Fuzhou: A porta para a Rota Marítima da Seda

Capital da província de Fujian, Fuzhou fica no estuário do rio Minjiang, na costa leste da China. É separada de Taiwan pelo Mar do Leste. Tem clima ameno e uma geografia favorável

Com longa história, Fuzhou é um centro político de Fujian há muito tempo e uma importante cidade do litoral sudeste da China, uma porta para a Rota Marítima da Seda. Sempre contou com ativo comércio e intercâmbio de negócios, e foi um local de integração multicultural entre a China, Oriente Médio e outros países e regiões da Ásia. Nos últimos anos, Fuzhou tem trabalhado para se tornar um núcleo estratégico para a Rota Marítima da Seda do século XXI, e é um membro fundador da Aliança das Cidades das Nações Unidas pela Rota da Seda Marítimo-Continental (United Nations Maritime-Continental Silk Road Cities Alliance, ou UNMCSR). Ao mesmo tempo, Fuzhou foi uma das primeiras cidades da China a se abrir e implementar reformas. Nesta zona piloto de livre-comércio e nova área nacional, várias indústrias emergentes ganharam crescente destaque, e há também um rápido desenvolvimento de setores estratégicos emergentes, como o Internet das Coisas (Internet of Things, ou IoT), big data, computação da nuvem, inteligência artificial e indústrias de alta tecnologia. Foram inaugurados aqui também o primeiro Laboratório Aberto da China para a IoT e o Centro de Incubação do Setor de IoT da China. Também foi oficialmente lançado em Fuzhou o maior projeto comercial do mundo para medidores inteligentes de consumo de água de banda estreita, habilitados para IoT.

Cidade costeira estratégica

A história DOCUMENTADA DE Fuzhou remonta ao século III a.C., quando era capital do Reino Minyue. Na dinastia Jin do Leste (317-420), os habitantes das Planícies Centrais migravam para o sul e Fuzhou aos poucos prosperou devido a essas ondas migratórias de longa duração. Na dinastia Song (960-1279), Fuzhou viveu um período áureo de desenvolvimento econômico e social. Tornou-se uma das seis maiores cidades do país na época e era o centro dos concursos imperiais. A cidade era então cheia de figueiras banyan, que produziam uma agradável sombra, e ficou conhecida como “Cidade Banyan”.

Na dinastia Ming (1368-1644), o comércio marítimo de Fuzhou com o exterior começou a florescer. Como importante porto marítimo, Fuzhou atraiu enviados de Ryukyu, homens de negócios japoneses, e os primeiros missionários católicos. Em 1392, o primeiro imperador da dinastia Ming, Zhu Yuanzhang (1328-1398), deu ao reino vassalo de Ryukyu numerosos navios para facilitar o intercâmbio comercial, e despachou barqueiros e marinheiros de Fujian para se instalarem em Ryukyu.

Esses migrantes eram responsáveis pela navegação, construção de navios, elaboração de documentos diplomáticos e traduções e pelo comércio da China em Ryukyu. Eles desfrutavam de alto status em Ryukyu; eram valorizados pelo reino e, portanto, recebiam ali um tratamento especial. Também fundaram sua própria vila independente, mais tarde renomeada como “Kumemura”.

No início do séulo XV, o governo Ming enviou Zheng He (1371-1433) a países estrangeiros para fortalecer os laços diplomáticos. De 1405 a 1433, Zheng He comandou uma imensa frota num total de sete viagens. Na sua oitava viagem, em 1433, morreu de uma doença, no próprio navio. Segundo registros históricos, a frota de Zheng He visitou mais de 30 países e regiões na Ásia e na África, chegando até ao litoral do mar Vermelho e à costa leste africana. Antes de cada viagem, Zheng He parava no porto de Taiping, no distrito de Changle da cidade de Fuzhou, para descansar, reabastecer-se de suprimentos e recrutar marinheiros.

