Por Filipe Porto*
Em junho de 2023, representantes de 14 países, incluindo China, Reino Unido, Espanha, Brasil, África do Sul e Paquistão, se reuniram em Shenzhen para o início do evento “Futuro em Foco 2023”. Minha participação no evento representa um verdadeiro caso de intercâmbio entre a China e o Brasil. Durante seis dias pude testemunhar as conquistas chinesas na economia digital por meio de visitas, palestras e uso das mais diversas plataformas digitais desenvolvidas pela China.
Economia digital – Minha primeira visita à China ocorreu nas olimpíadas de verão, em 2008. Desde então, comecei a frequentar o país pelo menos uma vez ao ano e vi o desenvolvimento da economia digital chinesa acontecer diante dos meus olhos. Durante o programa, me surpreendi ao ver tantos produtos digitais presentes em áreas remotas da China. Atendendo ao chamado de Xi Jinping de “Não deixar ninguém para trás”, a economia digital tem melhorado cada vez mais a qualidade de vida da população com a ampliação da oferta de serviços médicos, do acesso a educação e emprego e assim por diante.
Por meio do Future Close-Up Tour, descobri que jovens chineses e estrangeiros têm muito em comum: estão cheios de expectativas em relação à tecnologia digital, cheios de curiosidade e vontade de entender o futuro. Com uma motivação tão forte, acredito que, no futuro, trabalharemos juntos para criar mais pontes e plataformas de comunicação, compreensão, confiança e aprendizado mútuo, e criar mais oportunidades para todos se comunicarem uns com os outros.
O socialismo de alta tecnologia – Por mais de 40 anos, a China cresceu em médias muito superiores às do resto do mundo, estabelecendo-se gradualmente como uma potência comercial, industrial e financeira.
Nas últimas décadas, Pequim construiu uma imensa máquina produtiva e financeira, centrada em quase uma centena de conglomerados estatais, com um sistema de engenharia financeira pública baseado em gigantescos bancos de desenvolvimento.
Entre os principais desenvolvimentos que podemos destacar na China, um dos mais importantes é o que chamamos de “socialismo de alta tecnologia”.
Ou seja, nas últimas décadas, ondas de inovações institucionais moldaram um sistema econômico único, baseado não somente no setor público, mas na cooperação com a academia e o setor privado, tendo como planejamento econômico milhões de profissionais que utilizam inovações tecnológicas – como 5G, Big Data, inteligência artificial e computadores quânticos – para inaugurar novas formas de planejamento econômico.
Isso deve nos levar a pensar sobre como várias formas históricas de socialismo dependem de suas atuais condições materiais e níveis de desenvolvimento tecnológico. A China criou as condições objetivas para chegar aonde está hoje pelo seu poder de escolha. Pequim pode escolher quanto vai crescer e como vai crescer. É esse cenário que explica tanto a meta pragmática de crescimento de 5% quanto o compromisso de Pequim, com o que chama de “crescimento de alta qualidade”, como o nível avançado da economia digital chinesa.
O plano da China é crescer com base em ciência, tecnologia e inovação, distribuir renda de forma mais equitativa, regular o capital privado, preservar o meio ambiente e mostrar ao mundo que não existe um modelo político e econômico único. A dinâmica econômica chinesa se caracteriza pela inauguração de formas novas e superiores de planejamento econômico. Nos últimos 10 anos, cerca de 200 milhões de pessoas se mudaram de áreas rurais para cidades na China. Isso foi acompanhado por uma série de desafios, aos quais o Estado fez planos para responder ativamente. Na China, esse processo é guiado por milhares de homens e mulheres dedicados a criar as condições que minimizem os efeitos adversos dessas contradições. A economia digital chinesa não falha em incluir a sociedade como um todo, até mesmo pessoas que não têm acesso ao banco, por meio de sistema de pagamentos no Wechat ou programas como o Tencent Charity.
Esta é, a meu ver, a base do conceito de “crescimento de alta qualidade” e do futuro da economia chinesa. 讲好中国故事 – Na nova era, a China está realizando a inovação prática mais ambiciosa e única na história da humanidade, e nunca faltarão boas histórias para contar. O que eu levo comigo é a missão de contar histórias chinesas, concentrando-me na minha experiência individual e nas histórias que vi, e não em narrativas grandiosas da grande mídia. E não cair na armadilha do discurso ocidental.
Nesta viagem de sabedoria, descobri o verdadeiro valor da amizade com a China e juntos experimentamos e testemunhamos o desenvolvimento da sociedade, economia, tecnologia, cultura e outros campos da China, e fizemos muitos novos amigos. Todo cidadão chinês que conheci é uma testemunha e participante do desenvolvimento da China contemporânea, e suas histórias são um microcosmo da história do desenvolvimento da China contemporânea, não sendo passíveis de serem percebidos por meio de grandes narrativas midiáticas somente.
No processo de fortalecer a criação conjunta chinesa e estrangeira e promover a expressão internacional da história chinesa, é necessário não só absorver e aprender de métodos avançados de comunicação internacional, mas também manter a posição da cultura chinesa, contar bem as histórias chinesas e divulgar bem a cultura chinesa com lentes que integram o país e o exterior.
Durante a viagem, descobrimos o valor da comunicação e da interação para elaborar uma perspectiva jovem para que o mundo entenda a China e contribua com a energia da juventude para promover intercâmbios entre a China e o mundo.
Os “quatro super” – A ascensão da China não é apenas a ascensão de um país, mas a ascensão de um país civilizado. A civilização chinesa é a civilização mais antiga do mundo e também uma forma extremamente ampla de civilização socialista moderna. Aprendi com o professor Zhang Weiwei, do China Institute, na Fudan University, que a civilização chinesa pode ser descrita por quatro “supers”: tamanho populacional supergrande, território superamplo, tradição histórica superlonga e acúmulo cultural superprofundo”.
Cada “super”, no meu entendimento, incorpora o entrelaçamento do novo e do antigo, a fusão do antigo e do moderno. O professor Weiwei nos incentivou a frequentar mais a China e a aprender mais sobre a história e a cultura chinesa, para nos tornarmos pontes entre os povos estrangeiros e a China e a contribuir para o intercâmbio entre a China e o mundo.
A evolução e a interação entre a economia tradicional e digital são apenas um microcosmo do rápido desenvolvimento da ciência e a tecnologia na China. As aplicações da economia digital da China se refletem em todas as esferas da vida, em todas as regiões e províncias, e os estrangeiros que vivem na China também estão integrados e acostumados a isso. A partir dessa viagem, experimentei pessoalmente o uso da tecnologia em caridade e bem-estar público e também senti profundamente a importância e possibilidade da formulação de políticas de cooperação internacional lideradas pela China.
Estou cheio de confiança na economia chinesa e acredito que a China está cheia de novas oportunidades a quem está disposto a somar esforços e oferecer o braço amigo para ajudar. A transformação das conquistas científicas e tecnológicas depende das diretrizes gerais da China, mas nós, agentes testemunhas dessa transformação, devemos participar dessa jornada. Hoje posso me considerar, com muito orgulho e privilégio, um participante da Nova Era da China. E levo comigo a missão de contar a história da China de forma apropriada.
* Filipe Porto é mestrando em Relações Internacionais pela Universidade Federal do ABC – UFABC e Pós-graduado em Jornalismo Internacional pela Fundação Armando Alvares Penteado – FAAP. Atua como pesquisador no GT Brasil-China do Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB), no Núcleo de Avaliação da Conjuntura da Escola de Guerra Naval (NAC/EGN) e no Grupo Economia do Mar (GEM/DGP/CNPq)
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