Um americano aposentado e sua viagem pela literatura chinesa

Aos 76 anos de idade, Dennis Delehanty estuda chinês na Universidade George Mason
O Clube de Leitura de Chinês no Instituto Confúcio da George Mason foi formado no final de 2014

“Nada, nem montanhas nem oceanos, pode separar ovos que tenham metas e visões compartilhadas”. Dennis Delehanty, um aluno de 76 anos de idade do Instituto Confúcio da Universidade George Mason, citou esse antigo provérbio chinês ao narrar sua história de aprendizagem do chinês e sua paixão pela literatura chinesa.

Delehanty trabalhou como diretor dos Assuntos Postais no Departamento de Estado dos EUA. Diplomata aposentado, também tem um nome chinês. Dai Danyi, que literalmente significa “um coração corajoso que serve à justiça”.

Conexão antiga                                          

Antes de ir para a faculdade na década de 1960, Delehanty já aprendera russo, francês e espanhol. Mais tarde, decidiu iniciar o estudo de chinês. “Crescendo nos subúrbios do sul de Boston, fui seduzido pelos irresistíveis mistérios da língua chinesa”.

Delehanty em visita a Xangai, em 1984

Infelizmente, sua faculdade no Maine não oferecia cursos de chinês. Mesmo assim, Delehanty continuou determinado e matriculou-se num curso noturno no Cambridge Center para educação de adultos, perto da Universidade Harvard. Logo descobriu que aprender chinês não era tão fácil assim, e então iniciou uma jornada irregular e muitas vezes frustrante, no estudo do chinês.

Em 1983, Delehanty visitou pela primeira vez a China – a nação cujo mistério arrebatara seu coração –, e estudou chinês durante um curto período na que é hoje conhecida como Universidade de Estudos Internacionais de Xangai. Nesse breve tempo ali, criou uma obsessão pela cultura chinesa. Ao longo das décadas seguintes, uma dúzia de viagens de negócios à China lhe deu incentivos linguístico prático para os seus contínuos esforços de dominar a língua. Essas experiências fizeram de Delehanty uma testemunha da transformação da China, que passou de país das bicicletas no início da década de 1980 ao moderno país de arranha-céus dos das de hoje.

Sua conexão coma China ficou ainda mais forte quando sua filha decidiu estudar chinês e em seguida ganhou uma bolsa do Instituto Confúcio na Mason para estudar a língua na Universidade de Língua e Cultura de Pequim. Depois que ela se formou em 2011, ele continuou em Pequim, onde trabalhou até 2015. “Minha filha começou a aprender chinês por acaso, não por influência minha”, Delehanty enfatiza. “A China é como um ímã para os membros da minha família”.

O prazer da leitura

Em 2012, Delehanty aposentou0se do Departamento de Estado americano, encerrando uma carreira de 17 anos no governo. Começou então a frequentar aulas semanais sobre assuntos chineses, promovidas pelo Instituto Confúcio na Mason. No final de 2014, esse contato informar levou à formação de um Clube de Leitura de Chinês no instituto, que em meados de 2016 ostentava alunos experientes em chinês e capazes de ler e discutir obras literárias de nível avançado, de autores chineses apreciados, como Lu Xun, Lao She, Ba Jin, Shen Congwen, Mo Yan, Liu Zhenyun, Bi Feiyu e Su Tong. Delehanty disse? “Nessas obras-primas clássicas aprendemos muito sobre a brilhante cultura chinesa e o caráter de seu povo, marcado pela bondade e pela tenacidade”.

Delehanty ainda lembra da primeira vez que leu uma obra original de literatura chinesa. “Um dia, numa livraria de Pequim, estava apenas folheando e vendo que livro poderia escolher. Então um livro com ilustrações chamou minha atenção e decidi comprá-lo. Só quando entrei no avião é que me dei conta de que o livro era As Estranhas Histórias de Lio Zhai, uma coletânea de cerca de 500 histórias escritas por Pu Songling, da Dinastia Qing (1644-1911).

Delehanty: “mais respeito mútuo nas relações”

“A literatura chinesa é muito interessante. Não se resume às Quatro Grandes Novelas Clássicas – Viagem para Oeste; O Bandoleiro dos Pântanos; Romance dos Três Reinos e Sonho da Câmara –, há também um grande número de obras modernas e contemporâneas, aponta Delehanty. Em certo sentido, Lu Xun é o pai da moderna literatura chinesa. É como um William Shakespeare da literatura do país. Também gosto de ler obras de Lao She e Ba Jin, mas meu favorito é Cidade de Fronteira, de Shen Congwen.” Fluente em sete idiomas, Delehanty continua lendo as novelas clássicas. “Quando converso com pessoas chinesas, não consigo captar realmente tudo o que estão querendo dizer. Mas a literatura chinesa oferece uma via para ler a mente dos chineses, e então consigo compreender de maneira natural a história e o pensamento de seus personagens. Foi essa a sensação que tive ao ler Noite Fria, de Ba Jin.”

Na visão de Delehanty, os encontros quinzenais do grupo para decifrar os segredos culturais, linguísticos e literários dos contos em chinês são cheios de desafios e de alegrias. “Essa experiência nos trouxe maior compreensão da China e da mente chinesa por meio da literatura moderna – mesmo para aqueles do nosso grupo que têm vivido na China ou estudado chinês por várias décadas”, destaca Delehanty.

Pessoalmente, Delehanty sente-se grato pela oportunidade que o Instituto Confúcio tem proporcionado a alunos avançados de chinês por meio do grupo de leitura. Ele sugeriu que o Instituto Confúcio na Mason estude a possibilidade de promover o modelo desse grupo de leitura em outros Institutos Confúcio dos Estados Unidos e no resto do mundo, à medida em que mais ocidentais embarquem na maravilhosa aventura de aprender a língua mais falada no mundo.

Vínculos com o mundo

No mundo de hoje, a China desempenha papel cada vez mais importante, disse Delehanty à China Hoje. “Para a China é vital comunicar-se e criar vínculos com o mundo. Portanto, aprender chinês nos Institutos Confúcio é uma ótima ideia”.

Delehanty valoriza muito esse projeto de longo prazo de ensinar chinês a pessoas do mundo inteiro e espera que no futuro, o Instituto Confúcio possa oferecer um currículo mais desafiador, implementando cursos que abranjam desde a língua chinesa à literatura, cultura, filosofia e história, para atender às necessidades dos alunos mais avançados. “Se um dia for oferecido um curso sobre filosofia, vou incentivar meus amigos a frequentá-lo”.

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