Das cidades inteligentes às cidades do futuro

A tecnologia irá definir e moldar como vivemos nossas vidas

Neste momento em que a China vive o auge de uma transição de nação de rápido desenvolvimento para nação modernizada, desenvolvida e referência de progresso moderno, o seu índice de urbanização acelerou-se em níveis inéditos. Em 1950, apenas 13% da população da China vivia nas cidades; essa cifra passou para 45% em 2010, para 57,4% no final de 2016 e a projeção é que chegue a 60% por volta de 2030. Isso representa mais de 700 ou 800 milhões de pessoas vivendo em ambientes urbanos. A urbanização está remodelando o ambiente físico, assim como o tecido cultural da sociedade, e exerce grande impacto na economia.

Os modelos tradicionais de urbanização estão desatualizados. Eles são insustentáveis para populações desse porte e acarretam um desperdício de recursos, além de serem extremamente prejudiciais para o meio ambiente, em comparação com os grandes avanços em tecnologia e em energia renovável nas últimas décadas. Atualmente, a única maneira de imaginar as cidades do futuro é por meio daquilo que o jargão contemporâneo chama de cidades inteligentes.

O British Standards Institute (BSI) define o termo como “a integração efetiva dos sistemas físicos, digitais e humanos no ambiente construído, para oferecer um futuro sustentável, próspero e inclusivo aos seus cidadãos”. As companhias de tecnologia enxergam isso a partir de um contexto totalmente diferente. A IBM define uma cidade inteligente como “aquela que faz ótimo uso de todas as informações interconectadas disponíveis hoje, a fim de melhor compreender e controlar suas operações e otimizar o uso de recursos limitados”. Da perspectiva dos cidadãos e habitantes, a cidade inteligente pode ser vista como um espaço habitável que tem toda a funcionalidade básica de uma cidade integrada e aprimorada pela tecnologia. Além disso, deve conter também padrões verdes e de sustentabilidade integrados ao mix. O fato de esse termo-chave tender a se tornar um padrão onipresente de avaliação da vida nas modernas cidades desenvolvidas se deve a uma série de fatores. As cidades são os motores essenciais do crescimento de todas as sociedades modernas. É onde se juntam grandes núcleos de competência, atraídos por oportunidades e instalações, onde os melhores recursos podem ser alocados, e onde há instalações disponíveis.

O modelo da vida urbana gira em torno de necessidades tecnológicas, demográficas e infraestruturais nascidas em meados do século XX. Essa noção de vida moderna era predominantemente dependente da abundância e disponibilidade de combustíveis fósseis. Isso levou a um desenvolvimento que tende ao excesso e ao desperdício, e que se revelou desastroso, tanto para o meio ambiente quanto no aspecto geopolítico. No entanto, nos últimos anos, uma combinação de eventos interessantes manifestou-se mais ou menos ao mesmo tempo. Devido ao surgimento meteórico de smartphones, banda larga de celular e sistemas digitais embarcados de baixo consumo de energia e alta eficiência, houve uma grande e irrevogável mudança, que abrange desde os negócios até a vida social. Os parâmetros do que constitui uma cidade inteligente também têm mudado com isso. Com a combinação de Internet das Coisas (Internet of Things, IoT), computação na nuvem, Big Data, machine learning e inteligência artificial, as cidades não são mais massas estáticas de aço, concreto e asfalto, com soluções antiquadas para problemas que poucos haviam previsto quando emergiram; ao contrário, elas têm o potencial de serem altamente eficientes, bem projetadas, habitats de humanidades amigáveis ao ambiente e às pessoas.

Alguns fatores-chave que definem hoje uma cidade inteligente são o design eficiente, a maximização de espaços verdes, a minimização de pontos de engarrafamento, a sustentabilidade da infraestrutura e das construções, e o monitoramento em profundidade de todos os pontos de dados que possam ser obtidos por meio de sensores, para permitir ótima segurança e efetivo acesso a instalações com o mínimo desperdício.

