Hong Kong, 20 anos de prosperidade

Nunca a economia da região cresceu tanto e de forma tão sustentada como nestas duas décadas de reintegração à China, que prenunciam um futuro ainda mais radiante

Logo atrás da floresta de arranha-céus, em pleno coração de Hong Kong, vê-se a construção de uma grande obra redonda como uma torta de massa folhada. Trata-se do West Kowloon Terminus, terminal da ferrovia expressa que ligará Guangzhou e Shenzhen a Hong Kong e reduzirá o tempo do trajeto entre a cidade e o interior do país a menos de uma hora.

Não muito longe dessa estação futurista, outra construção, em forma de cubo, está sendo concluída. Quando abrir suas portas ao público, no final de 2018, Kowloon Oeste estará equipada para acolher espetáculos de ópera tradicional chinesa, cumprindo a vocação deste bairro de centro dinâmico de cultura.

Mais ao norte, no espaço chamado Novos Territórios, uma exposição apresenta as mais recentes tecnologias inteligentes aplicadas a cuidados com idosos, no Parque das Ciências de Hong Kong, o centro do ecossistema de inovação e tecnologias.

Mas esses são apenas alguns dos aspectos que farão de Hong Kong uma coletividade cheia de vitalidade, e deverão aprimorar a imagem da cidade aos olhos de muitas pessoas. A mensagem que a metrópole quer passar ao mundo é que Hong Kong não é apenas um paraíso das compras e da boa vida. Ela tem algo mais a oferecer.

Celebrando o vigésimo aniversário da reincorporação, Hong Kong orgulha-se do progresso alcançado em duas décadas e demonstra grande confiança no futuro.

Economia florescente 

A China voltou a exercer a soberania sobre Hong Kong em 1o de julho de 1997, pondo fim a um período de 150 anos de colonização britânica do território.

Pouco antes da transferência oficial do poder, a cidade mergulhou numa inquietude, e muitos se perguntavam se a economia capitalista que ali havia prosperado poderia sobreviver sob um regime socialista. Alguns setores da mídia ocidental chegaram a afirmar que Hong Kong estava moribunda. Como consequência dessas previsões sombrias, Hong Kong viveu àquela época uma leva de emigração.

Duas décadas mais tarde, porém, é forçoso constatar que Hong Kong não apenas sobreviveu, como ficou ainda mais forte. Os números são eloquentes.

As estatísticas publicadas pelo governo da Região Administrativa Especial (RAE) mostram que Hong Kong teve crescimento econômico estável nestes últimos vinte anos, e seu PIB alcançou os US$ 320 bilhões em 2016 – um crescimento de 81% em comparação a 1997. Em março de 2016, as reservas fiscais de Hong Kong atingiram os US$ 128,27 bilhões, contra US$ 47,55 bilhões de 1997. As reservas de câmbio geradas pela Autoridade Monetária de Hong Kong passaram de US$ 92,8 bilhões em 1997 para US$ 390,5 bilhões em fins de fevereiro deste ano.

O mercado de trabalho demonstrou igualmente uma notável estabilidade nos seis últimos anos, e a taxa de desemprego ficou extremamente baixa. Em 2016, contavam-se 3,8 milhões de empregos assalariados, ou seja, 650 mil a mais que no momento da devolução à China.

A economia de Hong Kong, reconhecida pela sua competitividade , é considerada a mais livre do mundo por várias instituições  internacionais. Oito mil empresas estrangeiras têm escritórios na cidade.

Os habitantes de Hong Kong também batem recordes de longevidade, com uma expectativa de vida de 81 anos para os homens e 87 anos para as mulheres, o que coloca Hong Kong nas primeiras posições entre as economias desenvolvidas.

Por fim, a liberdade econômica de Hong Kong vem sendo reconhecida internacionalmente. A região  figura entre as economias mais competitivas do mundo, segundo o International Institute for Management Development, de Lausanne, Suíça.

O Instituto Fraser, um think tank canadense, concedeu a Hong Kong em 2016 o título de “economia mais livre do mundo”, título já concedido a ela em outros anos, e confirmado também pelo think tank Heritage Foundation de Washington, que considera Hong Kong a economia mais livre do mundo há 23 anos consecutivos. E é efetivamente seu clima particularmente favorável aos negócios que tem feito com que, ano após ano, quase 8 mil empresas estrangeiras ou do interior do país tenham montado escritórios e filiais na cidade, das quais cerca de 3.800 são sedes regionais.

