A principal lição que o novo coronavírus está deixando é quanto dano uma pandemia pode causar. A doença mostrou uma vulnerabilidade social e econômica muito maior do que os especialistas imaginavam, de acordo com Martin Wolf, comentarista de economia do Financial Times.
Um trabalho recente de David Cutler e Lawrence Summers, de Harvard, estimou o custo total da Covid-19 nos Estados Unidos em US$ 16 trilhões (cerca de R$ 86,4 trilhões). O valor representa 75% do PIB anual do país e é o quádruplo do custo da recessão após a crise de 2008.
Até o momento, a Covid-19 já matou 1,4 milhão de pessoas. Com quase 10 mil mortes por dia, se esses números se mantiverem, as mortes acumuladas nos dois primeiros anos podem chegar a 5 milhões, pouco mais de 0,06% da população mundial. Se compararmos com a gripe espanhola, que surgiu em 1918 e durou 26 meses, os números são bastante diferentes. A doença do século passado custou entre 17 e 100 milhões de vidas, entre 1% e 6% da população mundial na época. Isto é, mesmo que a pandemia de Covid-19 seja mais branda, o prejuízo econômico será enorme.
Dois relatórios de 2006, um do Departamento de Orçamento do Congresso (DOC) e um da Comissão Europeia, subestimaram uma possível pandemia. O documento europeu dizia que “embora uma pandemia cobrasse um preço enorme em sofrimento humano, muito provavelmente não seria uma ameaça grave à macroeconomia europeia”. Mas não é o que podemos observar atualmente.
Para Martin Wolf, o dano econômico pela pandemia de Covid -19 foi muito grande porque as possibilidades econômicas permitiram isso, pois são muito maiores do que antigamente, pelo menos nos países ricos.
Algumas pessoas afirmam que o prejuízo é grande por causa das medidas adotadas para combater a pandemia, com bloqueios indiscriminados. Para esses, apenas as pessoas mais vulneráveis deviam ser protegidas.
No entanto, o estudo “Para salvar a economia, salvem as pessoas primeiro”, do Instituto para o Novo Pensamento Econômico, revela que os países que buscaram a supressão da doença se saíram melhores do que aqueles que trocaram as mortes pela economia. Nesses casos, as nações tendem a acabar com alta mortalidade e altos custos econômicos.
Martin Wolf acredita que, diante da segunda onda de infecções na Europa, não terem insistido em controlar totalmente o vírus na primeira onda parece ter sido um grande erro. Ele também considera que, no momento, uma recuperação mundial exige um alto nível de cooperação global. Principalmente para distribuir vacinas para todo o mundo.
A grande lição, contudo, é o fato de que o choque econômico foi muito mais devastador do que os economistas previam. “Na próxima vez, devemos suprimir a nova doença muito mais rapidamente. Muitos discursam hoje sobre liberdade. Mas a segurança das populações deve ser a suprema lei da política, hoje e sempre”, conclui.
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