Conheça o legado das Olimpíadas de Inverno de Pequim 2022

Evento carregou a tocha para futuras gerações
Créditos: Xinhua/Cao Can

Por Lv Yan

Após 19 dias de intensas competições, os Jogos de Pequim 2022 chegaram a um gran finale na cerimônia de encerramento em 20 de fevereiro no Estado Nacional em Pequim, capital da China, primeira cidade a abrigar tanto as Olimpíadas de Verão quanto as de Inverno. A tocha olímpica agora vai para as cidades italianas de Milão e Cortina d’Ampezzo, anfitriãs dos Jogos de Inverno de 2026.

Apesar dos desafios trazidos pela pandemia, o comitê organizador dedicou-se a promover uma Olimpíada de Jogos de Inverno bem organizada, segura e esplêndida, com uma abordagem verde, inclusiva, aberta e limpa, em estreita cooperação com o Comitê Olímpico Internacional (COI) e outros parceiros, afirmou Cai Qi, presidente do Comitê Organizador de Pequim 2022.

Desde a eclosão da COVID-19, os Jogos de Pequim 2022 foram o primeiro evento global multiesportivo a seguir a programação de praxe, mesmo com a implantação de toda a gama de contramedidas em relação à pandemia, afirmou Cai. Ele destacou também que os Jogos terão um efeito duradouro no crescimento local e na promoção dos esportes de inverno no país, inaugurando uma nova era no desenvolvimento global dos esportes de inverno.

Transpiração e inspiração

A China participou com uma equipe de 388 membros, 177 deles atletas. Foi a maior presença da China em todos os Jogos de Inverno de que participou, e também o melhor resultado do país em Olimpíadas de Inverno — terceiro lugar na tabela de medalhas com nove ouros, quatro pratas e dois bronzes, na lista encabeçada pela Noruega com 37 medalhas, das quais 16 de ouro.

Mas as Olimpíadas são muito mais do que medalhas.

Apesar de Claudia Pechstein, aos 49 anos de idade, ter terminado em último lugar nos 3 mil m para mulheres em 5 de fevereiro, a legendária patinadora alemã de velocidade ainda ostentava um sorriso no rosto. “Estou feliz e orgulhosa pelo que consegui. E isso me faz sorrir”, contou à Agência de Notícias Xinhua. O recorde que ela estabeleceu foi de outro tipo — tornou-se a mulher mais velha a participar de uma Olimpíada de Inverno, e a primeira a competir em oito edições.

A esquiadora americana de estilo livre Ashley Caldwell conquistou o quarto lugar no esqui aéreo feminino em 14 de fevereiro. Embora não conseguindo lugar no pódio, a atleta de 28 anos de idade, que já participou de quatro olimpíadas, abraçou e congratulou-se com sua rival, a chinesa Xu Mengtao, que também participava de sua quarta olimpíada. “Taotao! Campeã olímpica! Estou orgulhosa de você!” disse Caldwell a Xu, chamando-a carinhosamente por seu apelido.

Xu finalmente realizou seu sonho de levar para casa o cobiçado ouro olímpico no aéreo feminino. Uma ruptura nos ligamentos do tornozelo direito a havia impedido antes de alcançar esse novo patamar. Após a vitória, Xu caiu no choro e recebeu um longo abraço de Caldwell.

Yohan Goutt Gonçalves é um esquiador alpino do Timor Leste, país localizado numa ilha ao norte de Austrália com uma temperatura média de 28 graus. Era o único representante de seu país nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim. “Acho muito interessante ver as pessoas descobrindo os esportes de neve. Uma boa parte do mundo sequer conhece o que é neve. Portanto, agora que temos pelo menos a oportunidade de transmitir os eventos pela TV, talvez possamos despertar uma nova paixão nas gerações mais jovens. Todo país merece estar representado nesses eventos internacionais”, declarou. Essa foi sua terceira olimpíada.

“Encerrando essa experiência olímpica incrivelmente memorável”, foi a postagem no Twitter da dançarina no gelo americana Evan Bates, com tags para a cerimônia de encerramento e os Jogos de Pequim 2022. “É muito óbvio que os atletas estão felizes e, na verdade, mais do que felizes. Estão extremamente satisfeitos com os locais, as vilas, os serviços oferecidos, e com a segurança dentro do loop fechado, nessas circunstâncias tão difíceis”, observou o presidente do COI, Thomas Bach.

Não foram só os muitos atletas que afirmaram ter passado um tempo maravilhoso, pois os dados de visualização mostraram que as audiências sentiram o mesmo diante da tela. Segundo Timo Lumme, diretor administrativo dos serviços de TV e marketing do COI, cerca de 2 bilhões de pessoas ao redor do
mundo assistiram aos jogos. “As contas de mídias sociais olímpicas do IOC ultrapassaram 2,7 bilhões de engajamentos na Pequim 2022. E, veja, não estou nem falando das muitas outras mídias e plataformas”, acrescentou Bach, observando que a tendência ao envolvimento digital com os Jogos também quebrou recordes.

