“A China mostrou ao mundo o sucesso dos seus 40 anos de reforma e abertura”

O presidente do Equador, Lenin Moreno Garcés, fala com exclusividade para a China Hoje
Lenín Moreno Garcés, presidente do Equador

O presidente do Equador, Lenín Moreno Garcés, fez uma visita de Estado à China entre os dias 11 e 13 de dezembro últimos, tendo presenciado, junto com o presidente chinês, Xi Jinping, a assinatura de um memorando de entendimento para a promoção conjunta da Iniciativa Cinturão e Rota, entre vários acordos alcançados.

Em entrevista concedida a China Hoje, o presidente equatoriano apresentou os pontos mais destacados de sua visita: intercâmbio bilateral, defesa do livre comércio e o multilateralismo, luta contra a pobreza, turismo, entre outros assuntos.

China Hoje – Esta é sua primeira visita como presidente do Equador à China e ocorre num momento em que a América Latina dá maior importância à China, e vice-versa. Qual é o grande objetivo desta visita de Estado e como o senhor vê o desenvolvimento futuro da relação bilateral?

Moreno Garcés – Queremos fortalecer ainda mais nossas relações com a China. Procuramos consolidar nossa relação com a China como parceiro estratégico para impulsionar o desenvolvimento conjunto, a fim de cumprir os dois macrobjetivos: posicionar o país como destino de investimentos e abrir mais mercados para colocar nossos produtos, que têm alto padrão de qualidade. Para nós, é essencial difundir as vantagens e incentivos que o Equador oferece a investidores, principalmente em sua seguridade jurídica e política, uma economia em crescimento e um sólido sistema de dolarização. Também estamos fortalecendo nossa produção e indústria.

Com a China, fechamos acordos de cooperação em matéria penal, agrícola, de aviação civil, gestão de riscos e desastres, reconstrução e comércio e investimentos.

Nesta viagem, acompanharam nossa delegação oficial importantes empresários, acadêmicos e representantes de organizações do Equador. No Equador atual, o setor privado é um parceiro estratégico do governo.

China Hoje – O ano de 2018 nos mostrou um mundo no qual o protecionismo e o unilateralismo ganharam espaço em alguns países. A China tem expressado o apoio ao livre comércio e à globalização econômica, assim como um compromisso com uma maior abertura de seu mercado. Qual é a posição do Equador diante desse panorama internacional?

Moreno Garcés – Protecionismo e unilateralismo são fenômenos que nos convidam a refletir além da temporalidade e a considerar as condições mundiais do momento. É preciso entender o desenvolvimento comercial mundial dentro da dinâmica da globalização. As decisões econômicas são tomadas dentro desse processo e, como países latino-americanos, é essencial que procuremos formas de integração. No caso do Equador, aspiramos uma inserção em novas áreas de integração multilateral, tanto em escala regional como internacional. Como governo, consideramos que o país deve aderir a mecanismos focados no fortalecimento das relações comerciais, na integração e na atração de investimentos. Já obtivemos a aprovação do México, Chile, Colômbia e Peru para nos vincularmos como Estado Associado à Aliança do Pacífico, e trabalhamos para uma eventual adesão à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

A comunidade internacional precisa salvaguardar o papel do sistema internacional e especialmente o das Nações Unidas. Apoiamos o multilateralismo e uma ordem de comércio internacional baseada em normas. A globalização é um processo que obriga todos a se reinventarem e atuarem com maior rapidez e pragmatismo. Nessa dinâmica devemos compreender as decisões econômicas de abertura ou protecionismo, que levam a uma reflexão profunda sobre o futuro não só de nossas nações, mas de toda a humanidade.

China Hoje – O senhor acabou de presenciar, junto com o presidente da China Xi Jinping, a assinatura de um memorando de entendimento para a promoção conjunta da Iniciativa Cinturão e Rota. Quais são suas expectativas a respeito? De que modo o Equador pensa participar dessa iniciativa?

Moreno Garcés – As expectativas que temos como país são as mais altas porque somos partidários de facilitar, promover e proteger os investimentos. A produção de nosso país é o esforço de todo um povo para manejar uma economia em benefício da sociedade. Este memorando inicial de entendimento compreende um dos projetos de maior envergadura e importância global. Ao assiná-lo, buscamos uma cooperação articulada para fortalecer parcerias estratégicas no desenvolvimento da conectividade em infraestrutura e finanças.

Estamos empenhados em participar da Iniciativa Cinturão e Rota, e também na ampliação das relações políticas e culturais com parceiros comerciais. O Equador sinaliza âmbitos possíveis na relação entre a China e a América Latina. É preciso destacar que a rota natural para todo esse processo é a marítima, e, portanto, o fluxo de mercadorias que entram e saem de nossos países irá se fortalecer e trazer benefícios às nossas economias.

China Hoje – Desde 2012, China Hoje vem apoiando o Concurso Universitário de Ensaios Escritos em Espanhol, organizado pela Embaixada do Equador na China. Quais são os projetos culturais que o país espera continuar promovendo na China, para que mais jovens chineses prossigam cruzando suas vidas com o Equador?

Moreno Garcés – Para nós é motivo de grande orgulho que o Equador, país pluricultural e de grande diversificação, seja escolhido por milhares de estudantes ao redor do mundo para ampliar sua preparação acadêmica ou realizar atividades profissionais, científicas, turísticas e culturais. Somos um território natural para quem se disponha a explorar e aprender.

