A China rumo ao topo da cadeia global de valor

O segredo do país é sempre saltar para segmentos superiores nas suas indústrias

No Relatório de Trabalho do Governo de 2018, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang mencionou o “desenvolvimento de alta qualidade” seis vezes, e apontou que a economia da China passou de um estágio de crescimento em alta velocidade para um estágio de desenvolvimento de alta qualidade. O relatório apresentado no 19° Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh) também enfatizou o aspecto de “fazer com que as indústrias chinesas passem para o segmento médio alto de cadeia global de valor, e estimular alguns núcleos de manufatura avançada de nível internacional”.

À medida que a globalização econômica entra em novo estágio de desenvolvimento, as indústrias globais assistem a uma maior transferência de valor e a uma integração mais profunda da divisão do trabalho. “No processo de globalização, o grande segredo da China é fazer constantemente um salto para o segmento superior da cadeia de valor, e aumentar a amplitude e profundidade da participação na cadeia de valor global”, disse Wu Yabin, diretor executivo do Instituto de Pesquisa das Cadeias de Valor Globais, na Universidade de Economia e Negócios Internacionais.

Maior nível de participação

“A participação de um país ou de uma companhia na cadeia de valor global é manifestada principalmente em duas dimensões – sua posição na cadeia e a amplitude e profundidade de sua participação”, disse Wu. “Quanto maior for a amplitude com que ela ocupa a cadeia de valor, mais empregos e riqueza ela será capaz de gerar.”

Segundo Wu, a cadeia de valor é interpretada geralmente como uma “curva sorriso”. A Pesquisa e Desenvolvimento de um produto (P&D), o design e os componentes essenciais estão em um dos segmentos superiores, enquanto os respectivos processamento, montagem e manufatura têm um valor agregado relativamente baixo, e então vão para outro segmento superior, como marketing e serviço pós-venda. A posição na cadeia de valor determina quanto valor agregado um país ou companhia é capaz de obter.

Os 40 anos de reforma e abertura da China foram essencialmente um processo de contínuo aprofundamento e integração na cadeia de valor global. Antes da reforma e abertura, disse Wu, a China caracterizava-se por exportar produtos agrícolas. No período inicial da reforma e abertura, suas exportações foram dominadas por produtos industriais, como as comodities primárias básicas. Na década de 1980, as exportações fizeram uma transição gradual para os bens manufaturados de indústrias leves e têxteis. Na década de 1990, as principais exportações da China evoluíram para produtos mecânicos e elétricos, mas nessa época os produtos exportados eram do segmento médio e baixo. No início do século XXI, o comércio exterior da China começou aos poucos a passar para o segmento superior e para produtos de alto valor agregado, como as ferrovias de alta velocidade, o poder nuclear e outros conjuntos completos de equipamentos em larga escala.

Em julho de 2017, o centro de pesquisa de Wu, juntamente com o Banco Mundial, com a Organização Mundial do Comércio (OMC), e com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (afiliada à Organização de Comércio Exterior do Japão), apresentaram o Relatório sobre Desenvolvimento da Cadeia de Valor Global. O documento avaliou os esforços da China em reduzir os custos comerciais e integrar-se à cadeia de valor global: a reforma e abertura da China começou com o estabelecimento de quatro zonas econômicas especiais. Seguindo o modelo de processamento das exportações, essas zonas construíram infraestruturas adequadas e adotaram procedimentos rápidos de liberação alfandegária. Em pouco tempo, todas essas políticas de facilitar o comércio foram aplicadas a mais de trinta cidades espalhadas pelo país. A concorrência entre cidades ajudou a baixar os custos de comercialização e permitiu maior inclusão na cadeia de valor global.

Ascensão na cadeia de valor

Wu usou o exemplo dos smartphones para mostrar que a participação da China na cadeia de valor global está aos poucos se expandindo. Os smartphones são o maior produto industrial de exportação da China. No momento, a taxa de nacionalização média dos telefones celulares produzidos domesticamente alcançou de 35% a 40%, e a taxa dos celulares Huawei ultrapassou 50%.

