A inclusão nutre a diversidade

Na China diversidade étnica e unidade nacional se retroalimentam

Em um vídeo cativante que circulou pelas mídias sociais chinesas nas últimas semanas, um dançarino de meia-idade se move com energia masculina, com gestos ousados e graciosos que expressam o espírito indomável do povo das pradarias. Este destacado artista é Jiang Tiehong, o reitor de 56 anos da Faculdade de Dança da Universidade Minzu da China, com sede em Pequim. Jiang é o líder da quinta geração desta notável modalidade de dança chamada Continue Galopando. Muitos internautas comentaram que o dançarino traduz a ideia do “homem durão com um coração gentil”.

Nascido em uma família de dançarinos na Província de Heilongjiang, no nordeste do país, Jiang, membro da etnia coreana da China, cresceu na Região Autônoma da Mongólia Interior, imerso na rica tapeçaria cultural da região. Foi lá que seu pai, um renomado dançarino e coreógrafo, incutiu nele um profundo apreço pelos movimentos rítmicos e que envolvem o corpo inteiro desta dança folclórica mongol.

Continue Galopando, criado no início dos anos 1980, foi um trabalho marcante que se inspirou nos movimentos dinâmicos da população mongol ligada aos cavalos. A dança captura a energia e as aspirações ilimitadas da China em sua transição desde o início da Reforma e Abertura em 1978.

“Continue Galopando não apenas forneceu o alimento espiritual que as pessoas buscavam naquela era transformadora, como inspirou as gerações subsequentes a seguir adiante”, disse Jiang. Como porta-estandarte dessa dança, ele se dedicou a preservar seu caráter mongol essencial, ao mesmo tempo que a refinava e desenvolvia continuamente. “Devemos preservar os sabores culturais originais e aprimorá-los para expressar melhor a essência da identidade nacional por meio da dança.”

À medida que o vídeo da apresentação de Jiang viralizava na internet, mais pessoas descobriam o poder dessa dança. Muitos internautas expressaram na seção de comentários sua admiração pelo artista e pelo charme das danças e culturas étnicas. “Ajudar mais pessoas a entender a profundidade e a riqueza da cultura étnica chinesa é um esforço verdadeiramente significativo”, acrescentou Jiang.

Pessoas de Hezhe vestindo trajes tradicionais se apresentam durante um festival cultural de Hezhe em Fuyuan, província de Heilongjiang, no nordeste da China, em 2 de julho de 2023 (XINHUA)

Um país multiétnico – Cerca de 3 mil grupos étnicos vivem hoje em mais de 200 países e regiões no mundo todo. A esmagadora maioria dos países é habitada por grupos multiétnicos. A China é um deles.

A China tem 56 grupos étnicos. O grupo étnico han tem a maior população, que corresponde a 91,11% do total, de acordo com o sétimo censo nacional, realizado em 2020. As populações dos outros 55 grupos étnicos são relativamente pequenas e, portanto, costumam ser chamadas de minorias étnicas.

A população chinesa han cresceu 4,93% entre 2010 e 2020, enquanto a população das minorias étnicas cresceu coletivamente 10,26%. Durante esse período, a proporção da população de minorias étnicas aumentou 0,4 ponto percentual. As populações dos grupos étnicos variam muito em número. Alguns têm uma população de vários milhões, outros têm apenas vários milhares.

Alguns grupos étnicos da China habitam vastas áreas, enquanto outros vivem em comunidades compactas individuais, em pequenas áreas ou lado a lado com outros grupos. Em alguns casos, povos minoritários vivem em comunidades compactas em áreas habitadas principalmente por pessoas han, em outros a situação é inversa. Muitos povos minoritários têm parte de sua população vivendo em uma ou mais comunidades compactas, com o
restante espalhado pelo país.

O livro branco intitulado “A Política Étnica da  China e a Prosperidade Comum e o Desenvolvimento de Todos os Grupos Étnicos”, publicado pelo Gabinete de Informação do Conselho de Estado, o mais alto órgão administrativo do país, em setembro de 2009, detalha as diversas origens e desenvolvimento dos grupos étnicos da China e as condições locais que os moldaram.

Cerca de 4 mil a 5 mil anos atrás, cinco grandes grupos étnicos – huaxia, dongyi, nanman, xirong e beidi – surgiram no que hoje é o território chinês. Por meio da migração contínua, convivência, casamento misto e intercâmbio, os cinco grupos étnicos gradualmente se integraram, e a partir daí novos grupos étnicos continuaram surgindo.

Alguns destes últimos permanecem diferenciados até hoje, mas outros desapareceram ao longo da história em razão de guerras, deterioração do ambiente ecológico ou perda de identidade. Embora os grupos étnicos da China tenham origens e histórias diferentes, a tendência geral de seu desenvolvimento é formar um país unificado e estável com vários grupos étnicos.

“À medida que as trocas e a fusão entre vários grupos étnicos se aprofundaram, o padrão de distribuição decorrente da convivência e da complementaridade mútua solidificou cada vez mais as relações de interdependência e desenvolvimento comum”, atesta o documento.

Todos os grupos étnicos gozam da liberdade de crença religiosa, têm o direito de usar e desenvolver suas próprias línguas faladas e escritas e a liberdade de preservar ou mudar seus usos e costumes.

Ao longo dos anos, o governo chinês adotou vários métodos para eliminar fatores que minam a unidade de todos os grupos étnicos, e manteve essa unidade, esforçando-se para promover a prosperidade e o desenvolvimento comuns por meio dos esforços conjuntos de todos os grupos étnicos.

