Rede de clínicas odontológicas brasileira conquista mercado em Shenzen

Como o CEO Rodolfo Magalhães conquistou o mercado chinês com o sorriso brasileiro
Créditos: Arquivo Pessoal/Rodolfo Magalhães

Por Lucas Almeida

Rodolfo Magalhães teve o primeiro pensamento sobre um empreendimento na China ao ouvir o discurso de um CEO que tinha iniciado a mesma trajetória durante um congresso da Associação Brasileira de Franchising. Hoje, ele comemora os resultados da sua primeira clínica odontológica em Shenzen, cidade no sudeste do país asiático.

“Não é que estava fácil no Brasil, mas não tinha muita novidade. Já tinha inaugurado clínicas desde lugares em que só é possível chegar com um barco até grandes cidades. Já tinha vivido bastante coisa”, relembra Magalhães. Na época, ele já era CEO da Coife Odonto, rede odontológica que conta com cerca de 250 unidades pelo Brasil atualmente.

Em 2016, Magalhães viajou durante 30 dias, passando por Hong Kong, Taiwan e diversas províncias da parte continental da China, estudando a cultura e empreendimentos de cada região. O processo de pesquisa continuou pelos dois anos seguintes, com estadias de até três meses no país asiático, conhecendo feiras comerciais e se reunindo com outras empresas.

Desde o princípio o sonho do CEO era replicar o atendimento e os procedimentos das clínicas brasileiras no país. “Dos vinte contadores e advogados com quem conversei, só um disse que talvez fosse possível. Decidi seguir com o que acreditou na ideia”, ele relembra.

A partir de 2018, os sonhos começaram a ganhar um novo formato. A rede odontológica brasileira participou da Exposição Internacional de Importação da China (CIIE, na sigla em inglês) e virou
matéria na Televisão Central da China (CCTV), o que abriu espaço para pessoas de diferentes lugares do país se interessarem pela odontologia brasileira.

Créditos: Arquivo Pessoal/Rodolfo Magalhães

Diferenças culturais

Assim, surgiram duas possibilidades de parceria: um hospital, que desejava incluir profissionais brasileiros no seu quadro de equipe, e uma rede chinesa que propôs a abertura de uma joint venture com os brasileiros. Apesar dos contatos, as oportunidades acabaram não se consolidando pela diferença cultural ou por dificuldades de chegarem a um acordo vantajoso para as duas partes.

“A hora que começamos a participar de decisões conjuntas, vimos a grande lacuna entre as nossas gestões”, ele explica. Em 2019, as duas parcerias foram encerradas e Magalhães teve que escolher entre voltar para o Brasil ou investir em sua própria rede. “Esse momento foi um pouco perturbador.

Somos uma empresa familiar e eu toco junto com o meu pai. Meu feeling dizia que a gente poderia conseguir. Meu pai perguntou se eu tinha certeza e eu disse ‘tenho’, com muito frio na barriga”, brinca.

E foi assim que começou a empreitada para iniciar o negócio. Cerca de um mês depois, Magalhães encontrou o ponto ideal em Shenzen. “Dois dias antes de eu comprar uma passagem de volta para o
Brasil apareceu a oportunidade de abrir nesse local”, ele conta. “Estamos em uma região com uma população mais internacional. Mas hoje já recebemos clientes de toda a China.”

O CEO passou a virada do ano de 2020 montando as cadeiras da clínica, com o objetivo de abrir oficialmente no mês de janeiro. No entanto, os planos tiveram grandes mudanças com o início da pandemia causada pelo novo coronavírus.

Magalhães decidiu permanecer na China e viu diversos outros empreendedores desistirem dos seus negócios antes mesmo de abrirem as portas. Além da frustração, ainda precisou lidar com as
preocupações da família, que estava no Brasil. “Para mim, se a gente fizesse a inauguração e ficasse aberto apenas por dois meses, já teria sido uma vitória”, ele relembra.

Com as medidas efetivas de contenção do vírus, a VIP Dental Clinics foi aberta oficialmente em março. Mas o CEO deixa bem claro que os problemas não acabaram. No primeiro mês, a maioria da população ainda estava com receio de sair de casa, resultando em um movimento fraco.

A situação passou a melhorar no segundo mês, mas o empreendedor ainda tinha outras pendências. Originalmente, o valor gasto durante o período em que a clínica ficou fechada seria usado para comprar um tomógrafo, equipamento requerido pela fiscalização local. “O país inteiro estava enfrentando problemas com encomendas, por causa da epidemia. Consegui alongar o prazo e, com o nosso próprio lucro, compramos a máquina em três meses”, ele explica.

Magalhães relembra que as inseguranças e instabilidades foram recorrentes nos primeiros meses. Um momento marcante foi quando o único dentista que atendia a clínica comunicou que voltaria para o
Brasil em uma semana. “Foi uma verdadeira intervenção divina: no mesmo dia, recebi o telefonema de uma dentista brasileira que já estava morando na China e o nosso projeto foi salvo mais uma vez.”

Apesar dos obstáculos, a VIP Clinics faturou R$ 3 milhões no seu primeiro ano. A partir de janeiro de 2021, o empresário começou a contratar mais dentistas que moravam na China, investiu na prospecção de novos clientes e conseguiu ampliar o seu faturamento.

“Aqui no bairro, há umas 50 clínicas odontológicas, mas somos a única que está sempre cheia”, comemora Magalhães. “Além de profissionais brasileiros serem reconhecidos mundialmente, temos um diferencial no atendimento, explicando cada procedimento para os pacientes, com uma equipe inteira que fala inglês.”

Tecnologia digital

E, se o jeito brasileiro tem conquistado o público internacional, a experiência chinesa também tem sido um grande aprendizado para o CEO e os seus franqueados nacionais. Magalhães conta que os pagamentos digitais foram um divisor de águas na forma de atendimento. A abertura para novas tecnologias no país asiático também trouxe resultados.

“Quando um equipamento é lançado na China, pode demorar anos até ser aprovado e importado no
Brasil. Aqui, você encontra modelos bons rapidamente e consegue oferecer um tratamento acessível
e de maior qualidade”, ele explica.

O CEO ainda chama atenção para os cuidados no descarte de efluentes, o uso de luzes ultravioleta e normas de organização das clínicas chinesas. “Muitas pessoas no Brasil pensam que é o contrário, mas aqui há padrões sanitários muito evoluídos.”

Com cerca de 2,8 mil clientes na clínica, Rodolfo Magalhães continua expandindo os sonhos. No ano que vem, ele pretende abrir uma segunda unidade da VIP Dental Clinics em Xangai e deseja aproveitar seu aprendizado na China para expandir a rede para a Europa, começando por Portugal, e para outros países da América Latina.

Este artigo foi publicado originalmente na 39° edição da Revista China Hoje. Inscreva-se no nosso Clube do Leitor, receba gratuitamente uma assinatura digital e tenha acesso ao conteúdo completo: https://www.chinahoje.net/clube-do-leitor/

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