Por Dani Monteiro*
Meu interesse pela China ficou mais forte há cerca de dois anos, já em meu segundo mandato como deputada estadual do Rio de Janeiro, quando comecei a estudar sobre sua história, cultura e política. Enquanto presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, do parlamento fluminense, e membro da Comissão de Cultura, vejo como dei início a um estudo= que jamais terminará. Sobretudo porque, à medida que avanço nesse mar de aprendizado, abrem-se mais e mais linhas de reflexão que apontam direções importantes para minha atuação como parlamentar e como militante de esquerda.
Gosto de dizer: “a cabeça pensa onde os pés pisam”, então, fui à China em junho. E venho pensando muito nesse lugar incrível desde então. Lembro-me bem da beleza que encontrei quando visitei Pequim, onde o tradicional convive em harmonia com a inovação constante. Andar por aquelas ruas, visitar os museus e conversar com as pessoas fizeram com que eu traçasse paralelos com meu país. As aproximações, os estranhamentos, tudo me fazia pensar o quanto pode ser bom ter Brasil e China caminhando e construindo juntos.
Nossa cultura é uma riqueza herdada de vários povos, acumulada ao longo de milênios em forma de saberes, de fazeres e de visões de mundo que compõem o patrimônio espiritual do povo brasileiro. Apesar disso, por nosso passado colonial e escravista, temos, ainda em curso, um grave processo de discriminação e de apagamento, em especial dos povos indígenas e dos povos africanos.
Esse processo nefasto deve ser combatido. Acredito que deixar perecer as culturas que nos trouxeram até aqui é o que nos enfraquece enquanto sociedade e diminui nosso potencial, principalmente em moldar nossa realidade de forma mais próspera e justa.
E foi isso que vi na China. Esse respeito ao passado e àquilo que constitui o povo. Foi impossível não pensar na filosofia dos povos africanos e no ensinamento sobre o conceito de Sankofa (“Sanko” = voltar; “fa” = buscar, trazer), originário dos povos de língua Akan, da África Ocidental. Como um símbolo Adinkra – sistema de símbolos ideográficos desenvolvido pelo povo Akan –, Sankofa pode ser representado como um pássaro mítico
que voa para a frente, tendo a cabeça voltada para trás e carregando no seu bico um ovo, o futuro.
Sankofa ensina que olhar para trás não significa retroceder, mas sim reconhecer e respeitar as próprias vivências para evoluir. Trata-se de cultivar a consciência de que é preciso visitar nossas raízes para podermos realizar o potencial que temos e avançar para o futuro.
Com essa compreensão, enxergo na amizade entre o Brasil e a China um terreno fértil para o florescimento de uma nova lógica de funcionamento para o mundo. Aproximar e colocar nossas histórias e culturas em diálogo contribuem para afastar as tendências homogeneizantes de que se valem as hegemonias segregadoras, nos dando novas perspectivas e a possibilidade de trilhar caminhos ainda não pensados.
Trabalho pelo fortalecimento da cultura popular, da cultura que nasce e cresce nas periferias, porque sei que isso é potência, é resistência e alimenta nossos sonhos de uma vida verdadeiramente comunitária. Nosso passado é vivo em nós e nos ensina todos os dias.
Desejo profundamente que Brasil e China se aproximem ainda mais e que possamos nos fortalecer nas lutas e dividir nossos sonhos. Esse é o sentido dessa amizade. Em breve, a China me terá de regresso!
*Daniella Monteiro da Silva, de 34 anos, é deputada estadual desde 2019. Desde 2021, preside a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – ALERJ, onde também compõe a Comissão de Cultura e a Frente Parlamentar Brasil-China.

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