Primazia da vida é a opção da China

Por Evandro Menezes de Carvalho*

Quando a pandemia da Covid-19 tornou-se um problema de saúde pública global, vimos surgir inúmeras análises de especialistas de diversos países e de diversas áreas do conhecimento fazendo projeções de cenários sobre como será o mundo pós-pandemia. Alguns apostam na emergência de um mundo mais solidário e consciente da importância da preservação do meio ambiente e de padrões de desenvolvimento sustentável capazes de reduzir os riscos de novos surtos epidêmicos; outros, por sua vez, sustentam que a atual pandemia escancarou ainda mais o egoísmo e o individualismo na sociedade ao  expor situações de total desprezo à vida do semelhante. Ao ter que lidar com uma situação dramática na saúde pública, a pandemia foi um teste para muitos países porem à prova a qualidade e eficiência dos seus modelos de governança e dos valores que estruturam as suas sociedades.

É demasiado presunçoso afirmar como será o mundo pós-pandemia, mas já podemos dizer que temos respostas sobre como cada país lidou com um mundo pandêmico. As mudanças não virão de (ou com) um vírus, mas das ações das sociedades e seus governantes. Em alguns países, governo e seu respectivo povo souberam potencializar o valor da coletividade para a proteção de cada indivíduo da população; já em outros países, não. Nestes últimos, o número de mortes e contaminações pelo vírus da Covid-19 foi muito maior. O que estes fatos nos dizem? Eles nos dizem que, antes da ciência e dos cientistas nos presentearem com a vacina, os valores de uma sociedade podem ser tanto um reforço de proteção contra a propagação acelerada do vírus quanto o seu contrário, se inexistente qualquer sentido de comunidade, acelerando o contágio e aumentando os óbitos.

O discurso de ano-novo para saudar a chegada de 2021 pronunciado pelo presidente Xi Jinping evidenciou qual foi e tem sido a escolha feita pela China. Nas palavras do presidente chinês, a China testemunhou “a responsabilidade de compartilhar as penalidades e as dificuldades, o sacrifício sem vacilo”, que envolveu “médicos e enfermeiros a soldados do povo”. O país enfrentou a pandemia “com a noção de supremacia do povo e da vida”. Estas palavras poderiam ser consideradas como óbvias na boca de qualquer governante. Mas não foi o que se ouviu de governantes de certas grandes nações do Ocidente. Qual a lição a tirar disto? A de que visões de mundo produzem consequências sobre a vida das pessoas e, a depender do peso econômico do país em questão, sobre a estabilidade e a paz mundial.

Não se pode negar que, na gestão da crise da pandemia, a China – Partido Comunista, governo e seu povo – foi mais exitosa e preservou muito mais vidas. E a mesma abordagem que o governo chinês adotou no plano doméstico foi a que ele procurou replicar no plano internacional no esforço de ajudar os países que estavam enfrentando os primeiros surtos da Covid-19. Como disse Xi Jinping no mesmo discurso de ano-novo, “ao experimentar todas as dificuldades decorrentes deste ano, compreendemos o significado da comunidade de futuro compartilhado para a Humanidade de forma mais profunda”. Sim, a pandemia acabou por ser a ocasião para a China e o governo de Xi mostrarem para o mundo o sentido mais concreto deste conceito quando, por exemplo, doaram toneladas de equipamentos médicos para mais de uma centena de países. Diferentemente da noção de “globalização” difundida pelos países ocidentais no final do século XX e que punha ênfase nas mercadorias, o conceito de “comunidade de futuro compartilhado para a Humanidade” põe ênfase nas pessoas, na vida em coletividade. Tal conceito se coaduna com a noção de “desenvolvimento centrado no povo” que está presente no 14º Plano Quinquenal (2021-2025) para o Desenvolvimento Econômico e Social Nacional e os Objetivos de Longo Prazo até o ano 2035, aprovado pelo Comitê Central do PCCh. E não é só isto: traduziu-se em política pública que erradicou a extrema pobreza no território chinês.

A China tem dado provas de que a força da coletividade comprometida com a harmonia social é mais vigorosa para a promoção do desenvolvimento econômico e social, bem como para o enfrentamento de crises humanitárias, do que a suposta força do individualismo egoísta que caracteriza os países ocidentais engolfados, cada vez mais, nas armadilhas da desarmonia social interna.

Este texto foi publicado originalmente na revista China Hoje. Clique aqui, inscreva-se na nossa comunidade, receba gratuitamente uma assinatura digital e tenha acesso ao conteúdo completo.

*Editor-Chefe da China Hoje. Professor da UFF e FGV. Pesquisador Sênior do Institute for Global Cooperation and Understanding (iGCU), da Universidade de Pequim.

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