Graham Allison: Superando a Armadilha de Tucídides com a Sabedoria Chinesa

Por Filipe Porto*

Em 22 de março, Graham Allison, um renomado estudioso estadunidense de política internacional, afirmou em Pequim que os Estados Unidos e a China precisam exercer moderação, dissolver a confrontação e lidar com a competição e cooperação bilaterais de maneira mais inteligente, a fim de construir uma base estável para as relações bilaterais e lidar conjuntamente com desafios globais.

“O ano de eleição de 2024 trouxe os Estados Unidos para a ‘temporada da estupidez’, com políticos de ambos os lados do corredor dizendo coisas extremas, e alguns até dizendo coisas que estão longe da verdade. Tanto a Câmara dos Deputados quanto o Senado estão criticando a China enquanto competem para ver quem pode ser mais duro com a China. Isso também aumentou o perigo potencial de tensões entre nós e a China caírem na ‘armadilha de Tucídides'”, disse Graham Allison no lançamento de um novo livro (inglês e chinês) intitulado “Escaping the Thucydides Trap: Dialogue with Graham Allison on China–US Relations”, em parceria com o think tank China Center of Globalization, o CCG.

Créditos:CCG

Allison e Wang Huiyao, presidente do CCG, realizaram um diálogo aprofundado sobre “como evitar a ‘Armadilha de Tucídides’ e desenvolver relações estáveis entre grandes países”.

Allison usou a “Armadilha de Tucídides” como pano de fundo para analisar as complexidades e sutilezas das relações entre os Estados Unidos e a China. Ele acredita que um exame da história dos últimos quinhentos anos mostra que as guerras entre potências emergentes e potências estabelecidas não são inevitáveis, mas como estabelecer um novo modelo de relações entre grandes potências entre os Estados Unidos e a China ainda é um desafio que precisa ser abordado.

“Agora estamos caminhando para um confronto entre grandes potências e precisamos encontrar uma maneira de os EUA e a China coexistirem”, disse Allison. Os EUA e a China devem basear-se na sabedoria da história chinesa, incluindo “Reconciliação Yin e Yang”, “Parceiros Competitivos” e “Eu tenho você, você tem a mim”, para alcançar o desenvolvimento comum na interdependência.

Indo além, o autor cita um trecho dos Nove Lugares de Sun Tzu: “O povo Wu e o povo Yue se odeiam. Quando estão no mesmo barco e no vento, eles vão se ajudar como um braço direito”, destacando que, embora os dois lados tenham queixas antigas, devem se ajudar quando encontrarem problemas juntos.

O autor ainda cita um discurso do Presidente Xi Jinping durante sua visita aos Estados Unidos em setembro de 2015, onde ele afirmou: “No mundo, não existia originalmente a ‘Armadilha de Tucídides’, mas se as grandes potências continuarem a cometer erros estratégicos repetidamente, elas podem acabar criando a ‘Armadilha de Tucídides’ para si mesmas.” Ele destaca que essas observações importantes do Presidente Xi têm grande significado para superar a ‘Armadilha de Tucídides’ e construir uma nova forma de relação entre grandes potências.

Allison, que também é decano fundador da Escola de Governo Kennedy da Universidade Harvard e o originador da teoria da “Armadilha de Tucídides”, se baseou na exposição do antigo historiador grego Tucídides sobre a Guerra do Peloponeso para revelar a possibilidade de fortes conflitos e até mesmo guerras entre novas potências emergentes e potências estabelecidas devido a interesses nacionais.

Durante a sessão, Wang Huiyao, também autor deste livro, disse que a inspiração e os materiais para a obra vieram das muitas conversas e trocas aprofundadas que ele e Allison tiveram desde 2010. O livro cita artigos, relatórios e entrevistas de Allison sobre as relações China-EUA de 2017 a 2022, abrangendo uma variedade de tópicos, incluindo a direção futura das relações China-EUA e lições da história. Cada capítulo discute como a China e os Estados Unidos podem evitar julgamentos estratégicos equivocados e evitar a guerra de diferentes dimensões, e apresenta métodos e sugestões para superar a “Armadilha de Tucídides”.

Na esteira da visita de Allison a Pequim, houve encontro com o ministro das relações exteriores da China, Wang Yi, no dia 26 de março. Wang destacou a importância de uma convivência pacífica entre as duas nações, enfatizando os princípios de respeito mútuo e cooperação ganha-ganha. Allison concordou, ressaltando a necessidade de compreender profundamente a cultura e a política chinesas. Ambos expressaram o desejo de fortalecer o diálogo e encontrar maneiras de promover uma relação mais estável e saudável entre China e Estados Unidos, reconhecendo sua importância para o mundo globalizado atual.

No dia seguinte (27), Allison participou do encontro do Presidente da China, Xi Jinping, com representantes das comunidades acadêmica, empresarial e estratégica. Foi o primeiro encontro frente a frente do líder chinês com personalidades dos Estados Unidos desde a reunião com Joe Biden em São Francisco, em novembro de 2023.

Citando novamente a referência da “Armadilha de Tucídides” Allison apresentou a hipótese de haver possibilidade de conflito intenso ou mesmo guerra entre potências emergentes e potências estabelecidas. O Presidente Xi, por sua vez, assinalou que o maior consenso alcançado em São Francisco é que as relações entre a China e os Estados Unidos devem se estabilizar e melhorar.

 

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