O relatório “Capital Inatingível em Cadeias de Valor Globais”, publicado pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual em novembro de 2017, chegou à mesma conclusão. De acordo com o relatório, o ritmo dos upgrades tecnológicos dos fabricantes de telefones celulares chineses é impressionante. A Huawei, por exemplo, tornou-se em pouco tempo um dos principais fabricantes de smartphones high-tech por meio de forte investimento em P&D e em gestão de marca global. Além da Huawei, as chinesas Xiaomi, Oppo e Vivo também estão entre as dez melhores marcas de smartphone do mundo. A posição da China na cadeia de valor de manufatura global tem aumentado consistentemente nos últimos anos, o que se reflete em incremento do valor agregados aos produtos e serviços chineses high-tech.

O progresso das ferrovias chinesas de alta velocidade é um exemplo de “desenvolvimento total da cadeia de valor”. Em setembro de 2017, o trem Fuxing (“Rejuvenescimento”) operava a 350 km/h na linha de alta velocidade Pequim-Xangai. A empresa fabricante é a única dona dos direitos de propriedade intelectual, o que estabeleceu um marco na trajetória da China para uma potência manufatureira e para uma cadeia de valor global do segmento médio-alto. Até novembro de 2017, mais de 20 projetos de ferrovias no exterior foram implementados e desenvolvidos principalmente por companhias chinesas, e o investimento total dos projetos de implementação de ferrovias no exterior superou os 100 bilhões de yuans. Segundo as estatísticas, mais de 80% dos países e regiões que têm ferrovias no mundo estão usando produtos e serviços da CRRC Corporation.

“Na indústria de ferrovias de alta velocidade, a China tem a capacidade de cuidar da integração do design na fase inicial, da integração do sistema no período intermediário, e da gestão operacional no último período. Segundo o princípio da curva sorriso, a China adquiriu a capacidade de desenvolvimento de toda a cadeia de valor nesse campo”, disse Wu, que também é pesquisador associado do Centro de Pesquisa Estratégica para o Desenvolvimento de Ferrovias de Alta Velocidade. Ele destacou que desde a cooperação técnica e exportação de padrões até o processamento de peças de reposição, a produção de ferrovias de alta velocidade não pode ser separada da cooperação internacional. Esse é também pesquisador associado do Centro de Pesquisa Estratégica para o Desenvolvimento de Ferrovias de Alta Velocidade. Ele destacou que desde a cooperação técnica e exportação de padrões até o processamento de peças de reposição, a produção de ferrovias de alta velocidade não pode ser separada da cooperação internacional. Esse também é um exemplo perfeito de cooperação internacional. Esse também é um experimento perfeito da cadeia de valor global no setor de manufatura de equipamento moderno, acrescentou Wu.

Segundo Zhao Hongwei, membro do Comitê Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPCh) e engenheiro chefe da Academia Chinesa de Ciências Ferroviárias, as unidades de trens tradicionais da China continuarão a seguir numa direção inteligente e verde por meio do desenvolvimento de novas tecnologias e materiais com eficiência energética e ecólogos, e chegarão à condução automática.

Esses aspectos são inseparáveis do apoio e investimento do governo chinês em inovação. No Relatório de Trabalho do Governo de 2018, o primeiro-ministro Li Keqiang destacou que, nos últimos cinco anos, o investimento em P&D na China aumentou 11% ao ano, ocupando a segunda posição no ranking mundial; e a taxa de contribuição do progresso científico e tecnológico para o crescimento econômico aumento de 52,2% para 57,5%. A China obteve resultados espetaculares em inovação em áreas como voos espaciais tripulados, exploração do mar profundo, comunicação quântica, e grandes aeronaves, e liderou o mundo em redes ferroviárias de alta velocidade, comércio pela internet, pagamentos por celular e economia compartilhada.

