Funcionário do Grupo Evergrande, um dos gigantes imobiliários da China, Wang Changyu inscreveu-se como voluntário num programa de alívio à pobreza de seu empregador. Foi então enviado a Bijie, na província de Guizhou, onde viveu a experiência que relata a seguir:
Abril é o mês em que as azaleias brotam em Bijie, uma cidade remota na província de Guizhou, sudoeste da China. Carregando pesadas malas, parti para uma cidade pequena da qual nunca ouvira falar, a uns mil quilômetros de Xi’an. Não eram as belas paisagens que estavam me levando pra lá.
Deixando família e amigos para trás, e trabalhando num projeto totalmente estranho para mim, deparei com muitas dificuldades nos meus primeiros meses na cidade.
O primeiro brinquedo da pequena Min
Trabalhar em Bijie foi uma decisão deliberada da minha parte, mas mesmo assim fui pego de surpresa quando cheguei. Nascido e criado no norte da China, estou acostumado a comer alimentos que têm por base a farinha, e meu paladar não estava habituado a comida apimentada. Mas o povo de Bijie come pimenta e erva de peixe quase todo dia. A sopa deles, feita de legumes em conserva e feijão-roxo, foi um desafio especial.
O povo da cidade é hospitaleiro, mas nos comunicávamos principalmente por gestos nos meus primeiros dias ali, já que eu não compreendia o dialeto local. Rodeada por montanhas ondulantes, a cidade tem uma longa estação chuvosa e fica em altitude elevada. A neblina da manhã sempre me fazia sentir como se estivesse numa espécie de prisão.
No entanto, apesar de minha frustração e saudades de casa, estava determinado a perseverar, sem me importar com as condições, por mais difíceis que fossem.
O Grupo Evergrande desenvolve um programa de auxílio a crianças que foram deixadas pelos pais, crianças carentes e órfãos. O programa recebe doações do país inteiro.
O que mais me impressionou foi uma visita que fiz a uma garotinha chamada Min, no último dia 1º de abril. Junto com alguns colegas de trabalho, fui até a aldeia dela para entregar alguns donativos. Era um fim de semana, portanto Min não estava na escola. A família dela não tem telefone, então tive que fazer contato com um funcionário da aldeia antes de sair. Quando estávamos quase chegando à casa dela, encontramos uma garotinha agachada na calçada, com os braços agarrando os joelhos e a cabeça virada para o outro lado, por timidez.
Ficamos então sabendo que ela estava lá esperando por nós desde que soube que estávamos vindo. Ficara agachada ali durante as três horas que levamos para chegar à aldeia, e não se moveu de lá, mesmo sendo chamada pela família para entrar em casa. Ficamos comovidos ao saber disso, e essa garotinha tímida então nos levou para a sua casa.
Quando lhe entregamos cadernos e lápis, roupas e um ursinho, ela pegou tudo timidamente, mas com evidentes sinais de alegria. Agarrando firme o ursinho de brinquedo, os olhos dela brilharam com as lágrimas, mas ela não disse nada.
Quando estávamos a ponto de ir embora, senti que alguém puxava meu casaco por trás. Virei-me e vi Min com lágrimas nos olhos e ouvi que sussurrava algo que eu não conseguia entender. “Ela perguntou quando é que você vem de novo”, o pai explicou, e contou que o ursinho era o primeiro brinquedo que ela ganhava na vida. Meus olhos também se encheram de lágrimas.
Um ditado chinês diz que um homem não derrama lágrimas facilmente, a não ser que seu coração esteja partido. Min foi um bom exemplo disso. Ela nos ajudou a aprender a aprender que ainda existem muitas crianças como ela, famílias como a dela e pessoas em situações até piores. Nesse momento, compreendi o que significa de fato combater a pobreza. Soube que tinha uma grande responsabilidade, e que precisava seguir adiante, sem me importar com as dificuldades.
Brinde com suco de laranja
A campanha de alívio à pobreza da Evergrande é sustentada por uma legião de pessoas dedicadas à causa. Elas vêm trabalhando junto com funcionários locais e visitando casa por casa, colhendo informações em primeira mão e confrontando os dados com medidas especialmente definidas para a redução da pobreza.
