China na Antártica: Contribuições para uma Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade

Por Filipe Porto*

A recente inauguração da Estação Qinling na Antártica pela China é um marco significativo nos esforços de exploração polar do país. Em operação desde 7 de fevereiro de 2024, a estação “está pronta para aprofundar a compreensão científica da humanidade sobre a Antártica, ao mesmo tempo em que fomenta a cooperação internacional e promove a paz e o desenvolvimento sustentável na região”, de acordo com comunicado do Ministério das Relações Exteriores da China.

O Presidente Xi Jinping também enviou seus parabéns aos pesquisadores polares pela conclusão da estação, enfatizando a importância da perseverança e inovação em seus esforços. Xi notou que este ano comemora o 40º aniversário da expedição polar da China, e destacou as conquistas significativas do país na pesquisa polar.

No entanto, em meio ao clima de celebração, alguns veículos levantaram preocupações quanto às supostas capacidades de uso dual da tecnologia na estação, ou seja, para fins científicos e também militares. Alegações sugerem que sua localização estratégica poderia facilitar atividades de coleta de inteligência direcionadas a países vizinhos, como Austrália e Nova Zelândia.

Em resposta a essas alegações, Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, reafirmou a adesão da China às disposições do Tratado Antártico e enfatizou a conformidade da estação com as regulamentações internacionais. Ele destacou seu papel no avanço da compreensão humana sobre a Antártica.

Oferecendo insights sobre o assunto, Leonardo Mattos, Coordenador do Núcleo de Avaliação da Conjuntura e Professor de Geopolítica na Escola de Guerra Naval, alertou contra acusações infundadas sobre pesquisas de uso dual. Mattos destacou a presença de múltiplas estações de pesquisa no continente gelado, incluindo aquelas operadas pelos Estados Unidos, sugerindo que atribuir tais atividades exclusivamente à China pode ser injustificado.

“É praticamente impossível ser comprovado que pesquisas duais estão ou não sendo feitas na Antártica por qualquer dos países que possuem estação científica por lá. Parece-me leviano afirmar que a China está fazendo isso, não vi nenhuma comprovação. É importante lembrar que os Estados Unidos possuem três estações de pesquisa permanentes na Antártica, sendo que a estação de Mc Murdo é de longe a maior, com capacidade de receber no verão até 1300 pessoas, um número absurdamente maior que qualquer outra estação científica no continente gelado”, afirma o professor.

Até 2024, a China estabeleceu cinco estações de pesquisa na Antártica ao longo de três décadas, demonstrando seu compromisso com a exploração polar. O presidente Xi reiterou a importância de compreender, proteger e utilizar de forma abrangente as regiões polares para contribuir para o progresso da humanidade e a visão de um futuro compartilhado.

Segundo o Professor Mattos, também especialista em geopolítica polar, o estabelecimento da Estação Qinling destaca o protagonismo da China nos assuntos antárticos. Ele também identificou oportunidades de colaboração entre China e Brasil, principalmente em pesquisa científica, sugerindo que tais parcerias poderiam ser mutuamente benéficas e contribuir para o progresso da humanidade.

“Vejo como extremamente positivo qualquer aproximação entre os cientistas dos dois países [Brasil e China] tanto na Antártica como no Ártico. Brasil e China têm um histórico de boas relações, somos parceiros nos BRICS e o Brasil tem na China seu maior parceiro comercial. Importante mencionar que em julho de 2023, o Brasil realizou sua primeira expedição científica oficial ao Ártico, tendo realizado pesquisas no arquipélago norueguês de Svalbard, onde a China também possui uma estação de pesquisas. Se a China aspira uma posição de liderança no Sul Global, precisa abrir mais oportunidades de parcerias para países como o Brasil, especialmente na área científica”, pontuou o professor.

Diante desses desenvolvimentos, o estabelecimento da Estação Qinling não apenas sinaliza a expansão da presença da China na Antártica, mas também apresenta caminhos para uma colaboração internacional aprimorada e exploração científica nas regiões polares, contribuindo para o estabelecimento de uma Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade.

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