Um país, dois sistemas 

Há um consenso em Hong Kong: o que sustenta o sucesso econômico da cidade é a liberdade de comércio, o estado de direito, a livre concorrência e um sistema fiscal simples. Por outro lado, todos os observadores são unânimes em constatar que a pedra angular da prosperidade e a notável estabilidade de Hong Kong após seu retorno à pátria-mãe e à bem-sucedida implementação do princípio “um país, dois sistemas”, uma criação visionária sem precedentes que foi qualificada de concepção genial pela primeira-ministra britânica da época, Margaret Thatcher.

Zhang Xiaoming, diretor do Escritório de Contato do governo popular central na RAE de Hong Kong, chamou esse princípio de “meio honconguês” durante uma coletiva de imprensa em maio último. “’Um país, dois sistemas’, esse foi originalmente o conceito lançado pelos dirigentes chineses para resolver as questões da devolução de Macau e de Hong Kong”, explicou ele. “Na realidade, trata-se de um conceito de natureza geral, que engloba uma série de princípios e políticas implantadas pelo governo central em relação a Hong Kong. Podemos chamá-lo talvez de princípio de base.”

Foi nesses termos que o governo chinês assinou em 1984 com o governo britânico uma declaração comum sobre a questão de Hong Kong. Em abril de 1990, entrou em vigor a Lei Básica da RAE de Hong Kong. Após sua volta ao seio da pátria-mãe em 1997, Hong Kong entrou numa nova era de sua história, e o princípio “um país, dois sistemas” foi oficialmente posto em prática. Nesse sentido, trata-se de uma prática política nova, de um sistema inédito e de um modelo de governança original, afirmou M. Zhang. “A meu ver, os vinte anos de colocação em prática desse princípio permitem tirar um balanço prático”, e acrescentou: “Foi a melhor solução para resolver a questão de Hong Kong”.

Leung Chun-ying, quarto chefe do Executivo da RAE de Hong Kong, considera esse princípio ao mesmo tempo pragmático e científico. Ele afirma que durante as duas décadas transcorridas o governo central concedeu alta atenção ao desenvolvimento da região, e que “em toda uma série de questões, o governo central e o da RAE chegaram a amplo consenso”.

Como membro do grupo de trabalho que redigiu a Lei Básica da RAE de Hong Kong, M. Leung considera que o elevado grau de autonomia concedido a Hong Kong é um dos aspectos principais desse quadro legal.

Ele lembra a decisão de conservar o dólar honconguês como moeda de Hong Kong, após seu retorno à China. “É uma das políticas do princípio de ‘um país, dois sistemas’. Poucos poderiam imaginar, antes de 1997, que um país pudesse funcionar com duas moedas ao mesmo tempo.”

Segundo Tung Chee-hwa, primeiro chefe do Executivo da RAE de Hong Kong, esse princípio é particularmente importante para Hong Kong. “Nós temos constatado seus benefícios tangíveis desde 1997”, destacou.

Em 2003, a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Severa), uma grave doença respiratória, atingiu Hong Kong, fazendo muitas vítimas, pois os recursos médicos mostraram-se insuficientes para erradicar a epidemia. Assim que o governo central tomou conhecimento das necessidades de Hong Kong, as provisões médicas de urgência foram enviadas em quatro dias. Além disso, o governo central autorizou os turistas do interior do país a visitarem Hong Kong em viagens individuais, recuperando de modo significativo sua economia, abalada pela epidemia.

“A maior vantagem desse princípio de ‘um país, dois sistemas’ é que Hong Kong beneficiou-se de um apoio sólido do governo central”, afirmou M. Tung. Ele declarou também: “Se Hong Kong vai bem, o país irá bem, mas se o país vai bem, Hong Kong irá melhor ainda”. Vendo em retrospecto, só podemos admirar a exatidão de sua previsão.

“Nosso país desenvolveu-se com tamanha rapidez que ocupa o segundo lugar mundial, e muito mais rápido do que eu esperava”

Declarou em outra oportunidade. O princípio “um país, dois sistemas” também assegurou a preservação do modo de vida honconguês e dos valores ancestrais de seus habitantes.

“Nós conservamos nossas instituições legais, nosso sistema judiciário independente, a liberdade, os direitos humanos e da legislação, e isso ficou bem dentro da essência do princípio de ‘um país, dois sistemas’”, afirmou Lam Cheng Yuet-ngor, chefe eleita do Executivo de Hong Kong, que assumiu seu cargo em 1o de julho.

