Brasil-China: lições de preservação, progresso e parceria

No dia 27 de outubro, a China Hoje entrevistou Mariane Fernandes Nascimento, assessora-chefe de comunicação social da Secretaria de Estado da Casa Civil de Minas Gerais. Ela esteve na China pela primeira vez como participante do Seminário de Cooperação e Desenvolvimento de Mídias para Países de Língua Portuguesa.

No dia 27 de outubro, a China Hoje entrevistou Mariane Fernandes Nascimento, assessora-chefe de comunicação social da Secretaria de Estado da Casa Civil de Minas Gerais. Ela esteve na China pela primeira vez como participante do Seminário de Cooperação e Desenvolvimento de Mídias para Países de Língua Portuguesa. A experiência foi marcante e deixou impressões profundas, tanto na sua vida pessoal quanto na sua trajetória profissional.

Mariane Fernandes Nascimento
       Mariane Fernandes Nascimento     Fonte: oferecida pela própria

Cultura maravilhosa: “Sem a valorização do patrimônio cultural, não existiria a China de hoje”

Mariane visitou diversas províncias, museus e templos que retratam a história milenar do país. Em alguns museus, viu peças com três a quatro mil anos de existência e achou impressionante o cuidado dos chineses com a preservação cultural. Ficou surpresa ao ver como relíquias tão antigas ainda estão acessíveis para que as pessoas possam observar e compreender o passado.

Ela também conheceu o Rio Amarelo, considerado o berço da civilização chinesa, além das Grutas de Longmen, na província de Henan, um exemplo marcante da fusão entre as artes do Ocidente e do Oriente. Segundo Mariane, essas visitas mostraram como a China valoriza e protege seu patrimônio histórico, e com isso ajuda a entender a força que o país representa hoje.

“Eu acho que se vocês [chineses] não tivessem a preservação dessa cultura histórica, talvez vocês não fossem um país de primeiro mundo. Com tanto desenvolvimento econômico e tecnológico, então eu pude perceber que tudo o que a China representa hoje é pela valorização da cultura de milhares de anos atrás.” falou Mariane.

Povo como prioridade: “priorizam a verdade e o povo chinês”

Ao refletir sobre a comunicação na China, Mariane destacou um contraste marcante em relação à realidade ocidental. “No ocidente existem veículos de comunicação de apoio ao governo e veículos de comunicação contra o governo”, observou. Para ela, esse cenário alimenta a disseminação de fake news, já que “é sempre um veículo de comunicação tentando desmentir um outro, o que faz com que a população sempre fique à mercê de veículos que brigam por poder político”.

Durante sua experiência no país asiático, no entanto, ela notou um outro enfoque, mais centrado na população. “Me brilhou os olhos de ver como vocês priorizam a verdade e o povo chinês, em vez de poder veicular qualquer notícia que vocês podem”, acrescentou Mariane.

Tecnologia sem medo

Antes da viagem, Mariane acreditava que o desenvolvimento rápido da tecnologia na China representava uma ameaça a determinados cargos e indústrias, especialmente com o uso de inteligência artificial. No entanto, sua visão mudou durante o seminário. Segundo ela, a experiência “abriu os olhos e tirou o medo”.

Ela passou a compreender que a inteligência artificial pode ser uma aliada em tarefas repetitivas e demoradas, permitindo que as pessoas se concentrem em trabalhos mais completos e com maior carga emocional. “A primeira vez que eu vim para cá, eu cheguei com um certo receio da tecnologia tomar o lugar do humano. E chegando aqui, eu percebi que é um auxílio e não uma substituição”, explicou.

Mariane espera que essa visão possa se espalhar entre os brasileiros – “pelo menos eu”, completou, com humor.

Minas Gerais e Jiangsu: três décadas de irmandade

Minas Gerais foi o primeiro estado da América Latina a firmar um acordo de irmandade com a província chinesa de Jiangsu. O vínculo, assinado em 1996, completará 30 anos em 2026 e serve como base para uma nova etapa de parceria. Em novembro deste ano, o vice-governador de Minas Gerais, Mateus Simões, viajará à China com o objetivo de atrair investimentos e promover o intercâmbio de experiências tecnológicas. A estratégia, segundo a assessora-chefe da Secretária de Estado da Casa Civil, é clara: “eu vejo potencial em áreas como tecnologia, energia limpa e agricultura sausatentável”.

