No final, Trump ajudou a China

Evandro de Menezes Carvalho explica como o governo de Trump ajudou a economia chinesa

 

Texto originalmente publicado no portal O POVO.

Os esforços dos EUA para conter a ascensão chinesa não são de hoje e se intensificaram quando notaram que não iriam submeter a China aos seus interesses hegemônicos e nem convertê-la em um país à imagem e semelhança das democracias ocidentais capitalistas.

Isto diz mais sobre como o Ocidente lida como mundo do que como a China resiste ao Ocidente. A despeito desta crescente competição entre os dois países, a disputa pelo mercado global parecia seguir as “regras do jogo” internacional. Mas a política externa do governo Trump significou uma ruptura radical com este paradigma.

A doutrina “América em Primeiro Lugar” ultrapassou os limites aceitáveis da boa diplomacia na defesa dos interesses nacionais para se converter numa máxima mobilizadora e legitimadora de uma retórica e ação agressivas ao maior parceiro comercial dos EUA.

Além de ter dado início à chamada guerra comercial e tecnológica contra China, Trump ampliou a tensão com os chineses ao ordenar, no ano passado, o fechamento do consulado da China em Houston, alegando proteger a propriedade intelectual e a privacidade dos estadunidenses, e ao acusar a China pela pandemia de Covid-19 que ele chamava de “vírus chinês”. Se a intenção era isolar a China do mundo, Trump obteve o resultado contrário. E, o que é mais inusitado, com a sua própria ajuda.

No governo de Obama, a política “Pivô para Ásia” deixou como herança a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês) que visava conter as ambições chinesas. Trump decidiu retirar os EUA do TPP, deixando o caminho aberto para China avançar com o maior tratado de livre comércio do mundo: a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, em inglês) firmada em novembro de 2020 e que soma um terço da população mundial e 29% do PIB global.

Fiel à sua política externa isolacionista, Trump se indispôs com frequência com líderes europeus. Enquanto isso, em dezembro do ano passado, a União Europeia firmou um acordo com a China para abrir o mercado chinês aos investidores europeus, consolidando ainda mais a tendência da região euroasiática ser a mais dinâmica do mundo.

Segundo estudo do britânico Centro de Pesquisa em Economia e Negócios, a China será a maior economia do planeta em 2028, antecipando em cinco anos a previsão anteriormente feita. Sustentam que a razão desta antecipação foi o modo como a China lidou com a pandemia. Mas não há como negar que o Trump deu a sua contribuição.

Por Evandro Menezes de Carvalho.

Professor da FGV Direito Rio e da Faculdade de Direito da UFF.

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