Em conformidade com a Lei Básica da RAE, Hong Kong dispõe de um orçamento independente e o governo central não cobra impostos dentro da RAE. “Ao conservar o sistema honconguês único, conseguimos preservar a prosperidade e a estabilidade de sua economia”, afirmou ela. E acrescenta que, combinando o interesse de “um país” e as vantagens de “dois sistemas”, Hong Kong conserva seu estatuto de centro financeiro, comercial e marítimo internacional.

Ajustes estruturais  

Apesar do desenvolvimento econômico contínuo, Hong Kong também se deparou com alguns gargalos no decorrer de seu desenvolvimento. A estrutura de sua economia não se adaptou às mudanças rápidas do ambiente externo, pois continuou dependente de seus setores tradicionais, finanças e serviços, enquanto o setor manufatureiro não se desenvolvia havia algum tempo. Essa constatação fez o governo da RAE adotar medidas visando otimizar a estrutura econômica de Hong Kong e desenvolver novos setores de atividades, apoiado em suas vantagens específicas. Cultura, inovação e tecnologia são os principais setores que o governo da RAE pretende fazer avançar no futuro.

O bairro cultural de Kowloon Oeste é um conjunto multifacetado de alto nível em plena construção em torno do célebre porto de Victoria. É uma iniciativa ambiciosa do governo da RAE para incrementar o setor cultural da região. Como podemos ler no site oficial desse bairro artístico, a visão que sustenta esse projeto é fazer corresponder os desejos de desenvolvimento a longo prazo das infraestruturas de Hong Kong com seu setor artístico e cultural, propondo programas de qualidade com atrativo mundial, a fim de promover um crescimento harmonioso de seus setores artísticos e criativos, mas também de se tornar um centro que polarize e alimente talentos.

Cobrindo um espaço de 40 hectares, o bairro cultural é um dos projetos culturais mais importantes do mundo. A maior parte dos locais previstos será inaugurada nos próximos cinco anos. Assim que alcançar sua velocidade de cruzeiro, o bairro oferecerá ao mesmo tempo artes, recursos educacionais e espaço público, ou seja, os elementos necessários à produção, apresentação e aprendizagem das artes de espetáculos de todas as disciplinas.

O Centro Xiqu, primeiro desses estabelecimentos dedicados às artes de espetáculos, abrirá suas portas no ano que vem. “Sua missão será preservar e desenvolver a arte tradicional da ópera chinesa no que se refere a espetáculos, com um repertório novo, mas também oferecer programas educativos, de pesquisa e intercâmbio”, explica Lousi Yu Kwok Lit, diretora executiva de artes de espetáculos, no seio da Autoridade do bairro cultural de Kowloon Oeste. “Nos próximos anos, daremos ênfase à formação de jovens talentos e em travar contato com os grupos de ópera tradicionais de toda a região da Grande China.”

Além da promoção de seu setor cultural, Hong Kong está envolvida em uma via de desenvolvimento apoiada em inovação e tecnologia. A fim de estimular esses setores de atividades, o governo da RAE criou em 2015 um novo departamento encarregado de formular as políticas e de coordenar a evolução desse segmento.

Segundo Fanny Law, presidente da empresa Hong Kong Science and Technology Parks Corporation, os setores de inovação e tecnologia tiveram origem em Hong Kong em 1999, e foi depois de 2000 que o governo da RAE aumentou significativamente seu investimento no segmento. Hoje, Hong Kong é um dos cinco primeiros centros de inovação e ciência do mundo, e o que experimenta crescimento mais rápido.

Ela acrescenta que são as capacidades de Hong Kong em termos de atrair talentos e de promover pesquisa e desenvolvimento que constituem suas principais vantagens, e são elas que têm proporcionado o rápido desenvolvimento dessa área.

Graças ao seu ecossistema de inovação e tecnologia já implantado, Hong Kong tem atraído um grande número de instituições científicas e organismos de pesquisa de primeira ordem que estabeleceram filiais na cidade. Em fevereiro de 2015, o instituto sueco Karolinska, uma das universidades mais prestigiosas na área médica, anunciou a montagem em Hong Kong de uma unidade de pesquisa, sua primeira filial no exterior.

Para diminuir sua dependência dos setores econômicos tradicionais da cidade – finanças e serviços – a administração de Hong Kong está  investindo pesadamente em cultura, inovação e tecnologia, com projetos ambiciosos e harmoniosos.

Em novembro do mesmo ano, será a vez do MIT, Massachusetts Institute of Technology, anunciar o lançamento de seu centro de inovação em Hong Kong, o primeiro no exterior dessa universidade no domínio da inovação. O Parque das Ciências, especializado em desenvolvimento de pesquisa, acolhe já 638 empresas, com um total de 13 mil empregados.

