Fórum China-Brasil discute novo capítulo na cooperação sino-brasileira

Evento virtual contou com diplomatas e políticos, entre representantes dos dois países

O Centro das Américas do Grupo de Comunicações Internacionais da China (CICG) e a Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro realizaram o “Fórum China-Brasil: intercâmbios e aprendizagens mútuas” em 30 de novembro, de forma virtual. O evento contou com a presença de diplomatas, políticos, representantes de think tanks e da mídia de ambos os países para trocar vivências e opiniões sobre o tema “Compartilhar experiência da governança e criar um novo capítulo de cooperação sino-brasileira”.
Moderado pela diretora do Centro das Américas do CICG, Li Yafang, o ciclo de discursos foi aberto pelo presidente do CICG, Du Zhanyuan, que definiu os intercâmbios interpessoais e culturais como uma força motriz para o desenvolvimento de longo prazo das relações sino-brasileiras.
Reforçando a importância da cooperação entre os dois países, Du afirmou que as relações China-Brasil encontraram um novo ponto de partida em 2022, citando as reeleições de Xi Jinping como secretário-geral do Comitê Central do PCCh e de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente brasileiro, em outubro.
O embaixador do Brasil na China, Marcos Bezerra Abbott Galvão, destacou a importância das relações entre os dois países, dando atenção para o cenário das relações internacionais. Galvão citou efeitos da crise da globalização desde 2008. “Nossas relações bilaterais têm sido marcadas pela estabilidade e progresso continuado, e nunca andaram para trás”, afirmou ele. “A China sabe que pode confiar no Brasil e vice e versa”, complementou.
O ex-ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, argumentou que a cooperação entre os dois países ainda se funda na área comercial e sugeriu novas áreas que poderão ser exploradas em conjunto. “A sustentabilidade e as ações de descarbonizarão desenvolvidas pela China também podem receber cooperações brasileiras”, exemplificou ele.
Reconhecendo que as relações comerciais entre os países são assimétricas, Nunes ainda complementou que a China tem fragilidades, como a segurança alimentar e importações de combustível, que o Brasi tem suprido.
O representante especial do governo chinês para assuntos da América Latina, Qiu Xiaoqi, exemplificou casos positivos das relações bilaterais nos últimos anos, como a exportação de imunizantes da China contra a Covid-19 para o Brasil. “Embora suas histórias, culturas e condições nacionais sejam diferentes, o entendimento entre os povos é forte”, afirmou.
Yu Hongjun, ex-subchefe do Departamento Internacional do Comitê Central do PCCh, levantou propostas para as relações bilaterais e ressaltou que “a diversidade leva as civilizações a fazerem intercâmbios, para assim aprenderem umas com as outras e se desenvolverem pelas aprendizagens mútuas”.
Durante o discurso, Yu ainda desejou felicitações à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva e relembrou uma visita do presidente eleito à China, descrevendo-o como “um velho amigo do povo chinês”.
Representeando iniciativas de cooperação na área da educação, o coordenador de Relações Internacionais da FGV Direito Rio, Rodrigo Vianna, destacou ações da FGVpara promover a parceriacom a China, tais como os intercâmbios de estudantes para o país e a tradução para o idioma chinês do site da FGV e do livro sobre o curso de Direito da FGV.
Considerada o terceiro maior think tank do mundo, a Fundação Getúlio Vargas ainda oferece disciplinas que apresentam a economia e cultura chinesas para os seus alunos. “Queremos difundir ideias de como pretendemos estabelecer o nosso projeto, que quer cultivar esse tipo de relação e se aproveitar da dinâmica, potência e criatividade que a China está nos proporcionando neste momento”, complementou Vianna.
Chai Yu, diretora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais, também demonstrou a relevância do Brasil nas pesquisas realizadas no país oriental. “Nós temos o mesmo desejo de reduzir a distância entre ricos e pobres e alcançar a prosperidade comum. Portanto, a esse respeito, a China e o Brasil podem se apoiar mutuamente e aprender um com o outro”, declarou ela.
A diretora também afirmou que “estamos passando por uma situação complexa de competição entre as potências do mundo” e a aliança entre China e Brasil serve como exemplo para manter a paz nas relações internacionais.
Em seguida, foi a vez do ex-correspondente da rede Globo, Marcos Uchôa, reforçar as expectativas para as relações entre Brasil e China. “Nesse momento, na cena internacional, creio que Lula seja um dos poucos líderes capazes de construir portas. Existem novas rotas da seda econômicas e devemos abrir novas rotas de comunicação que tenham a suavidade da seda. Para isso, precisamos saber falar e ouvir”, analisou o jornalista.
Uchôa aproveitou para chamar atenção a “dois problemas urgentes e sem fronteiras” que deverão ser enfrentados juntos pelos países: a luta contra o vírus da Covid-19 e as ameaças ao meio ambiente. “Acho que nunca foi tão fácil se constatar que temos um planeta, um mundo e uma raça”, resumiu.
Finalizando a série de discursos, Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do Centro Brasil-China da FGV Direito Rio, relembrou momentos notáveis que marcaram a história da cooperação entre China e América Latina, ressaltando que economistas preveem que o comércio entre o país asiático e o bloco poderá ultrapassar os US$ 700 bilhões até 2035.
“Teremos a partir de janeiro de 2023 uma nova oportunidade para o aprofundamento da cooperação sino-brasileira”, analisou Carvalho, que se mostrou otimista com a política externa do próximo governo brasileiro, envolvendo a reforma das organizações internacionais, fortalecimento dos BRICS e das relações Sul-Sul, por exemplo.
“A política externa brasileira para a América do Sul precisa ser redimensionada de forma a considerar a presença da China, seja como competidora no comércio, seja como uma aliada em iniciativas de desenvolvimento sustentável e de infraestrutura para a região que beneficie a todos”, complementou o professor.
A moderadora, Li Yafang, encerrou o evento comemorando os posicionamentos frutíferos sobre as relações entre China e Brasil e ainda ressaltou que o Centro das Américas manterá sua missão original de fortalecer o intercâmbio e a comunicação com os países latino-americanos, especialmente o Brasil, por meio da “Beijing Review”, da “China Hoje”, das redes sociais multilíngues e do Fórum.

Por Lucas Almeida

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