Temos alternativas que incentivam os jovens a introduzir-se na cultura equatoriana. Para 2019, por exemplo, planejamos desenvolver quatro eixos específicos, concebidos com base em diretrizes governamentais sobre gestão e indústria cultural: comemorações cívicas, cooperação acadêmica, atividades artísticas e valores culturais.

Há um trabalho crescente de cooperação acadêmica, como a elaboração de uma revista digital com os melhores trabalhos de pesquisa de autoria de destacados estudantes equatorianos em cursos de mestrado, com apoio do Instituto Cervantes e do setor empresarial, e a publicação de estudos acadêmicos sobre o Equador pela Universidade de Changzhou. Também haverá nos museus e universidades do Equador e da China repositórios de línguas ancestrais.

Ampliaremos nossa política de promoção cultural com concertos, cultura, gastronomia, diversidade étnica, turismo, com um ciclo de cinema no Instituto Cervantes e com produtos emblemáticos do Equador, como o chapéu de paja toquilla e a tagua (conhecido no Brasil como chapéu Panamá; já a tagua, ou marfim vegetal, é a semente de uma palmeira comum nas florestas equatorianas utilizada para a confecção de botões e adereços – N.do T.) Além disso, com muito orgulho, anunciamos que obras literárias equatorianas serão traduzidas para o mandarim para incentivar o conhecimento da literatura e de toda a estética equatoriana.

Xi Jinping com Moreno Garcés

China Hoje – A China acaba de organizar em Xangai sua primeira Exposição Internacional de Importações, na qual estiveram presentes o chefe da missão equatoriana em Pequim e várias empresas do seu país. Como o senhor acha que o Equador deve orientar a partir de agora a promoção de seus produtos no mercado chinês?

Moreno Garcés – Nosso governo mantém como aliado principal o setor privado, num trabalho conjunto para impulsionar nossa economia e produção. Sem dúvida, essa exposição em Xangai, considerada a mais importante do mundo, é sempre uma motivação e um desafio para que as empresas equatorianas mostrem seus produtos. O evento foi uma plataforma para um encontro entre empresas chinesas e equatorianas e para a realização de acordos de mão dupla.

As empresas equatorianas encontraram ótimas oportunidades no agronegócio e em alimentos, assim como possibilidades de estabelecer vínculos de distribuição de produtos em grande parte do território chinês. Este evento, assim como outras feiras importantes da China, as missões, as rodadas de negócios e eventos gastronômicos internacionais são as ferramentas de promoção que devem ser utilizadas com maior profundidade para posicionar fortemente os produtos equatorianos neste grande mercado.

China Hoje – O ano de 2018 marca o 40º aniversário da política de reforma e abertura da China, que retirou 740 milhões de chineses da pobreza. Sabemos que seu governo também está travando um combate contra a miséria. Quais decisões tomadas pela China na luta contra a pobreza despertaram interesse em seu governo?

Moreno Garcés – Nós reconhecemos e aplaudimos as políticas que a China tem implementado para o florescimento de sua economia e a redução da pobreza. A China mostrou ao mundo o seu sucesso nesses 40 anos. A ampliação e diversificação de suas relações comerciais, a abertura de mercados e as políticas de assistência social são alguns dos marcos mais destacados de sua transformação. São admiráveis as conquistas para eliminar a pobreza absoluta até o final de 2020 e outros aspectos que coincidem com os objetivos de desenvolvimento e de política exterior do Equador, como o combate às mudanças climáticas e a luta internacional contra a corrupção.

No Equador, enquanto governo, nosso objetivo é implantar políticas públicas que garantam o respeito aos direitos humanos e a atenção à cidadania durante “Toda uma Vida”, nome que batizou um plano de desenvolvimento que estamos levando adiante no país. Encontramos na China uma referência em termos de sua visão estratégica e integral de proteção de direitos e prestação de serviços. Além disso, devemos destacar o importante desenvolvimento tecnológico da China, que, com certeza, tem sido um dos pilares fundamentais para o seu desenvolvimento. No Equador, queremos implantar mecanismos que fomentem o desenvolvimento tecnológico e científico.

China Hoje – Em agosto de 2016, o Equador e a China chegaram a um acordo sobre a isenção de vistos de turista para estadias de até 90 dias. Em 2017, cerca de 30 mil chineses visitaram o país, quase o dobro do registrado em 2015. Qual a importância que o senhor atribui ao turismo chinês?

 

Moreno Garcés – A população chinesa é admirada em nosso país por sua determinação, esforço e capacidade empreendedora. A isenção de vistos de turista para os cidadãos chineses em 2016 orientou-se por nossos princípios constitucionais de mobilidade humana e pelas excelentes relações bilaterais que o Equador mantém com a China.

O Equador e a China assinaram um acordo de isenção recíproca de visto para portadores de passaporte comum, pelo que, efetivamente, foi um estímulo positivo para o incremento do fluxo turístico no Equador, para a entrada de divisas provenientes da China e para o benefício às empresas nacionais. Entre 2015 e 2016, os visitantes provenientes da China aumentaram de 18 mil para 22 mil. Em 2017, entraram 30 mil, e com isso sua contribuição para a nossa economia cresce em importância. Aproveito esta entrevista com China Hoje para convidar os cidadãos chineses para que venham cada vez mais visitar o Equador e todas as maravilhas naturais e turísticas no “país dos quatro mundos”.

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