Enquanto isso, continuam crescendo na China a cooperação estrangeira e o investimento no exterior. Segundo Hu Xiaolian, membro do Comitê Nacional da CCPPCh e presidente do Banco de Exportação-Importação da China, o investimento chinês no exterior superou os US$ 124 bilhões de 2017, e está mais focado no progresso técnico, na maior expansão da cadeia industrial e em investimento verde. Projetos de construção no exterior também têm tido contínua transformação e upgrading. Mais companhias com projetos envolvem-se no estágio de investimento e participam ativamente na sequência da operação. Além disso, disse Hu, a China construiu perto de 100 parques industriais no exterior, o que tornou globais os equipamentos, tecnologia e padrões chineses. Tudo isso mostra que a extensão da participação chinesa na cadeia de valor global continua a se expandir e sua posição continua em ascensão.

De Made n China para Created in China

“A cadeia de valor global não é necessariamente a tradicional curva em forma de U, a curva sorriso. Muitos estudiosos têm proposto também a curva em arco-íris”, disse Wu. “A manufatura não é necessariamente um elo de produção com um valor agregado bem baixo. Pode também ser um elo de alto valor agregado, porque não há indústria em declínio, apenas produtos em declínio”.  Uma nova rodada de revolução científica e tecnológica e de transformação industrial está remodelando a cadeia de valor global. O upgrade de Made in China para Created in China exige o uso de Big Data, tecnologia inteligente e customização personalizada para aumentar ainda mais o valor agregado do processo de manufatura, ajudando o processo a evoluir do simples processamento e montagem para um link essencial e ativo entre os setores em alta e os setores em baixa.

No Relatório de Trabalho do Governo deste ano, o primeiro-ministro Li propôs que fossem dados passos para “desencadear uma revolução de qualidade na manufatura chinesa”. Ning Gaoning, membro do Comitê Nacional da CCPPCh e presidente do Grupo Sinochem, tem observado o progresso da China, de fábrica do mundo para potência manufatureira. “A indústria manufatureira da China ficou muito grande. O custo é relativamente baixo, mas a qualidade, o nível técnico, a sofisticação técnica e o valor agregado precisam ser elevados”, disse Nung, acrescentando que, por meio de medidas como a reforma estrutural da oferta e outras, a manufatura chinesa tem silenciosamente começado a melhorar sua qualidade, passando para um estágio de aprimoramento dos seus produtos.

A fim de promover o avanço da China para o segmento médio a superior da cadeia de valor global, o governo chinês tem sucessivamente introduzido medidas para reduzir tarifas sobre bens intermediários, tem promovido abertura no setor de serviços e facilitado o comércio e o investimento. No entanto, nesse processo, a China ainda enfrenta uma série de desafios, como a insuficiência na capacidade original de inovação, pouco controle sobre os preços dos produtos finais, e o êxodo de indústrias e pedidos de outros países em desenvolvimento.

A fim de promover o avanço da China para o segmento médio a superior da cadeia de valor global, o governo chinês tem sucessivamente introduzido medidas para reduzir tarifas sobre bens intermediários, tem promovido abertura no setor de serviços e facilitado o comércio e o investimento. No entanto, nesse processo, a China ainda enfrenta uma série de desafios, como a insuficiência na capacidade original de inovação, pouco controle sobre os preços dos produtos finais, e o êxodo de indústrias e pedidos de outros países em desenvolvimento.

“Esperamos também que no futuro, ao formular regras internacionais, possamos focar não apenas a segmentação de mercado. O mais importante é como tornar o mercado maior e mais ‘nutritivo’ com maior valor agregado, para não beneficiar apenas os países desenvolvidos, mas permitir também que mais países em desenvolvimento compartilhem das conquistas desse desenvolvimento”, disse Wu. Nesse sentido, a China espera contribuir com mais programas e sabedoria. Um exemplo é o Instituto de Pesquisas de Cadeias de Valor Globais. Ele montou uma plataforma de pesquisa, o Centro de Pesquisa da Cadeia de Valor Global, que se dedica a promover uma cadeia de valor global verde, sustentável e inclusiva.

“Companhias chinesas devem participar ativamente da governança ambiental global, assumir a liderança na implementação do conceito de desenvolvimento verde e manufatura inteligente, e promover o estabelecimento de uma cadeia de valor verde, de baixo carbono e sustentável”, afirmou Wu.

Sem Comentários ainda!

Seu endereço de e-mail não será publicado.