Fazendo sua estreia na China neste inverno, as pranchas de snowboard de fibra de carbono estão se tornando uma escolha popular dos esquiadores em resorts na Província de Jilin, no nordeste da China. As pranchas de snowboard foram introduzidas pela Jilin Chemical Fiber Group (JCFG), empresa que fornece materiais para setores que vão do aeroespacial à fabricação de malas. Forte e rígida, apesar de leve, a fibra de carbono é adotada há décadas por algumas marcas globais de pranchas de snowboard e de capacetes de esqui.
“As pranchas de snowboard de fibra de carbono são 30% mais leves que as outras, mais fáceis de controlar pelos esquiadores e mais amigáveis para quem começa a aprender ”, disse Lu Yang, um dos engenheiros da empresa, à Beijing Review. Ele acrescentou que o material é três a cinco vezes mais resistente que os materiais comuns, aumentando a capacidade das pranchas de snowboard de resistir a choques.
Em reação à última onda de febre por esportes de inverno na China, que teve início a partir dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022, os fabricantes de equipamentos domésticos como a JCFG estão correndo para introduzir novos produtos. Mas isso é apenas parte de um mercado ainda maior.
O próspero setor de equipamentos de gelo e neve, componente importante da economia de gelo e neve, é impulsionado pela crescente demanda não só de itens recreativos, como pranchas de snowboard e óculos de proteção, mas por equipamentos usados nas instalações de esportes de inverno, como as máquinas de neve artificial e os limpa-neves (também chamados de snow groomers).
De acordo com o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação (MIIT), a China desenvolveu uma linha de equipamentos de gelo e neve composta por 15 categorias principais. Em 2015-23, o número de empresas nesse segmento passou de cerca de 300 para 900, e sua receita de vendas aumentou de menos de 5 bilhões de yuans (US$ 682 milhões) para cerca de 22 bilhões de yuans (US$ 3 bilhões).
Correndo para vencer – Jilin é conhecida como um dos paraísos de esqui da China, com seus invernos longos e frios que geralmente duram de novembro a março. Nos últimos anos, suas empresas de equipamentos para esportes de inverno também se destacaram das demais do país.
No ano passado, o governo provincial definiu a meta de aumentar o valor da produção de equipamentos de gelo e neve em Jilin para mais de 5 bilhões de yuans (US$ 681 milhões) até 2030.
A JCFG produz mais de 90% dos materiais de fibra de carbono da China. Começou a produção de snowboard em 2023. A equipe de pesquisa e desenvolvimento (P&D) da empresa conduziu uma dúzia de experimentos para testar a adesão da fibra de carbono a outros materiais, explica Lu. Depois de lançar a nova linha de produtos, a empresa passou a coletar feedback dos usuários para maior otimização.
A Jilin Tengda Technology Development, com sede na cidade de Jilin, fornece materiais à base de polímeros para fabricantes de snowboard desde 2009. Wu Bida, gerente-geral da empresa, disse à Beijing Review que seus produtos são aplicados como camadas protetoras e também para formar as bordas das pranchas de snowboard. A produção anual da empresa atingiu quase 100 ton em 2024, em comparação com 40 ton no ano anterior. No ano passado, suas vendas ultrapassaram 10 milhões de yuans (US$ 1,3 milhão).
De acordo com Wu, várias marcas globais de atividades ao ar livre, incluindo a varejista francesa de artigos esportivos Decathlon e a fabricante de snowboard Burton, com sede nos EUA, recorreram à Tengda como fornecedora-chave. A empresa também tem parceria com marcas nacionais de roupas esportivas como a Anta para as pranchas de snowboard.
“Um número crescente de chineses está participando de esportes de inverno e o número de estações de esqui vem aumentando no país”, disse Wu, acrescentando que espera uma maior expansão do mercado doméstico de snowboard.
A Changchun Bainingdun Sports Equipment, também localizada na Província de Jilin, produz patins esportivos de alta qualidade. “Temos uma produção anual de mais de 10 mil pares, e nossas vendas anuais ultrapassaram 50 milhões de yuans (US$ 6,8 milhões)”, disse Wang Yang, fundador da empresa, à Beijing Review. A empresa tem atendido muitos pedidos domésticos e internacionais nos últimos anos. Seus produtos foram exportados para Estados Unidos, Alemanha e Austrália, entre outros.
“Nosso investimento em P&D representa 30% da receita total anual”, disse Wang. A empresa agora produz patins com tecnologias autodesenvolvidas. Ela atualizou o método de coleta de dados para personalizar as botas, usando desde moldes de gesso até modelagem 3D. A empresa produzirá patins mais econômicos para entusiastas da modalidade nos próximos três a cinco anos, disse Wang.
Mercados prósperos – Fabricantes em regiões onde gelo e neve são raros também aproveitaram a onda dos esportes de inverno. Em Yiwu, Província de Zhejiang, uma cidade conhecida como “o supermercado do mundo” em razão de seu mercado de bens de consumo que tem as dimensões de uma cidade, as vendas de produtos como óculos para neve têm aumentado.
A Zhejiang Vista Sports Goods produz óculos para neve desde 2007 para os mercados europeu e americano. Após Beijing 2022, a empresa começou a aumentar seu investimento na exploração do mercado doméstico, que agora responde por cerca de um terço de suas vendas.
No ano passado, a Vista investiu mais de 17 milhões de yuans (US$ 2,3 milhões) na expansão da produção, elevando a produção anual de suas cinco linhas para um valor de 600 milhões de yuans (US$ 82 milhões).
A fim de proporcionar uma experiência mais quente na neve, muitos fabricantes têxteis introduziram roupas e meias de esqui com tecnologia de aquecimento de grafeno. Confeccionados por uma empresa de vestuário na Província de Liaoning, no nordeste da China, os trajes de esqui aprimorados com grafeno podem garantir aquecimento contínuo por seis horas em temperaturas tão baixas quanto -40o Celsius negativos.
Novas tecnologias, incluindo 5G, inteligência artificial (IA) e realidade virtual (VR), também foram aplicadas pelos fabricantes em seus produtos para uma melhor experiência do usuário. Por exemplo, os entusiastas de esportes de inverno agora podem usar óculos de realidade virtual com câmeras para filmar suas atividades.
Fogo e gelo – Embora as empresas locais de esportes de inverno venham ganhando popularidade, as marcas globais estabelecidas continuam a dominar o mercado, principalmente o de produtos premium.
“Na China, muitos esquiadores e snowboarders ainda optam por esquis e pranchas de marcas globais respeitáveis”, disse Wu, observando que ainda levará tempo para que as marcas locais desenvolvam uma boa reputação de marca. Sun Xing, vice-diretor do Centro de Desenvolvimento da Cultura Industrial do MIIT, disse na exposição do ano passado em Pequim que os fabricantes chineses de equipamentos para esportes de inverno ainda não têm a capacidade de inovar e precisam aumentar a capacitação de sua força de trabalho.
As empresas domésticas precisam acelerar o upgrading industrial por meio de tecnologias como IA, obter reconhecimento de marca no exterior e desenvolver núcleos industriais alavancando as cadeias industriais locais, concluiu Sun.
Sem Comentários ainda!