Refazendo o destino China

É preciso fazer mais para atrair turistas estrangeiros

Por Ji Jing

Cerca de 140 turistas de países como Singapura e Malásia chegaram a Shanghai às vésperas do Ano Novo, bem a tempo da celebração do feriado. Eles assistiram a danças do dragão, tocaram sinos num templo local para pedir boa sorte e assistiram shows de luzes, tudo como parte dos eventos para a contagem regressiva da cidade para o Ano Novo.

Fang Shizhong, diretor da Administração Municipal de Cultura e Turismo de Shanghai, contou à Agência de Notícias Xinhua que os eventos com tema de Ano Novo em Shanghai vêm sendo realizados desde 1989, ajudando a cidade a transmitir tradições culturais como a de comer macarrão durante a contagem regressiva e visitar feiras-livres.

Ele disse que Shanghai está fazendo esforços para se desenvolver como um destino de viagens internacionais de alto nível e reforçar sua reputação como uma “primeira parada” na China para turistas internacionais. Essas viagens de turistas à China estão marcando um novo passo na recuperação do turismo no país.

Facilitar as viagens – O governo tem revelado uma série de medidas nos últimos meses voltadas a estimular o mercado de turismo receptivo. Em 24 de novembro de 2023, o Ministério do Exterior anunciou uma política unilateral de insenção de vistos para detentores de passaportes comuns da França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha e Malásia, em regime de teste. Por meio dessa política, detentores de passaportes comuns desses seis países podem entrar na China sem um visto de negócios, para turismo, visitar parentes e amigos e transitar por até 15 dias de 1º de dezembro a 30 de novembro deste ano.

A partir do dia de vigência da política de isenção de visto, um total de 147 mil visitantes desses seis países entraram na China sem visto, segundo dados de 9 de janeiro da Administração Nacional de Imigração (NIA na sigla em inglês). Apenas em 8 de janeiro, mais de 4,3 mil visitantes desses seis países entraram na China sem visto, mais que o dobro do número de 1º de dezembro de 2023. Cerca de 70% daqueles que chegaram com passaportes comuns sob isenção de visto envolveram-se em turismo e lazer.

Após a implementação da política de isenção de visto, o porto de Nanning na Região Autônoma da Etnia Zhuang de Guangxi, viu crescer o número de turistas vindos do exterior. Dados das autoridades de controle da fronteira de Nanning mostraram que em 31 de dezembro de 2023, cerca de 2,8 mil pessoas em 121 grupos de viagem entraram na China através desse porto. China e Tailândia irão abrir mão permanentemente da exigência de vistos para seus respectivos cidadãos a partir de março, anunciou o primeiro-ministro tailandês, Srettha Thavisin em 2 de janeiro.

O Ministério do Exterior anunciou uma simplificação de seu processo de solicitação de visto em 20 de setembro de 2023. Os formulários de solicitação de visto foram modificados e tornados mais acessíveis e amigáveis ao usuário para os solicitantes. Além disso, o porta-voz do Ministério do Exterior, Wang Wenbin, anunciou em 8 de dezembro de 2023 uma redução de 25% na taxa para solicitação de vista cobrada pela China a partir de 11 de dezembro de 2023 até 31 de dezembro de 2024.

A NIA também otimizou as políticas de gestão da entrada-saída para incrementar ainda mais as visitas à China. As políticas da China de trânsito isento de visto por 72 e 144 horas foram estendidas a visitantes de 54 países, afirmou Mao Xu, diretor do Departamento de Gestão de Estrangeiros da NIA, durante o China International Travel Mart, realizado em Kunming, Província de Yunnan, em novembro de 2023. Visitantes desses países com isenção de vistos de trânsito têm permissão de viajar ou realizar atividades relacionadas a negócios em certas áreas permitidas pelas autoridades portuárias de visto, disse Mao.

A política de trânsito de 144 horas isento de visto aplica-se a cerca de 20 grandes cidades, como Pequim, Shanghai, Tianjin, Chongqing, Shenzhen e Guangzhou na Província de Guangdong, Nanjing na Província de Jiangsu e Chengdu na Província de Sichuan. Changsha na Província de Hunan, Harbin
na Província de Heilongjiang e Guilin em Guangxi implementaram a política de 72 horas. A NIA anunciou cinco novas medidas para facilitar visitas à China numa coletiva de imprensa em 11 de janeiro, incluindo alívio nos requisitos da solicitação de visto e simplificação nos materiais para solicitação de visto.

Em dezembro último, Liang Jianzhang, cofundador e presidente da maior agência de viagens chinesa online, o Grupo Trip.com, contou ao portal online de notícias Jiemian.com que a implementação das políticas de isenção de visto é uma tentativa saudável de aumentar o turismo receptivo, mas em comparação com outros países, o processo de solicitação de visto da China ainda tem grande espaço para aprimoramentos. Por exemplo, as políticas de isenção de visto poderiam ser estendidas a mais países.