Graças aos frequentes intercâmbios amistosos entre a China e países estrangeiros, Zheng He foi bem-sucedido em criar novos laços de amizade entre a China e os países do Sudeste Asiático. Segundo estatísticas, de 1403 a 1424, enviados de vários países visitaram a China 318 vezes, isto é, em média 15 vezes ao ano. Sete reis de quatro países, entre eles Brunei e Filipinas, lideraram pessoalmente suas delegações em visitas à China. Em uma ocasião, havia nada menos do que 18 missões visitando a China ao mesmo tempo. Três reis morreram na China durante sua visita e foram enterrados no país, conforme seu desejo.

A frota de Zheng He viajou do Pacífico Ocidental pelo oceano índico até o oeste da Ásia e a costa leste da África, chegando ao cabo da Boa Esperança no sul, numa viagem que abrangeu três oceanos e proporcionou valiosos registros para a história da navegação chinesa. Essas viagens foram realizadas 87 anos antes das de Colombo, 92 anos antes das de Vasco da Gama, e 116 anos antes da chegada de Fernão de Magalhães às Filipinas. Tais viagens ainda são consideradas iniciativas sem precedentes na história da navegação mundial e também uma grande contribuição à causa marítima do povo chinês.

Museu de Arquitetura Ming e Qing

No centro de Fuzhou, ainda vemos muitos edifícios antigos. Esses edifícios mantiveram o padrão de alamedas formado no século VIII. São os únicos fósseis vivos remanescentes do sistema de bairros das cidades chinesas. O sistema é bastante complexo, envolvendo unidades básicas e sistemas de administração de bairros das antigas cidades chinesas e de planejamento rural. Como unidade básica do planejamento do espaço urbano, divide a cidade em quadrados como tabuleiros de xadrez, e separa áreas residenciais, comerciais e administrativas para facilitar a administração da cidade. Há mais de 200 edifícios antigos no sistema, e o mais famoso deles é o bairro “Três Ruelas e Sete Alamedas”, como são conhecidas as dez ruas antigas arranjadas no sentido norte-sul de ambos os lados da Nanhou Street. As três ruelas são Yijinfang, Wenrufang e Guanglufang; as sete alamedas são Yangqiaixiang, Langguanxiang, Tzaxiang, Huangxiang, Anminxiang, Gongxiang e Jibixiang. Devido a reformas, apenas duas ruelas e cinco alamedas ainda subsistem. Mesmo assim, essa histórica área residencial ainda preserva ricas relíquias culturas, entre elas um grupo de antigas residências de celebridades. Nessa área há calçamento de pedra, muros caiados e coberturas de telhas azuis, uma estrutura rigorosa e residências refinadas e engenhosas. Muitas das portas e janelas das casas ostentam detalhes em baixo relevo e juntas de encaixe, com ricos padrões. Batentes de portas decorados, floreiras e pilares podem ser vistos por toda a parte. Eles mostram a arte folclórica e as características da antiga cidade de Fuzhou, e o bairro acabou conhecido como um museu em escala natural da arquitetura antiga das dinastias Ming e Qing.

Os quarteirões históricos e culturais da cidade são importantes lembretes do passado da China. Eles não só preservam o passado da cidade, mas também constituem um acervo cultural para o seu desenvolvimento. O bairro “Três Ruelas e Sete Alamedas” é hoje um símbolo de Fuzhou, que se beneficia da proteção que o governo municipal oferece a esses quarteirões históricos e culturais. O governo investiu pesadamente na proteção e restauração dos bairros antigos, que se tornaram um centro de exposições e uma plataforma para intercâmbios.

Além das “Três Ruelas e Sete Alamedas”, a cidade de Fuzhou concluiu a proteção e restauração dos distritos históricos de Shangxiahang e Zhuzifang.