Dois principais vetores se destacam nessa parceria: energia limpa e agricultura.Os principais vetores de cooperação potencial são:

Na área de eEnergia limpa e mobilidade elétrica, a visita à fábrica de ônibus 100% elétricos na província deem Henan Henan Província inspirou Mariane, a assesora-chefe, quem acredita pensa  no potencial do modelo para reduzir a poluição e ser adaptado ao contexto brasileiroque o modelo possa diminuir a popluição e levar para Brasil.

Além disso, Belo Horizonte, capital mineira, a cidaden de Minas, foi selecionada como uma das cincoo cidades finalistas nda categoria “Transporte Limpo e Confiável” do prêmio Local Leaders Awards 2025. Lançado em setembro de 2023, o Sistema de Bicicletas Elétricas Compartilhadas da cidade é o primeiro da América Latina com estações fixas e funcionamento totalmente elétrico. Para Mariane, iniciativas como essa demonstram o objetivo comum entre brasileiros e chineses de unir tecnologia e proteção ambiental.

Na agricultura, Minas Gerais já vinha investindo na valorização da agricultura familiar, com políticas de incentivo e crédito ampliado. Em setembro de 2024, o estado lançou o Plano Safra 2024-2025, com uma previsão de R$ 7 bilhões para impulsionar o setor. O plano integra ações de fortalecimento das cooperativas e da agroindústria familiar.

Minas também ocupa lugar de destaque na geração de energia solar, tendo alcançado, em 2024, o marco histórico de 8 gigawatts de capacidade instalada em operação.

15º Plano Quinquenal da China: “metas claras, prazos rígidos e autossuficiência”

A formulação e implementação de planos quinquenais é uma marca registrada da governança da China sob a liderança do PCCh. Desde 1953, quando o primeiro plano foi lançado, essa abordagem tem garantido continuidade, estabilidade e coordenação no desenvolvimento econômico e social do país, com metas bem definidas e uso estratégico dos recursos.

Nascimento compartilhou sua impressão sobre ao conhecer essa estrutura pela primeira vez, durante o programa de intercâmbio em Beijing. “Achei incrível, porque realmente criam metas e criam prazos para cumprir essas metas, que eu não vejo em outros locais”, comentou. Destacou a objetividade com que o governo apresenta à população seus planos de ação: “é fácil para a população entender, porque o governo coloca no papel exatamente o que vai fazer e é fácil para a população entender os movimentos políticos”, disse, complementando que autossuficiência tecnológica, modernização industrial verde e digitalização da economia foram os pilares que mais lhe chamaram a atenção.

O 15º Plano Quinquenal, publicado em outubro de 2025, estabelece metas centrais para o desenvolvimento da China nos próximos anos. Entre os principais objetivos, estão: alcançar avanços notáveis no desenvolvimento de alta qualidade; elevar substancialmente a autossuficiência e  fortalecer a ciência, tecnologia e inovação; aprofundar as reformas estruturais; promover um maior nível de civilidade social; melhorar constantemente a qualidade de vida da população; impulsionar a construção de uma “Bela China”; e reforçar ainda mais a segurança nacional.

Os resultados já são visíveis. Durante o 14º Plano Quinquenal (2021-2025), a renda per capita dos moradores rurais em regiões antes pobres cresceu em média 7,8% ao ano em termos reais, superando a taxa média nacional de crescimento da renda dos camponeses. A desigualdade entre zonas urbanas e rurais diminuiu: em 2020, a renda média dos moradores das cidades era de 2,56 vezes maior do que a dos moradores do campo. Em 2024, essa diferença caiu para 2,34 vezes.

O consumo continuou desempenhando um papel cada vez mais central no crescimento da economia chinesa, respondendo por cerca de 60% da expansão do país. Com uma população de 1,4 bilhão de pessoas, das quais mais de 400 milhões fazem parte da classe média, as demandas da sociedade tornaram-se cada vez mais variadas, complexas e sofisticadas. Esse cenário revela não apenas a diversidade de necessidades, mas também o enorme potencial do mercado interno como motor do desenvolvimento.

A experiência de Mariane na China revela mais do que uma visita institucional: mostra o valor do diálogo entre culturas, da escuta ativa e da abertura para aprender. Ao reconhecer a importância do planejamento, da preservação cultural e do uso consciente da tecnologia, a assessora brasileira leva de volta não apenas ideias, mas caminhos concretos de cooperação. No coração dessa jornada, está a certeza de que o futuro se constrói com propósito. E que há muito a ser compartilhado entre Minas Gerais e a China.

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