Por Jussara Goyano
Chineses já ocuparam o status de maiores viajantes do planeta, perdendo espaço, no entanto, para nacionalidades nórdicas. Eles eram cerca de 150 milhões de turistas rodando o mundo anualmente, segundo dados divulgados pelo Instituto Sociocultural Brasil China. Isso ao passo que Hong Kong com frequência aparece no topo da lista dos destinos mais visitados, segundo o Euromonitor International. A cidade esteve em primeiro lugar do rol em 2018, com cerca de 30 milhões de visitantes, e ocupou o segundo lugar em 2023, com a visita de cerca de 15 milhões de turistas. A contribuição financeira dos chineses para o turismo internacional também acompanhou esses rankings positivos: os gastos em viagens já chegaram a US$ 255 bilhões, figurando como a principal receita do setor. Apenas o gap produzido pela pandemia de coronavírus foi capaz de frear esse intercâmbio. O movimento de recuperação do ritmo de viagens China-mundo e vice-versa, contudo, é consistente.
Em dezembro, a retomada geral do turismo internacional pela China movimentou mais de US$ 25 bilhões, com reflexos no câmbio chinês segundo o divulgado por entidades econômicas chinesas. As viagens em grupo, que lotavam os aviões chineses rumo ao exterior, foram liberadas no ano passado, impactando maciçamente o total de gastos em viagens internacionais. Isso além da diminuição de restrições e exigências para turistas chineses por diversos países que ainda tinham suas ressalvas.
Em janeiro de 2023, 20 países foram liberados para turismo em grupo, incluindo localidades da América Latina. Em março do ano passado, outro lote, este de 40 países, incluiu o Brasil. Só em agosto que Japão, Reino Unido, Estados Unidos e Austrália – destinos entre os principais para viagens individuais e em grupos de chineses – foram autorizados pelo governo da China, em um novo lote de liberações. No final do ano passado, o número de voos semanais de e para território chinês já se encontrava em franco crescimento, embora ainda abaixo dos níveis pré-Covid-19.
A Administração de Aviação Civil da China (CAAC) divulgou, no início de 2024, que planeja aumentar os voos internacionais por semana de 4.600 para até 6.000 semanais ainda este ano. São 20% menos voos do que o registrado no período pré-pandêmico, apesar do incremento. O acréscimo representa, no entanto, cerca de 30% mais viagens. A mobilização para chegar aos índices anteriores à pandemia (e, mesmo, superá-los) não para, e nesse movimento o Brasil é um destino promissor.
Voos para o Brasil – Em março deste ano, com as restrições ainda mais afrouxadas por autoridades chinesas e de outros países, voos da Air China – principal operadora em rota para destinos brasileiros – foram retomados, inclusive com viagens mais curtas entre Pequim e São Paulo (SP). Neste momento propício, até o fechamento desta reportagem, a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) informava um bloqueio iminente na agenda do presidente da entidade, Marcelo Freixo, para compromissos com autoridades chinesas do setor e retomada do diálogo sobre o turismo chinês no Brasil.
Os laços não se perderam, nem durante a Covid-19 e podem ser estreitados: entre 2019 e 2021 quase 80 mil chineses visitaram destinos brasileiros, segundo o Ministério do Turismo (MTur). O volume pode ser retomado e até ampliado, segundo o governo brasileiro. E a campanha para tanto deve ter foco específico.
Os atrativos mais comuns para os turistas chineses são o ecoturismo, locais onde possam vivenciar a cultura brasileira e onde existam oportunidades de negócios. Mais de 70% dos visitantes chineses chegam ao país por este último atrativo. O restante vem ao Brasil majoritariamente a passeio, principalmente a destinos como Rio de Janeiro, São Paulo e Foz do Iguaçu, segundo o MTur. (Neste último destino, os chineses estão entre os 10 maiores contingentes de visitantes. Foz é a única cidade brasileira e das Américas a tomar parte na Aliança Internacional de Turismo das cidades da Rota da Seda.)
O desenrolar dos próximos acordos para o turismo Brasil-China deve, provavelmente, seguir a preferência habitual pelos destinos, mas também pode considerar outros: segundo a consultoria DragonTrail International, devido à longa distância entre China e localidades da Europa Ocidental ou das Américas, por exemplo, a chance de um turista chinês se engajar em um pacote de viagens que contemple a visita a mais de um país nessas regiões é maior do que naqueles que abrangem um único destino. A informação sugere que rotas fronteiriças com outros países da América do Sul, envolvendo acordos no Mercosul, sejam fortes candidatas a integrar as próximas negociações com o governo brasileiro.
Antes da pandemia, chineses também eram alguns dos principais visitantes do Amazonas (eram a 16ª nacionalidade na lista dos visitantes internacionais do estado), sugerindo que viagens a lazer na região podem ter plano especial de retomada. Há que se considerar, também, a expansão dessas rotas para a chamada “Amazônia Legal”, que compreende nove estados brasileiros, também em regiões de fronteira com outros países.
Outros detalhes do perfil do turista chinês também serão, provavelmente, levados em conta. Alguns desses pormenores são a idade do público viajante e o seu tíquete médio por viagem. A geração millennial (15 a 35 anos) é a que mais visita o Brasil, gastando quase R$ 10 mil, em média, em sua estadia. Embora as viagens em grupo sustentem o mercado, um movimento maior de viajantes individuais talvez deva ser considerado.
Infraestrutura nacional – Enquanto os novos encontros com a China não acontecem, a Embratur prepara a casa. Em janeiro lançou o primeiro edital do Programa de Aceleração do Turismo Internacional (Pati), iniciativa do governo federal que prevê parcerias público-privadas com as companhias aéreas e aeroportos para a ampliação no número de assentos e voos internacionais com destino ao Brasil.
Os recursos são do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) em uma parceria dos ministérios do Turismo e de Portos e Aeroportos, com execução da pasta de Marcelo Freixo. Na primeira fase, os investimentos devem somar R$ 7 milhões, sendo cerca de 50% custeados com verbas públicas.
Outra iniciativa, desta vez apenas no âmbito do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor), reuniu concessionárias que administram 99% dos aeroportos nacionais. O objetivo foi chamá-las à responsabilidade que possuem no fortalecimento da aviação comercial do país, com ampliação de rotas regionais e internacionais, investimentos e melhorias nos terminais em concessão. A previsão é de que essas empresas invistam mais de R$ 20 bilhões com essa finalidade nos próximos anos.
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