Carrie Ling, diretora técnica da plataforma “envelhecer com boa saúde”, é uma das especialistas mais destacadas que o parque atraiu. Professora de uma universidade, assumiu o cargo há dois anos. “A razão que me fez escolher trabalhar aqui é que posso dar minha contribuição às empresas e, ao mesmo tempo, participar da criação de um ecossistema biomédico que criará outras oportunidades de emprego para jovens de Hong Kong”, afirmou. O Parque das Ciências cresceu rapidamente; hoje conta com cerca de 90 empresas biomédicas dedicadas a várias especialidades.

Novas oportunidades

Quanto ao seu desenvolvimento futuro, Hong Kong aposta também na iniciativa “Um Cinturão e Uma Rota” proposta pelo presidente Xi Jinping em 2013 e na construção da zona da baía Guangdong-Hong Kong-Macau (apelidada de “Big Bay”).

Hong Kong reagiu com entusiasmo à iniciativa “Um Cinturão e Uma Rota”. Em agosto de 2016, o governo da RAE abriu um escritório dedicado especialmente às atividades ligadas a essa iniciativa. M. Leung afirmou que Hong Kong deveria agarrar a oportunidade aberta por essa iniciativa, mas também deveria participar da construção da Big Bay, que oferece perspectivas interessantes. Para isso, Hong Kong deve procurar sua integração com o resto do país. Ele destaca ainda que Hong Kong representa uma etapa importante do Cinturão e da Rota: “As empresas de Hong Kong e do interior do país poderão explorar bem suas vantagens específicas, entrando no mesmo barco para seguir adiante”, afirmou.

M. Leung tem por hábito referir-se a Hong Kong como um “superconector”, ou seja, um lugar que ajuda as empresas do interior do país a exportar para o resto do mundo e ao mesmo tempo atrai empresas estrangeiras. “Nossa participação no desenvolvimento dessa iniciativa irá levar-nos a considerar as necessidades do país e as capacidades de Hong Kong”, acrescentou.

Ele trouxe a Pequim em maio uma delegação honconguesa de 29 membros ao Fórum Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional. Após uma sessão temática sobre a conectividade financeira, M. Leung fez um discurso que mostra bem que o governo central conta com Hong Kong para desempenhar um papel importante no financiamento dessa iniciativa. Além dessa iniciativa, a zona da baía Guangdong-Hong Kong-Macau, uma conurbação que irá englobar nove cidades de Guangdong e mais Hong Kong e Macau, oferece outra ocasião de ouro para as empresas de Hong Kong e seus empreendedores.

“Se a reforma e a abertura do interior do país são consideradas uma das asas do desenvolvimento de Hong Kong, a zona da Big Bay será uma segunda asa”, afirmou M. Leung, para destacar a importância desse esquema para Hong Kong.

“Determinar a melhor maneira de participar da construção da Big Bay, esse é o ponto focal de nosso trabalho futuro”, afirmou Jonathan Choi Koon Shum, presidente da Câmara de Comércio Geral da China, uma associação sem fins lucrativos com sede em Hong Kong e que reúne empresas e personalidades do mundo dos negócios da China.

“Há muito tempo, a cooperação entre Hong Kong e Guangdong tem constituído a maior parte dos laços entre Hong Kong e o interior do país. Como as nove cidades de Guangdong incluídas na Big Bay são com frequência chamadas de ‘a usina do mundo’, a participação de Hong Kong é indispensável ao seu desenvolvimento. Para modernizar a ‘usina do mundo’ e cultivar um modelo de desenvolvimento novo, Hong Kong deve comunicar-se ainda mais com o interior do país.”

Na opinião de M. Choi, as cidades da zona da Big Bay deveriam cada uma escolher uma orientação específica, de modo a complementar-se mutuamente. É preciso implantar um desenvolvimento coordenado para evitar a concorrência selvagem. Depois, o papel natural de Hong Kong será cuidar das finanças e dos serviços profissionais.

“Para as pessoas de Hong Kong, Guangdong é um vizinho. As pessoas de ambos os lados da baía compartilham a mesma língua e a mesma cultura. Formamos uma família. Por isso o desenvolvimento da Big Bay é tão importante para o futuro de Hong Kong”, concluiu M. Choi.

São observações que combinam bem com o tema declarado das celebrações do 20o aniversário da devolução de Hong Kong: “Juntos, progresso e oportunidades”.

Assim que os habitantes de Hong Kong derem as mãos com os do interior do país, assim que se lançarem num esforço comum, o futuro tanto de Hong Kong quanto do país inteiro será ainda mais radiante.

 

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