Antes da fundação da República Popular da China em 1949, a maioria das áreas minoritárias era subdesenvolvida econômica e socialmente e carecia de infraestrutura. Por exemplo, a Região Autônoma Uigur de Xinjiang não tinha ferrovia e a Região Autônoma de Xizang sequer tinha rodovias. Pessoas das minorias étnicas se dedicavam principalmente à agricultura tradicional e ao pastoreio.

A Constituição estipula: “O Estado faz o máximo para promover a prosperidade comum de todos os grupos étnicos do país”. Desde a adoção da política de Reforma e Abertura, o governo tomou várias medidas significativas para acelerar o avanço das minorias étnicas e das áreas minoritárias. Com a ajuda de partes economicamente avançadas da China e de políticas preferenciais, as minorias étnicas e as áreas minoritárias deixaram para trás a pobreza e o atraso e alcançaram resultados tangíveis em seu progresso econômico e social.

De 2012 a 2022, a renda disponível per capita dos residentes urbanos em áreas com grandes populações de minorias étnicas aumentou 7,7% na média anual, e a dos residentes rurais aumentou 10,2%, de acordo com a Comissão Nacional de Assuntos Étnicos. Além disso, foi construída uma significativa infraestrutura nessas áreas, incluindo ferrovias e parques industriais.

“Ajudar as pessoas a melhorar sua vida é fundamental para forjar um forte sentido de comunidade para a nação chinesa, porque elas podem sentir profundamente o apoio do país,” disse Pan Wei, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e diretor do Instituto de Assuntos Públicos
e Globais da Universidade de Macau, em fórum realizado em 12 de junho.

Segundo ele, na última década, a melhoria no intercâmbio e na interação ajudou pessoas de diferentes grupos étnicos na China a se conhecerem melhor e forjar maior união. Isso, por sua vez, trouxe mais estabilidade e prosperidade ao país.

Unidade na diversidade – De acordo com Pan Yue, chefe da Comissão Nacional de Assuntos Étnicos, a civilização chinesa sempre foi inclusiva e nunca procurou substituir culturas diversificadas por uma única cultura. “Na China, a unidade promove a diversidade, e a diversidade enriquece a unidade. E o processo de coalizão e integração não visa uma eliminação mútua, e sim uma melhoria de ambos, resultando no surgimento de uma civilização mais inclusiva”, disse Pan Yue no fórum em 12 de junho.

Pan também enfatizou que os esforços para proteger o patrimônio cultural de diferentes grupos étnicos serão intensificados ainda mais no futuro, ao contrário das alegações de alguns no Ocidente de que tais esforços estão sendo enfraquecidos. “É responsabilidade da nação chinesa proteger as
línguas e culturas étnicas que sempre foram partes inseparáveis da civilização chinesa”, disse ele.

Além das iniciativas governamentais, as comunidades étnicas também têm sido proativas na manutenção de suas tradições. O ensino de línguas nativas, os festivais folclóricos e a transmissão de habilidades artesanais de uma geração a outra contribuem para o vibrante mosaico cultural que define a China hoje. As mídias sociais e a internet capacitaram ainda mais os grupos minoritários a compartilhar suas histórias e a se conectar com públicos mais amplos, por meio de vídeos curtos, transmissões ao vivo, fotos e outras mídias. Por exemplo, no Douyin, a versão chinesa do TikTok, hashtags relacionadas à cultura étnica atraíram bilhões de visualizações. O Douyin também lançou programas de incentivo para que âncoras ao vivo se dediquem a promover a música e as danças étnicas.

Nos últimos anos, tem havido uma crescente incorporação de trajes e padrões étnicos tradicionais na moda chinesa. Os designers se inspiram nos tecidos vibrantes e nos bordados intrincados de diferentes trajes étnicos, reinterpretando esses elementos culturais para aplicá-los a vestimentas e acessórios contemporâneos. Roupas com padrões geométricos ousados, cores vibrantes e enfeites elaborados, inspirados nos estilos tibetano, miao, dong e em outras minorias étnicas, geraram muita procura, tanto nacional quanto internacionalmente. Essa polinização cruzada do artesanato tradicional e da moda atual elevou a visibilidade da herança cultural diversificada da China e permitiu que esses designs consagrados pelo tempo transcendessem suas raízes regionais para alcançar um público mais amplo.

Com o acolhimento das tendências da moda étnica, e com a preservação ativa de festivais e tradições e a maior exposição digital, é comum vermos agora turistas chineses e de outros países mergulhando nessas vibrantes experiências culturais étnicas em suas viagens pelas diversas regiões da China. São aspectos que agora se tornaram parte integrante da experiência de viagem na China.

“Temos visto um aumento nas vendas de nossos produtos”, disse Pu Xinyuan, vendedor de uma oficina de artesanato Xilankapu, um tipo de brocado da cultura étnica tradicional tujia, em um resort turístico em Chongqing, em depoimento à Beijing Review. “Muitos turistas, especialmente os jovens, compram como lembranças. Alguns até compram mais online quando voltam para casa, para dar aos amigos.”

“A popularidade da cultura étnica também beneficia os membros desses grupos étnicos, pois possibilita que aumentem suas rendas”, acrescentou Pu. “Por exemplo, o aumento da renda das bordadeiras e artistas étnicos ajuda a garantir o desenvolvimento sustentado da cultura tujia e Xilankapu, formando um círculo virtuoso.”

Este texto foi publicado originalmente na revista China Hoje. Clique aqui, inscreva-se na nossa comunidade, receba gratuitamente uma assinatura digital e tenha acesso ao conteúdo completo.

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