O Distrito Histórico e Cultural de Shangxiahang fica ao longo da Shanghang Road e da Xiahang Road, em Taijiang. Nos tempos antigos, era o centro comercial e o terminal de despachos marítimos de Fuzhou. É também o melhor lugar para sentir o sabor da velha Fuzhou – a comida gourmet fica em Shanghang, e a arquiterura antiga em Xiahang. Esses locais testemunharam o desenvolvimento comercial de Fuzhou, onde ficavam os mercados estrangeiros e os grupos de negócios, e possuem grande número de restaurantes de alto nível. Sempre foram sítios importantes para folcloristas e historiadores entenderem melhor o desenvolvimento dos negócios em Fuzhou.

Zhuzifang fica na margem do rio Antai, no lado sul da Jintai Road. O rio Antai historicamente funcionou como um fosso em volta de Fuzhou. Ao longo do rio há muitas residências das dinastias Ming e Qing. Diz a lenda que o clã Zhu viveu aqui na dinastia Song. Os quatro irmãos de Zhu eram todos oficiais.

O distrito de Zhuzifang é onde se concentram as antigas instituições culturais e educacionais de Fuzhou. Havia aqui três Templos Confucianos, duas escolas do condado dois edifícios da administração do condado e um colégio da prefeitura. O Jardim Furong foi construído durante a dinastia Song. O layout do jardim é impressionante, e abriga muitas das ricas residências e jardins de Fuzhou.

Berço da moderna marinha chinesa

Em frente ao Distrito de Changle, do outro lado do rio, fica o Distrito de Mawei, em Fuzhou. Mawei, também conhecido como Majiang, fica na confluência de dois afluentes do rio Minjiang, e é um porto natural. Há mais de cem anos era uma das áreas mais modernas da China. Ele abriga dezenas de realizações históricas, como o primeiro estaleiro moderno do país (Estaleiro Mawei), a primeira escola naval moderna da China (Escola do Estaleiro Mawei), o primeiro cruzador chinês, o primeiro avião e o primeiro motor a vapor chinês com aplicação prática.

Em meados do século XIX, depois que Fuzhou foi obrigada a abrir seu porto, todos os navios de guerra e mercantes de vários países vinham a Fuzhou e ancoravam no porto de Mawei. Os partidários da ocidentalização estabeleceram administrações em Mawei fabricando armas e peças de artilharia, construindo cais e empregando artesãos e professores da Europa para ensinar a construção de navios. Ao mesmo tempo, o Estaleiro Mawei foi também o maior estaleiro do Extremo Oriente. Desde sua fundação em 1866 até encerrar a produção em 1907, 40 navios de porte variado foram construídos nele.

Ao mesmo tempo em que montaram uma base para construção de navios, os partidários da ocidentalização estabeleceram também a Escola de Administração Naval, para treinar profissionais, que costuma ser vista como berço da moderna marinha chinesa.

Esta foi a primeira escola naval e de navegação e a primeira escola militar da moderna China. Ela formou a primeira geração de pessoal e criou a primeira frota naval da China moderna – a Esquadra Fujian. Logo após sua criação, eclodiu a Guerra Sino-Francesa em 1883. A Frota do Extremo Oriente francesa invadiu o porto de Mawei e desferiu um ataque. O principal general do Exército Qing ficou com medo da guerra, abandonou o navio e fugiu, e a Esquadra Fujian foi totalmente aniquilada.

A famosa Torre Luoxing, às margens do rio Minjiang, é um marco de navegação reconhecido internacionalmente. Dizem que não havia nos mapas do mundo nenhuma indicação de Fuzhou exceto a Torre Luoxing. Navios estrangeiros dessa época, ao avistarem de longe da costa a Torre Luoxing no porto de Mawei em Fuzhou, gritavam ‘A Torre da China! ”. Cartas provenientes do mundo todo para Mawei podiam ser entregues desde que tivessem sido endereçadas à “Torre da China”.

Em 1963, a torre passou por mais reformas. A área em volta dela foi transformada num parque público. Do alto da torre, olhando para o nordeste, é possível ver o rio Minjiang desembocando no mar. Quando a maré sobre, as correntes do rio e a água do mar banham o pé da torre, criando um espetáculo impressionante. Hoje a torre é uma relíquia cultural tombada e não fica mais aberta aos turistas.

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