Ganhando novas perspectivas

Profissionais de mídia e cultura do Brasil encontram respostas sobre a China

Por Tao Xing

“Qual porcentagem da energia da China vem da energia solar e qual vem da hidrelétrica?” Na noite de 14 de outubro, dia em que chegaram à China, membros de um grupo cultural e de mídia do Brasil fizeram essa pergunta à mesa de jantar.

Depois de saber que “em 30 de junho, a capacidade instalada de energia renovável (eólica, solar, hídrica e de biomassa) na China havia atingido 1,653 bilhão de quilowatts, isto é, cerca de 53,8% da capacidade instalada total do país”, assentiram com a cabeça satisfeitos e continuaram sua refeição.

Este grupo de nove renomados profissionais da cultura e da mídia brasileiros foi convidado a ir à China para participar de intercâmbios culturais em Pequim, nas Províncias de Sichuan e de Zhejiang e em Xangai, de 14 a 25 de outubro, no âmbito do “Descubra China: Tour de Figuras Culturais do Brasil”, co-organizado pelo Centro para as Américas do Grupo de Comunicações Internacionais da China (CICG da sigla em inglês), em colaboração com o Kwai, rede social de compartilhamento de vídeos curtos e tendências. Com o tema Explore a China Dinâmica e Abrace a Amizade China-Brasil, o passeio objetivou apresentar uma imagem abrangente e precisa da China e promover o entendimento mútuo entre os povos da China e do Brasil. Kelly Dores, jornalista da agência de mídia brasileira Propmark, disse: “Fico feliz em ver que a China trabalha duro para construir uma plataforma de comunicação entre os povos da China e do Brasil, pois isso é muito importante”.

Dos nove membros do grupo, sete visitavam a China pela primeira vez. No entanto, Ricardo Piquet, diretor-geral no Brasil do Instituto de Desenvolvimento e Gestão e presidente do Museu do Amanhã, já havia visitado a China duas vezes, em 2006 e 2016. Ele expressou sua satisfação por estar na China de novo e testemunhar como o país se transformou em tão pouco tempo. “Vim testemunhar e desejar que essa aproximação entre China e Brasil aconteça da melhor maneira possível”, declarou.

Diálogo – No dia 16 de outubro, depois de assistir à exposição fotográfica Bela China, Belo Brasil – Comemoração do 50º Aniversário das Relações Diplomáticas China-Brasil, no Centro de Intercâmbio Cultural China-América Latina, em Pequim, os nove participantes da excursão se envolveram em um diálogo especial com especialistas chineses e alguns brasileiros residentes na China.

“Quem lê regularmente notícias sobre a China, por favor, levante a mão”, disse Filipe Porto, editor brasileiro que trabalha na CICG Américas, dirigindo-se aos nove membros da turnê. Todos levantaram as mãos. Então, Porto disse: “Quem acredita que a mídia brasileira faz um bom trabalho ao reportar sobre a China, por favor, levante a mão”.

Ninguém levantou. Isso abriu uma discussão sobre os desafios de promover uma imagem verdadeira da China no Brasil. Wesley Gonsalves, repórter do jornal O Estado de São Paulo, de São Paulo, observou: “A influência da mídia americana, como o The New York Times, é significativa no Brasil; suas reportagens sobre a economia chinesa afetam as percepções brasileiras. A influência da mídia econômica chinesa no Brasil ainda precisa ser fortalecida”.

Mauro Ramos Pinto, correspondente da TV dos Trabalhadores na China, participou como convidado desse diálogo. Ele explicou que as noções equivocadas dos brasileiros a respeito da China decorrem das reportagens da grande mídia internacional, que defende os interesses do Norte Global e não os do Brasil. Como repórter na China, ele trabalha para entender a China e transmitir esse entendimento aos brasileiros.

A blogueira de culinária brasileira Larissa Soares, membro do grupo do tour, expressou o desejo de ver não apenas estatísticas econômicas e tópicos políticos, mas mais conteúdo cultural, como sobre a culinária chinesa, para aumentar o apelo da China por meio de programas relacionados à alimentação.

O professor Xiang Yunju, reitor executivo da Academia de Comunicação Internacional da Cultura Chinesa da Universidade Normal de Pequim, apresentou um projeto convidando jovens estudantes brasileiros para irem à China filmar documentários. Ele ressaltou que os intercâmbios de cinema e culturais em geral fortalecem o entendimento entre os povos dos dois países. Mencionou um jovem brasileiro da Universidade de São Paulo que veio
para a Região Autônoma Uigur de Xinjiang em 2015 para filmar um documentário sobre a vida familiar local, ganhando vários prêmios em festivais internacionais de cinema e atraindo atenção significativa nas mídias sociais chinesas. Oito anos depois, o diretor do documentário foi convidado a voltar à China para filmar de novo a mesma família. Segundo Xiang, isso é prova da amizade duradoura entre os povos da China e do Brasil.

