar aprender com quem tem algo a ensinar. E os dados acima apontados dizem algo sobre isto. O caminho mais sensato e produtivo para o Brasil é criar laços de cooperação e amizade com os chineses para aprendermos com eles aquilo que é preciso aprender para que o Brasil saia da sombra do século XX e veja mais claramente as possibilidades de futuro no século XXI.
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