Segurança em primeiro lugar

“O espírito olímpico só conseguiu alcançar esse brilho porque o povo chinês preparou o cenário da maneira excelente que estamos vendo – e de forma segura”, declarou Bach em seu discurso na cerimônia de encerramento.

Com mais de 10 mil atletas, jornalistas e credenciados dos quatro cantos do planeta chegando a Pequim, os organizadores enfrentaram o grande desafio de abrigar uma edição segura da Olimpíada, empregando um sistema de gestão de loop fechado que cobriu todos os locais da Olimpíada — áreas de chegada e partida, transporte, alojamento, alimentação e competição, além das cerimônias de abertura e encerramento. As pessoas envolvidas nos Jogos foram transportadas em veículos especialmente projetados e trazidas até o loop fechado para treinar, competir nos eventos e trabalhar.

O loop fechado teve como características principais os testes diários de ácido nucleico e os ônibus conectando as diferentes instalações, e com ele os casos de COVID-19 declinaram de um pico de 26 casos em 2 de fevereiro para zero em 13 de fevereiro, com apenas um caso positivo reportado desde 16 de fevereiro.

“Era algo essencial; precisávamos proteger uns aos outros e saber quem testava positivo — e quem não”, disse o esquiador do Timor Leste Goutt Gonçalves, referindo-se às medidas de prevenção. Christophe Dubi, diretor executivo do COI nos Jogos Olímpicos, elogiou os esforços da China para promover Olimpíadas livres de vírus. “Realmente, nenhum esforço foi poupado, nenhum detalhe deixou de receber atenção a fim de manter todo mundo seguro. O grau de sofisticação da operação foi algo sem precedentes”, declarou.

“Daqui a apenas 12 dias, teremos a inauguração das Paralimpíadas de Inverno de Pequim 2022. Continuaremos fazendo nosso melhor na preparação das Paralimpíadas para garantir que ambos os jogos tenham o mesmo esplendor”, disse Cai em 20 de fevereiro.

Tendência a criar uma bola de neve

No último mês de outubro, cerca de 346 milhões de pessoas – cerca de um quarto da população do país – haviam participado de esportes de inverno desde a bem-sucedida candidatura de Pequim em 2015 para abrigar as Olimpíadas de Inverno de 2022, segundo dados da Agência Nacional de Estatísticas.

“Com mais de 300 milhões de pessoas agora envolvidas nos esportes de inverno e o grande sucesso dos atletas chineses, o legado positivo dessas Olimpíadas de Inverno está assegurado”, disse Bach, exaltando o evento como “uma grande realização, sem paralelo”.

As olimpíadas estimularam uma evolução em Pequim, agora na condição de cidade de duas olimpíadas. Pequim 2022 aproveitou a base dos Jogos de Verão de 2008, e deu continuidade ao esforço de ser verde e sustentável, declarou Xu Yongjun, professor da Escola de Gestão de Recursos de Informação na
Universidade Renmin da China, à Beijing Review. Na sua opinião, todas essas “heranças” precisam ser
muito bem registradas, conservadas e utilizadas a fim de promover o espírito do movimento olímpico, bem como o desenvolvimento da China.

O governo já tem planos para transformar os locais em instalações de treinamento para atletas,
centros esportivos ou salas destinadas a treinamento e exposições públicas.

“Locais e infraestrutura de esportes compõem a herança tangível dos Jogos, mas o capital humano tem impacto ainda maior. A ideia de envolver e educar crianças e jovens nos Jogos Olímpicos e nos valores olímpicos vai bem além dos esportes”, Dubi declarou.

Pequim 2022 pode ser vista ainda como uma oportunidade de desenvolver o setor de esportes de inverno, promover estilos de vida saudáveis, melhorar o senso de responsabilidade dos residentes, comunicar a cultura chinesa ao restante do mundo e incentivar a economia de baixo carbono, declarou Patrick Wing Chung Lau, professor da Universidade Batista de Hong Kong, em seminário online em 17 de fevereiro.

De 2015 a 2020, o porte total do setor de neve e gelo da China cresceu de 270 bilhões de yuans (cerca de US$ 42 bilhões) para 600 bilhões de yuans (cerca de US$ 94 bilhões). A expectativa é que esse número cresça até 1 trilhão de yuans (cerca de US$ 157 bilhões) por volta de 2025, segundo relatórios da Administração Geral dos Esportes da China.

Este artigo foi publicado originalmente na 39° edição da Revista China Hoje. Inscreva-se no nosso Clube do Leitor, receba gratuitamente uma assinatura digital e tenha acesso ao conteúdo completo: https://www.chinahoje.net/clube-do-leitor/

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