O que se procura agora é conseguir espaços vitais bem projetados, construídos tendo em vista a eficiência e dentro de uma filosofia de design de habitações humanas confortáveis, com tecnologia integrada a cada aspecto, desde o design até a construção, com o monitoramento da funcionalidade e da manutenção. Áreas urbanas inteiras são construídas de modo a maximizar as áreas verdes e assegurar fluidez do trânsito. Com tecnologia integrada a cada aspecto, desde iluminação das ruas a semáforos, te terremotos a detectores de fumaça, é possível ajustar a operação nos mínimos detalhes.

Por exemplo, em caso de incêndio num edifício, seus ocupantes não só podem ser imediatamente alertados disso por seus celulares, com também direcionados para as saídas mais próximas e os espaços mais seguros. Além disso, o conhecimento do incidente será instantaneamente comunicado a todo o sistema, e com isso não só serão implementadas inteligentemente todas as medidas de segurança do edifício, como os serviços de resgate e emergência serão acionados na mesma hora. Adicionalmente, o caminho deles pelo trânsito será desimpedido, com a definição de um trajeto ótimo por meio do monitoramento do fluxo de trânsito e da análise de dados obtidos de sensores espalhados pela cidade. Além do mais, o trânsito regular pode ser redirecionado a rotas alternativas para assegurar que a vida nas áreas próximas seja afetada o mínimo possível. Com isso, também as ambulâncias poderão trasladar feridos mais rapidamente para os hospitais.

As possibilidades para melhoras e ajustes como esses em todos os aspectos da vida tanto urbana quanto rural são imensas. Essas melhoras na qualidade de vida, tanto tangíveis quanto intangíveis, são não só possíveis, como já se tornaram necessidades prementes, pois muitas das grandes cidades tornaram-se mastodontes de difícil manejo.

A meta é livrar as cidades dos tradicionais flagelos dos quais são vítimas e criar espaços vitais onde os habitantes se sintam seguros, confortáveis e produtivos, sem obstáculos desnecessários ou indesejáveis, a custos insustentáveis.

A cidade de Shenzhen, no sul da China, já enfrentou o primeiro desafio de criar uma cidade inteligente, a partir das lições aprendidas com seu sucesso fenomenal. O próximo passo nessa trajetória de desenvolvimento é o massivo núcleo urbano Jing-Jin-Ji (de Pequim-Tianjin-Hebei), que irá aliviar um pouco do fardo sobre Pequim e agilizar muitos aspectos da vida urbana por meio de um design orientado para o futuro.

Para esse fim, gigantes chineses de tecnologia, como Tencent, Alibaba, Xiaomi, Huawei e ZTE estão investindo bilhões e competindo ferozmente para desenhar e definir os padrões para o futuro, desde tecnologia 5G a IoT. As apostas são cada vez maiores, já que, devido à economia de escala, o vencedor levará a banca e irá impactar não só a China, mas o resto do mundo.

Tudo isso terá também um valor inestimável para o próximo estágio da Iniciativa Cinturão e Rota, já que o desenvolvimento nos próximos anos e décadas será remodelado a partir dos resultados obtidos agora. A China decidiu enfrentar esse imenso desafio e assumiu a dianteira no desenvolvimento de cidades modernas e espaços urbanos que serão compartilhados com o mundo mais tarde.

As cidades inteligentes que estão sendo vislumbradas agora serão as plataformas a partir das quais a humanidade poderá viver isenta dos desafios e tormentos das claustrofóbicas selvas de concreto, e se livrar de congestionamentos de trânsito e de viajar em transporte de massa lotado, como se fossem rebanhos de carneiros, inalando fumaças tóxicas, assustadas com cada rosto não familiar. Uma mudança com essa escala e impacto não irá ocorrer do dia para a noite, e tampouco tem o charme de algumas inovações tecnológicas e palavras da moda, mas é algo crucial porque define e molda a maneira com que iremos viver nossas vidas e formular nosso futuro. É hora de retirar o aspecto de novidade do termo cidades inteligentes, e que essa visão passe a integrar o conceito de cidades do futuro.

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