O superávit em conta corrente da China continuou em declínio em 2018, atingindo 0,4% do PIB em 2018, de acordo com o recém-divulgado relatório anual do setor externo do FMI. Isso reflete principalmente na diminuição da balança comercial, impulsionado pelo alto crescimento do volume de importações, e o contínuo aumento do déficit de serviços, impulsionado principalmente pelo turismo, bem como os preços mais altos de certos produtos.
Nos últimos anos, a economia da China tornou-se cada vez mais dependente da demanda doméstica ao invés das exportações. De acordo com os dados mais recentes do Departamento Nacional de Estatística, as vendas à varejo de bens de consumo aumentaram 8,4% no primeiro semestre de 2019, com as vendas online subindo 17,8%.
De uma perspectiva maior o superávit em conta corrente da China caiu “substancialmente” em relação ao pico de 10% do PIB em 2007, refletindo o forte crescimento do investimento, a valorização real e efetiva da taxa de câmbio, a fraca demanda nas principais economias avançadas, as atualizações tecnológicas na fabricação, e um aumento do déficit de serviços, segundo relatório do FMI.
Em uma avaliação geral, a posição externa da China em 2018 estava amplamente alinhada com nível consistente com os fundamentos de médio prazo e políticas desejáveis, o que representa uma mudança em relação às avaliações anteriores “moderadamente mais fortes”. Gopinath disse que alcançar um reequilíbrio externo duradouro exigirá um controle gradual das políticas macroeconômicas expansionistas e a adoção de novas reformas estruturais.
A taxa real efetiva de câmbio da China em 2018 se valorizou em cerca de 1,4% em relação a 2017, impulsionada pela valorização da taxa de câmbio efetiva nominal, disse o relatório, acrescentando que a avaliação do balanço externo indicou que a taxa real de câmbio da China está no mesmo nível garantido pelos fundamentos e políticas desejáveis. A China registrou uma pequena entrada líquida de capital de 30 bilhões de dólares americanos em 2018, em comparação com saídas líquidas de capital de 103 bilhões de dólares em 2017.
Sobre a economia da China, Gopinath disse que é importante para a China continuar seu eixo em direção a um crescimento mais impulsionado pela demanda doméstica, para assegurar que haja menos dependência do crédito e encorajar o crescimento do setor privado.
O relatório mostrou que os superávits em conta corrente em 2018 permaneceram centralizados na zona do euro, impulsionados pela Alemanha e Holanda, e em outras economias avançadas como Cingapura e Coréia do Sul, enquanto os déficits permaneceram persistentes na Grã-Bretanha, Estados Unidos e algumas economias de mercado emergentes como a Argentina e a Indonésia.
Após a crise financeira global, os superávits e déficits gerais da conta corrente caíram drasticamente de cerca de 6% do PIB global em 2007 para cerca de 3,5% em 2013. Desde então, os desequilíbrios da conta corrente global caíram ligeiramente para 3% do PIB mundial em 2018, segundo o relatório.
Os riscos da configuração atual dos desequilíbrios externos são “geralmente contidos”, pelo menos à curto prazo, uma vez que os déficits em conta corrente e as posições devedoras estão amplamente concentrados nas economias avançadas que emitem divisas de reserva, disse Gopinath. As tensões comerciais até agora não afetaram significativamente os desequilíbrios da conta corrente global, mas estão pesando sobre o investimento global e o crescimento, induzindo todos os países a trabalharem cooperativamente no assunto.
“As recentes ações comerciais bilaterais não tiveram impacto perceptível sobre os desequilíbrios globais, já que os desequilíbrios externos refletem políticas macroeconômicas que afetam a poupança e o investimento agregados”, disse Gopinath. Destacando o impacto das tensões comerciais, ela disse que as tarifas mais altas têm sido associadas ao aumento dos preços para os consumidores e têm corroído a confiança das empresas e atrapalhando as correntes de fornecimento globais.
Gopinath disse que o FMI também descobriu que os efeitos das taxas de câmbio sobre os fluxos de comércio são “relativamente moderados” à curto prazo, especialmente em economias onde o comércio é amplamente faturado em dólar.
“Isso significa que os benefícios da flexibilidade da taxa de câmbio em termos de reequilíbrio externo ou amortecimento da economia para os choques da taxa real efetiva de câmbio podem ser limitados no curto prazo”, disse ela. “Isso aponta para a necessidade de complementar a flexibilidade da taxa de câmbio com outros instrumentos políticos cíclicos”.
Países com excesso de déficits em conta corrente, como Grã-Bretanha e Estados Unidos, devem adotar ou continuar com a consolidação fiscal favorável ao crescimento, enquanto aqueles com excesso de superávits em conta corrente, como Alemanha e Coréia do Sul, devem usar espaço fiscal para aumentar o investimento público em infraestrutura e crescimento, disse Gopinath.
A economista observou que tanto os países deficitários quanto os superavitários deveriam se concentrar em atacar as fontes subjacentes macro e estruturais de desequilíbrios, em vez de recorrer a ações comerciais distorcidas, exigindo políticas estruturais cuidadosamente adaptadas e sequenciadas. “Os países devem trabalhar em conjunto para reviver os esforços de liberalização e fortalecer o sistema multilateral de comércio baseado em regras que serviu bem à economia global nos últimos 75 anos”, disse ela.
Sem Comentários ainda!