MST e China: a aliança por um novo modelo de desenvolvimento contra a crise climática

Por Marina do MST*

O combate à crise climática é um desafio inadiável, que exige a articulação de esforços em todas as esferas globais. Este caminho demanda, necessariamente, que repensemos os modelos de desenvolvimento que sustentam as sociedades contemporâneas, mirando um futuro pautado pela justiça social, preservação ambiental e crescimento inclusivo, como destaca Xi Jinping em “Governança da China”.

Como deputada e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), defendo que a união entre a ação popular e a política pública é crucial para enfrentar as crises ambientais e econômicas que nos afligem. A interação entre as comunidades do Sul Global, com suas diversidades e conhecimentos, cria o ambiente propício para que essa discussão se torne um verdadeiro catalisador de mudanças concretas.

No Brasil, a luta pela soberania alimentar e pela reforma agrária figura como base para a construção de um país sustentável. Agente fundamental na democratização da terra no país, o MST tem demonstrado que a luta organizada vai além da reivindicação de território. Através de mobilização popular e estratégias inovadoras, o movimento converte desafios em oportunidades, criando sistemas agroecológicos que respeitam os ciclos naturais e fortalecem a autonomia dos agricultores, impulsionando a geração de renda e inclusão social.

Enquanto Xi Jinping aponta para a necessidade de conciliar desenvolvimento econômico com preservação ambiental, destacando a segurança alimentar como base para a estabilidade social, a experiência do MST serve como modelo de políticas públicas que promovem a produção responsável e a justiça distributiva. Nesse contexto, a convergência entre a experiência brasileira e a perspectiva chinesa configura‐se como uma oportunidade ímpar para repensar os caminhos do progresso, superando os convencionais paradigmas e abraçando uma nova era de responsabilidade ecológica e social.

Um dos maiores parceiros comerciais agrícolas do Brasil, a China tem se mostrado um aliado estratégico, especialmente no que se refere à mecanização da agricultura familiar. Enquanto 87% da agricultura camponesa na China é mecanizada, no Brasil, esse índice não ultrapassa 14%. O MST vê nas tecnologias chinesas uma oportunidade de mudar esse cenário, com a introdução de máquinas pequenas e médias, adaptadas à realidade brasileira. A recente parceria com a Universidade Agrícola da China, que resultou na doação de 31 máquinas para assentamentos do MST, é um exemplo prático de como essa colaboração pode ser transformadora.

Neste mês, será dado mais um passo importante nesta caminhada conjunta. Estarei em solo chinês representando o Movimento para estreitar laços de cooperação com foco no desenvolvimento rural e na segurança alimentar, e aprofundar o diálogo sobre temas urgentes, como o combate às mudanças climáticas, a mecanização agrícola e a produção sustentável de bioinsumos.

A cooperação internacional é fundamental para enfrentar os desafios do século XXI. É urgente a proposta de institucionalizar o BRICS e criar um fórum permanente para debater temas como agroecologia e segurança alimentar, compondo uma resposta pragmática e esperançosa que pode redirecionar as estratégias políticas globais rumo ao enfrentamento da degradação ambiental e à promoção do desenvolvimento rural. Reafirmo que esta transformação passa, imperativamente, pelo fortalecimento das instituições que promovem a integração entre saberes tradicionais e inovações tecnológicas.

Concluo, portanto, que a união das experiências do MST com a governança chinesa pode nos ajudar a construir um futuro em que inovação e preservação caminhem juntos. A sinergia entre ação popular e política estatal pode, de fato, reverter os efeitos devastadores da crise climática e construir bases sólidas para um desenvolvimento que beneficie toda a sociedade. Que essa visão, embasada na determinação, na solidariedade e no respeito inegociável à natureza, inspire os governos, os movimentos sociais e os cidadãos a atuarem com coragem e compromisso na defesa do planeta e na promoção de uma vida digna para todos.

* Marina do MST é a primeira mulher Sem Terra a ser eleita deputada na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde preside a Comissão de Segurança Alimentar. Eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em 2022, é natural do Paraná e tem 25 anos de militância no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no qual atua como dirigente nacional. Também integrou o conselho político da Via Campesina Internacional. Formada em Assistência Social pela UFRJ e mestre em Desenvolvimento Territorial pela UNESP, Marina luta pela reforma agrária e pelos direitos dos trabalhadores do campo.

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