Por Wang Jinxu
Professor brasileiro fala à China Hoje sobre a necessidade de um melhor entendimento entre chineses e brasileiros. Observando a governança da China por 10 anos, ele é o único brasileiro premiado com o título de Tradutor Estrangeiro para a Interpretação da China, na Conferência Anual da Associação Chinesa de Tradutores (TAC, sigla em inglês) de 2023.
Ponto de partida – Concluído seu doutorado no departamento de ciência política da Universidade de São Paulo, José Medeiros da Silva achou uma oportunidade de ir à China para realizar pesquisa sobre a questão camponesa deste país em 2007, quando uma universidade chinesa, a Universidade de Estudos Internacionais de Xi’an, estava procurando um professor estrangeiro para abrir um curso da língua portuguesa. “A universidade entrou em contato com a USP, e os professores indicaram meu nome”, contou ele.
Para o jovem José, a razão pela qual viajava a um lugar tão distinto do Brasil era óbvia. “Precisamos de brasileiros que tenham vivências longas pra poder compreender melhor a China e contribuir na compreensão da China”, ele complementou, “tive muitos professores no Brasil que me orientaram nessa perspectiva.”
Na mesma época, a China também sentia a falta de pessoas que conhecessem o Brasil, o que incentivou a explosão de cursos da língua portuguesa na educação superior. A universidade onde José trabalhava em 2007 é a sexta a estabelecer esse programa na China. E agora, o país possui mais que 40 instituições de educação superior com cursos da língua portuguesa, de acordo com uma análise de Xu Wei e Kong Fanqing, publicado pela Boletim de Estudos de Macau (Vol. 97).
Atuação na tradução – Em 2014, o professor brasileiro participou da equipe de tradução do livro de Xi Jinping: a Governança da China, volume I. Para ele, o trabalho é mais que uma revisão, mas a interpretação de conceitos. Recordou a discussão com sua colega Wei Ling sobre como tratar o conceito da retomada da prosperidade civilizacional da China. Escolheram a palavra revitalização, ao invés de rejuvenescimento. No ângulo dele, a China possui a continuidade da tradição, o passado renovado serve também ao presente e à vida do povo.
“Todos nós, chineses e brasileiros, temos algo em comum, que é a busca por uma vida melhor.” Mas, adicionou ele, “a China tem experiência.” Por isso, ele espera que o seu trabalho possa ajudar as pessoas a conhecerem a China e o pensamento da politica chinesa “da forma como ela é.” Acompanhava desde então o volume I, II, III do livro Xi Jinping: A Governança da China por mais de dez anos até hoje.
“Ele dedicou muito à causa da tradução, e fez grandes conquistas na tradução de documentos importantes do país, contribuindo para o intercâmbio cultural entre a China e o Brasil”, falou Shen Lu, a coordenadora na Faculdade da Língua Portuguesa da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang (ZISU, sigla em inglês), onde José está trabalhando.
Carreira na academia – Na visão de Medeiros, a relação China-Brasil tem interesses convergentes, que podem gerar benefícios mútuos. O problema é a limitação do conhecimento entre ambos. Por isso, é preciso formar mais alunos para que possam atuar nessa área, e “quanto mais o conhecimento mútuo se aprofundar, melhores serão as perspectivas desse relacionamento”. Com base nessa crença, ele procura compartilhar, além do domínio da língua portuguesa, conhecimentos sobre o Brasil, nas atividades de ensino.
“José foi o único brasileiro que nos orientava, antes eram só professores de Portugal”, lembrado pela Lin Wenjie, aluna graduada da ZISU. “Ele deu sempre aulas divertidas, até nos ensinou forró e dançávamos na aula.” Para a Lin, as aulas de José abriram uma janela que soava culturas frescas do Brasil. Hoje, ela é funcionária do Banco do Brasil em Shanghai, que é o primeiro banco brasileiro na China.
Em 2023, José tornou-se professor titular na ZISU, e recentemente assumiu a responsabilidade de dirigir o Centro de Estudos sobre o Brasil nesta universidade. Para além do sucesso acadêmico, o ano de 2023 também marca o primeiro aniversário do seu casal de crianças sino-brasileiras, o Yan e a Ana, nascidos na cidade de Shaoxing, terra natal do famoso escritor Lu Xun.
Seja como professor, pesquisador ou como pai, sua determinação é continuar esse seu trabalho para que a China e o Brasil sejam cada vez mais próximos e se conheçam cada vez mais. E seu maior desejo é que os jovens dos dois países e as próximas gerações “percebam a importância dessa relação e aprofundem esse conhecimento mútuo”.
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