Os participantes do diálogo também trocaram ideias sobre como relatar com precisão a cooperação econômica e cultural China-Brasil e a responsabilidade social das empresas chinesas no Brasil, bem como o aprimoramento dos intercâmbios entre profissionais culturais e de mídia dos dois países.

Leitura da China – Durante sua visita de 12 dias, os membros da excursão apreciaram a beleza da arquitetura chinesa antiga na Cidade Proibida de Pequim e observaram de perto os pandas gigantes em uma base na cidade de Dujiangyan, em Sichuan. Viajando por Zhejiang, constataram o desenvolvimento do setor de vídeos curtos da China e a transmissão ao vivo de comércio eletrônico em Hangzhou. Puderam também sentir o valor que a China dá ao meio ambiente na vila de Yucun, no distrito de Anji, e visitar Yiwu, para ver a Ferrovia Yixinou (Yiwu-Xinjiang-Europa), uma rota de trens de carga China-Europa que conecta a cidade ao mundo. Exploraram ainda a maneira pela qual a tecnologia empodera os museus no Museu de História Natural de Xangai e conduziram entrevistas na Lilith Games em Xangai, sobre o tema dos jogos chineses e da dimensão global que eles vêm ganhando. Os diferentes aspectos da China com os quais tiveram maior contato durante o evento foram todos eles devidamente documentados.

Mariana Alonso, diretora de planejamento do noticiário matinal da rede de tv aberta brasileira SBT – Sistema Brasileiro de Televisão, observou que a distância geográfica entre a China e o Brasil pode dar a impressão de que “somos extremamente diferentes culturalmente; mas, na verdade, há muitos pontos de convergência entre as duas culturas”.

Em Dujiangyan, cidade famosa por seu antigo sistema de irrigação, Wesley Gonsalves também ficou entusiasmado com a visita aos pandas gigantes. “O trabalho de proteção aos pandas gigantes é muito importante. Muitos animais enfrentam a extinção; e o investimento da China em proteção animal em larga escala é, a meu ver, realmente admirável”, declarou. E também expressou sua surpresa ao ver a abundância de vegetação, que contrastou com suas impressões anteriores sobre a China, nas quais via um país fortemente industrializado e tecnologicamente impulsionado, mas sem muita paisagem verde natural.

O blogueiro de viagens brasileiro Lipe Camanzano observou que todas as cidades que visitou são notavelmente ecológicas, com limpeza urbana bem desenvolvida, reciclagem de resíduos, tratamento de esgotos e sistemas de abastecimento de água. “Enquanto caminhávamos, em meio à multidão agitada e ao tráfego intenso, quase não ouvíamos o barulho dos motores pois as estradas estavam cheias de veículos elétricos. Isso realmente atraiu minha atenção”, comentou Camanzano. “Os padrões ESG (ambientais, sociais e de governança) são questões de preocupação global. Nesse sentido, sinto que a China está à frente.”

Priscilla Borges, editora da seção econômica e social do site de notícias brasileiro Metrópoles, ficou profundamente impressionada com o Parque Temático Yowant X27 em Hangzhou, um complexo comercial projetado para transmissão ao vivo de comércio eletrônico. “Nunca havia imaginado um lugar como este. Não tinha ideia de que tal coisa existia. Ao mesmo tempo, vi quanto lucro gera e como funciona bem”, disse ela. “Acho que ainda temos muito a explorar e aprender sobre a China”, acrescentou Priscilla.

O maior interesse de Ricardo Piquet durante a turnê foi pelos museus chineses e os elementos tecnológicos dos quais são equipados. Ao se encontrar com Ni Minjing, curador do Museu de Ciência e Tecnologia de Xangai, expressou o desejo de estabelecer cooperação com o museu. “Acredito, e essa é a minha expectativa, que possamos criar parcerias e trazer algumas experiências tecnológicas daqui para os museus brasileiros. E, mais que isso, talvez trazer conteúdo de museus do Brasil relacionados com a ciência, o futuro, a natureza e o planeta”, disse.

Regiane Texeira é gerente sênior de relações com a mídia do Kwai Brasil. Ela tem muito interesse pela China e muitas vezes procura comida e produtos chineses quando está no Brasil. “Sinto que agora fazem parte da minha personalidade. Eu brinquei com meus amigos que meu sonho era fazer esse passeio, e estou realizando esse sonho aqui, trazendo outras pessoas e apresentando-as à China”, disse Regiane com entusiasmo No final da viagem, o consenso entre os participantes era que o evento propiciou-lhes uma nova impressão da China.

Wei Mingxin, Wang Jinxu e Filipe Porto contribuíram para este artigo.

Este texto foi publicado originalmente na revista China Hoje. Clique aqui, inscreva-se na nossa comunidade, receba gratuitamente uma assinatura digital e tenha acesso ao conteúdo completo.

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