Bruno De Conti*
A língua é muito mais do que um mero instrumento de comunicação. Ela é portadora de uma história, de uma cultura, das belezas e dos encantos de um povo. Moldada ao longo dos séculos e transformada por seu uso cotidiano, a língua carrega tradições, mas é viva, construída e reconstruída a cada dia. E no universo das milhares de línguas faladas em todo o mundo, o mandarim tem um espaço particular. Em primeiro lugar, pela sua antiguidade: a despeito das variações ao longo do tempo, atesta-se que a língua chinesa escrita foi criada há mais de 4500 anos. Em segundo lugar, pelo deslumbramento dos caracteres chineses (como não nos emocionarmos com o aprendizado de que o caractere para “bom” provém da junção entre os caracteres para “mãe” e “filho”?). Em terceiro lugar, por ser a língua com mais falantes nativos no mundo, mais de 1 bilhão.
Não por acaso, já em 1946 – ou seja, um ano após sua criação –, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o mandarim como uma de suas línguas oficiais e, em 1973, passou a usá-lo como um dos idiomas de suas Assembleias Gerais. Em 2010, criou o dia da língua chinesa, comemorado todos os anos em 20 de abril, data em que supostamente Canjie teria inventado os caracteres chineses, no ano de 2650 a.C., em um dia em que, segundo a lenda, até os deuses choraram, promovendo uma chuva de grãos sobre a terra.
No Instituto Confúcio da Unicamp, a procura por nossos cursos de mandarim vem aumentando de forma expressiva. Estudantes (de graduação e pós-graduação), professores e funcionários da Unicamp, mas também integrantes da comunidade de Campinas e região que não têm vínculo com a universidade vêm demonstrando interesse crescente no estudo da língua. E entre nossos alunos e alunas, engana-se quem imagina que o perfil seja concentrado em estudantes de literatura ou linguística ou em quem já tem relações prévias com a China. O perfil é extremamente diversificado. Temos estudantes de medicina, interessados em medicina tradicional chinesa; alunos de economia, atentos ao surpreendente processo de desenvolvimento econômico chinês; alunos das engenharias, percebendo que o aprendizado de mandarim lhes abre portas no mercado de trabalho; profissionais de empresas chinesas; e assim por diante.
Em diálogo constante com os Diretores dos demais Institutos Confúcio do Brasil, sei que esta procura crescente pelos cursos não é evidentemente exclusividade da Unicamp. Trata-se de um entusiasmo em relação à China e à cultura chinesa que é disseminado em todo o país. Por motivos históricos, geográficos, políticos e econômicos, a população brasileira sempre teve uma atenção mais voltada à cultura dos países ocidentais – sobretudo Estados Unidos e Europa Ocidental. Mas o extraordinário aumento da importância da China para o mundo – em aspectos múltiplos, que vão desde a economia até o enfrentamento dos problemas ambientais – vem felizmente despertando um desejo generalizado em grande parte dos brasileiros de conhecer melhor este povo tão amável, sua admirável cultura e sua bela língua. Gradualmente, esse processo contribui para o aprofundamento das relações entre Brasil e China, mas também para a configuração de um mundo mais arejado, que respeita a diversidade cultural. O multilinguismo promove o diálogo, a convivência amistosa, os aprendizados mútuos, o entendimento intercultural. Celebremos a língua chinesa e o seu dia!
*Bruno De Conti é professor do Instituto de Economia da Unicamp e Diretor do Instituto Confúcio na mesma universidade.
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