Na região montanhosa de Bijie, a distância entre cada lar costuma ser de várias horas, e geralmente as pessoas fazem o trajeto a pé. As dificuldades de transporte, o clima inclemente, os ataques de cães do mato ou cobras e os deslizamentos de terra são frequentes.
Apesar dessas dificuldades, sempre perseguimos com o melhor dos ânimos nossa meta compartilhada de ajudar as pessoas do local a melhorar de vida.
Lembro de um dia em julho de 2016, quando planejamos uma visita a uma aldeia no meio das montanhas. O céu estava carregado já de manhã cedo, mostrando que uma chuva forte estava a caminho. Mas insistimos em nosso plano original, para que as coisas pudessem andar sem atrasos.
Nosso caminhão viajou por uma estradinha rural por mais de duas horas, e depois disso tivemos que continuar a viagem a pé, pois a estrada terminava em mato cerrado e montanhas muito íngremes. Continuamos sob uma chuva forte por mais umas duas horas e finalmente vimos uma casa à nossa frente. Ao ouvir os latidos de um cão, um homem de meia-idade, magro, veio até a porta de sua casa decrépita, no meio do nada.
Ao saber de nossas intenções, o homem pegou uma garrafa com suco de laranja pela metade para oferecer uma bebida. Mais tarde, ficamos sabendo que a casa dele era tão afastada da cidade mais próxima que ele raramente conseguia ir ao mercado comprar alimentos. O suco havia sido comprado na última Festa da Primavera, e ele se apegara demais a ele para bebê-lo, reservando-o para ocasiões especiais.
Nós lhe dissemos que suas condições atendiam aos critérios de relocação de pessoas pobres, para que pudessem ter uma vida melhor. Ao ouvir a notícia, ficou tão animado que não conseguia parar de sorrir de orelha a orelha.
Devido à longa distância, visitamos apenas uma família naquele dia, e já eram onze da noite quando voltamos ao escritório. Dias depois, soubemos que o homem do “suco de laranja” havia sido transferido para uma nova comunidade residencial fundada pelo Grupo Evergrande, e que até já havia iniciado um negócio próprio. Ficamos todos muito felizes com a notícia.
Toda vez que uma história de sucesso como essa me vem à mente, eu passo a ter uma compreensão melhor do que estamos fazendo para reduzir a pobreza. Estamos mudando a vida das pessoas, e é uma grande honra fazer parte disso.
Por meio de uma pequena mudança na maneira de encarar as coisas, pessoas como eu, trabalhando na linha de frente do alívio à pobreza, podem desencadear mudanças muito significativas na vida de pessoas pobres. Embora nosso trabalho pareça simples, nossas responsabilidades são imensas.
Cajados de bambu
Numa das viagens, a caminho de uma família rural, fomos pegos por um temporal que deixou aquelas estradas de montanha lamacentas e intransitáveis. Depois que um de nossos colegas de trabalho ficou empacado numa estrada perigosa e se perdeu no meio da neblina, Zhang Zhongzhi, um funcionário da aldeia local, conhecedor das condições da região, colocou em risco sua segurança pessoal e foi resgatar nosso colega, conseguindo trazê-lo de volta a local seguro. Ele então cortou varas de bambu e entregou-as a cada um de nós, como cajados, para ajudar a manter-nos estáveis em nossa caminhada de volta. Isso dá uma boa ideia das dificuldades que enfrentávamos em nosso trabalho diário.
Durante todo o processo da campanha de alívio à pobreza, milhares de funcionários do interior como Zhang Zhongzhi não pouparam esforços para trabalhar em favor da causa. Agora, essa vara de bambu virou equipamento básico de todos os meus colegas ao visitarem lares rurais. Deixou de ser apenas uma planta para virar algo que nos conecta aos funcionários do interior e ao público em geral em nosso trabalho nos projetos de redução da pobreza.
A promissora área de Bijie é como um segundo lar para as pessoas do Grupo Evergrande que se dedicam ao alívio da pobreza. Os pratos de erva de peixe e a sopa de legumes em conserva e feijão-roxo agora têm um gosto delicioso, pois se tornaram o sabor da minha nova terra.
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