Por Evandro Menezes de Carvalho*
No mês de outubro de 2023 ocorreu, em Pequim, o Terceiro Fórum do Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional. O evento foi uma mensagem de otimismo e trouxe renovada confiança no potencial da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês). Em 10 anos, a BRI se estendeu do continente euroasiático à África e à América Latina com sua rede de corredores econômicos e investimentos em ferrovias, estradas, portos e aeroportos, impulsionando o comércio internacional, a circulação de capital e o intercâmbio de tecnologia e recursos humanos entre os países participantes.
O governo chinês tem feito desse Forum o momento para reunir chefes de Estado e de governo e discutir o futuro dessa nova Rota da Seda com diversos setores da sociedade dos países envolvidos. O Primeiro Fórum do Cinturão e Rota para Cooperação Internacional ocorreu em maio de 2017 e contou com mais de 1.500 representantes de mais de 130 países e 70 organizações internacionais. O Segundo Fórum Cinturão e Rota para Cooperação Internacional ocorreu em abril de 2019 e superou o número de representantes de países e organizações internacionais do fórum anterior. Neste ano de 2023 a BRI conta com mais de 150 países e mais de 30 organizações internacionais que assinaram documentos de cooperação. De acordo com notícias recentes, a BRI geriu 1 trilhão de dólares em contratos.
Na ocasião do Terceiro Fórum, Xi Jinping anunciou oito passos para impulsionar o Cinturão e Rota. O primeiro deles é a construção de uma rede multidimensional de conectividade. Para isto, dentre outras medidas, acelerará o desenvolvimento da Ferrovia China-Europa e buscará construir um novo corredor logístico em toda a região euroasiática, além de uma nova Rota Aérea da Seda. O segundo passo será o apoio a uma economia mundial mais aberta. Para tanto, a China inovará com a abertura de zonas piloto para cooperação no comércio eletrônico da Rota da Seda, expandindo o acesso ao mercado para produtos digitais. O terceiro passo será o apoio a programas de subsistência “pequenos, mas inteligentes” com financiamentos na ordem de 350 bilhões de RMB e um aporte adicional de 80 bilhões de RMB no Fundo da Rota da Seda. O quarto passo será a implementação dos Princípios de Investimento Verde para o Cinturão e Rota com 100 mil oportunidades de formação de pessoas para países parceiros até 2030. Em relação ao quinto passo, destaca-se a proposta de realização da primeira Conferência do Cinturão e Rota sobre Intercâmbio de Ciência e Tecnologia e a apresentação da Iniciativa Global para a Governança da Inteligência Artificial. O sexto passo concentra-se no reforço do diálogo sobre civilizações com os países parceiros da BRI. Dentre as medidas anunciadas, destaco a Aliança Internacional de Bibliotecas da Rota da Seda e a Aliança Internacional de Turismo das Cidades da Rota da Seda. O sétimo passo será o estabelecimento de sistemas de avaliação de integridade e conformidade para as empresas envolvidas na cooperação do Cinturão e Rota. E, por fim, como oitavo passo, o fortalecimento institucional da BRI.
Xi Jinping certa vez declarou que a nova Rota da Seda “é aberta e serve como um ‘círculo de amigos’. (…) Um grande círculo no qual todos os países interessados possam participar.” Afinal, como ele mesmo salientou, “a glória da antiga Rota da Seda mostra que a distância geográfica não é intransponível”. Ele estava certo. Hoje, 21 dos 33 países da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) assinaram declarações de participação na Iniciativa Cinturão e Rota. Na América do Sul, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Uruguai, Venezuela e, mais recentemente, Argentina aderiram à BRI. Brasil, Colômbia e Paraguai não participam formalmente da Iniciativa, mas são beneficiários de investimentos chineses significativos. Se distância geográfica fosse um fator decisivo, a China não seria o maior parceiro comercial do Brasil há mais de uma década e, também, um dos maiores investidores. Mas certamente o Brasil poderia ter maiores oportunidades se decidisse participar desta Rota da Seda. Vale lembrar que os projetos no âmbito da BRI são negociados e acordados por cada Estado tendo em conta as suas especificidades e necessidades. Esta abordagem segue a filosofia da diplomacia chinesa de planejar e executar os projetos em conjunto com o país parceiro e visando benefícios mútuos.
A BRI é, de fato, um esforço positivo na busca de novos modelos de cooperação internacional e governança global. A ordem internacional atual, para promover um mundo economicamente equilibrado e justo, precisa contar com a BRI – sobretudo em um mundo onde são evidentes os sinais de perda de liderança (e vontade sincera) dos países ocidentais em apoiar novos rumos para o futuro da humanidade que permita desenvolver um mundo mais pacífico, inclusivo, diverso e próspero.
Este texto foi publicado originalmente na revista China Hoje. Clique aqui, inscreva-se na nossa comunidade, receba gratuitamente uma assinatura digital e tenha acesso ao conteúdo completo.
*Editor-Chefe da China Hoje. Professor da UFF e FGV. Pesquisador Sênior do Institute for Global Cooperation and Understanding (iGCU), da Universidade de Pequim.
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