A Iniciativa Cinturão e Rota: uma oportunidade para a integração da América Latina

É sabido que a China está se tornando a força motriz do mundo devido ao seu alto crescimento sustentado nos últimos 30 anos. Como a China é hoje a segunda maior economia do mundo e o maior país exportador, é natural e legítima sua pretensão de assumir um papel crescente nos assuntos econômicos mundiais. É por isso que o presidente chinês Xi Jinping anunciou o que hoje é conhecido como a Iniciativa Cinturão e Rota (“The Belt and Road Initiative – BRI”), anteriormente chamada “One Belt, One Road” (OBOR) lançada em 2013, com o propósito declarado de promover a prosperidade econômica dos países ao longo do cinturão e da rota e a cooperação econômica regional, fortalecendo assim o intercâmbio e a aprendizagem mútua entre diferentes civilizações, e promovendo a paz e o desenvolvimento mundial.

A China tem estado mais ativa econômica e diplomaticamente em toda a América Latina, particularmente desde 2005. A crescente presença da China na região foi reforçada pelo presidente Xi Jinping e deve continuar a se expandir com o desenvolvimento da BRI. Embora o comércio chinês com a região tenha aumentado rapidamente nos últimos 15 anos, atingindo quase US$ 302 bilhões em 2018, ainda é baixo (cerca de 6,5% do comércio exterior total da China) se comparado com o engajamento econômico chinês com outras regiões do mundo.
A China procura fortalecer o comércio com as principais economias da região, especialmente Argentina e Brasil, e está disposta a fornecer apoio financeiro significativo em troca de recursos naturais. De fato, a China forneceu 71 empréstimos a países latino-americanos desde 2005 até 2018, totalizando US$ 136,2 bilhões. Os financiamentos chineses de Estado para Estados na América Latina superam os empréstimos soberanos no mesmo período do Banco Mundial ou do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Para reduzir a parcela de matérias-primas no comércio com a região, Pequim está cada vez mais concentrando seus investimentos em infraestrutura, agricultura e produção local de produtos de maior valor agregado. Desde 2005, a China investiu em 225 projetos na região (total de US$ 176,2 bilhões), incluindo investimento direto (IED) e obras de construção.

Como reação às críticas contra sua suposta abordagem de viés bilateral na América Latina, a China não apenas atualizou as relações com os parceiros latino-americanos, como também estabeleceu uma abordagem geral com a região através do Fórum China-CELAC (CCF). O desenho dessa iniciativa é uma evidência da crescente importância da América Latina na diplomacia econômica global da China. O governo chinês então se esforçou para articular sua política de relações com os países latino-americanos por meio de um diálogo de alto nível com a CELAC, uma organização criada em 2011, que conta com 33 países e que procura representar os interesses de um conjunto de atores soberanos.

Pequim sediou, em 2015, a primeira reunião ministerial do Fórum CELAC-China, criada para ser um mecanismo de interação com a América Latina. Durante o fórum, o presidente Xi prometeu US$ 250 bilhões em novos investimentos para a América Latina até 2025. Durante a II Reunião do Fórum CELAC-China, realizada no Chile em 2018, a China incluiu a CELAC na BRI perante os chanceleres da América Latina e do Caribe e convidou seus países a participar. Na Reunião, a China reafirmou que “os países da região compõem a extensão natural da Rota da Seda Marítima como participantes na cooperação internacional do Cinturão e Rota”.

O desafio da BRI na América Latina é o de criar uma cooperação capaz de propor uma agenda de desenvolvimento que inclua a integração comercial e de mercado de fatores para favorecer ganhos de eficiência em toda a região e que realmente ajude os países latino-americanos a aumentar o valor agregado de suas manufaturas e a competitividade global de suas empresas no comércio internacional. No entanto, os benefícios esperados que a América Latina pode derivar de seus laços com a BRI dependerão mais da capacidade da própria região de pensar estratégica e coletivamente sobre a integração regional de infraestrutura do que apenas de uma decisão da BRI pelos chineses.
Em última análise, a iniciativa chinesa do Cinturão e Rota poderá contribuir para estimular o crescimento da produtividade por meio de investimentos em infraestrutura na América Latina e fazer uma diferença real em termos de desenvolvimento social e econômico e de integração em toda a região. Caso contrário, o resultado será uma iniciativa fracassada e dispendiosa que introduzirá novas vulnerabilidades de endividamento externo em alguns países e riscos de retrocessos de crescimento em outros.

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