Liang acrescentou que apenas ajustar as políticas de visto não é a melhor maneira de impulsionar o turismo receptivo, e que é mais importante melhorar de outras maneiras a facilidade dos visitantes para viajarem à China.

Guias turísticos recebem treinamento de língua inglesa em Jiaxing, Província de Zhejiang. (Reprodução/China Hoje)

Obstáculos e inconvenientes – A China retomou a expedição de todos os tipos de vistos en 15 de março de 2023, e permitiu a entrada de grupos de turistas a partir de 31 de março daquele ano. No entanto, a retomada do turismo em direção à China foi lenta. Segundo estatísticas da Academia de Turismo da China, as agências de viagem chinesas receberam 477,8 mil turistas do exterior na primeira metade de 2023, uma queda acentuada em relação aos 8,56 milhões de turistas registrado no mesmo período de 2019 antes da pandemia da COVID-19.

Após os três anos de suspensão impostos pela COVID-19, está levando tempo para que as empresas de viagens do exterior reajustem a sua alocação de pessoal e de outros recursos para vender produtos de turismo chineses outra vez, disse Zhou Zhanfeng, vice-gerente geral da CYTS International Travel, responsável pelo turismo de entrada no país proveniente da América do Norte, América do Sul e países europeus de fala alemã.

Ele fez essas observações em dezembro de 2023. A lenta recuperação dos voos internacionais é outra razão para a lenta recuperação do mercado de turismo receptivo. Qi Qi, vice-diretor da Escola de Administração da Faculdade de Aviação Civil de Guangzhou, contou ao Economic Daily que durante a pandemia, as empresas aéreas dispensaram funcionários em escala massiva na China e que leva algum tempo para reempregar e treinar novos funcionários; além disso, muitas áreas do exterior não têm uma alta motivação para recuperar seus serviços de voos para a China em razão de preocupações quanto à demanda de mercado e aos custos.

Além disso, é preciso que haja esforços para remover obstáculos enfrentados pelos turistas estrangeiros ao viajarem dentro da China. O malásio Zhang Weili, por exemplo, viajou para Pequim a negócios em outubro de 2023 e ficou vários dias a mais para ver as atrações da cidade. No entanto, descobriu que as atrações que ele queria visitar exigiam todos um complicado procedimento de reservas de ingressos online, e alguns sistemas exigiam o uso de um documento de identidade chinês.

Os serviços de hotelaria para visitantes também precisam ser melhorados. He Fei, um guia de passeios de língua inglesa em Guilin, contou ao Economic Daily que a maioria dos hotéis de ponta da cidade dela tinham membros do estafe que falavam inglês antes da pandemia, mas muitos largaram o emprego em razão da falta de viajantes estrangeiros. Ela também achou que serviços para visitantes internacionais como comida nos padrões ocidentais e de câmbio de moedas estrangeiras desaparecem desses hotéis.

Além disso, na China, nem todos os hotéis têm permissão de hospedar viajantes estrangeiros, e aqueles que o fazem costumam cobrar altos preços. Zhang disse que quis ter a experiência de uma hospedagem domiciliar em Pequim,mas quando ligou para uma hospedagem dessas para perguntar sobre a disponibilidade de um quarto, foi informado de que não era permitido receber estrangeiros. Sun Mengyang, um professor de marketing de turismo na Faculdade da Universidade União de Pequim, sugeriu que o governo aumente o número de hospedagens domiciliares e de albergues da juventude com permissão de receber estrangeiros, a fim de atender melhor às necessidades de jovens turistas internacionais.

Fortalecer a promoção – Além de terem que contornar esses inconvenientes, os visitantes estrangeiros também têm escassa compreensão da China como destino turístico. Ning Guoxin, vice-presidente da empresa chinesa de serviços turísticos U-Tour, contou à Jiemian.com que a imagem da China como uma civilização oriental antiga circula amplamente no mercado de turismo internacional. “No entanto, além de ser uma civilização antiga, também temos parques nacionais e magníficas montanhas e rios, que também devem ser apresentados a visitantes de outros países”, afirmou Ning.

Para persuadir visitantes estrangeiros, muitas empresas de viagens chinesas estão indo para o exterior para promover seus produtos. Zhou Xiaoguang, gerente geral de uma dessas agências, a Tang Dynasty Tours, com sede em Guilin, esteve recentemente ocupado comparecendo a exposições de viagens internacionais para promover seus produtos.

Zhou Xiaoguang acrescentou que deve ser dada maior ênfase à promoção de produtos chineses online. “Como seus pares chineses, jovens de outros países gostam de ver vídeos curtos nas plataformas. A promoção do turismo deve fazer uso dessas plataformas para atrair mais jovens.”

 

Este artigo foi publicado originalmente na 47ª edição da revista China Hoje. Entre para a Comunidade China Hoje gratuitamente e tenha acesso ao conteúdo completo.

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